terça-feira, 31 de dezembro de 2013

E quem é que nunca desejou morar em um abraço?

“Obrigada por não desistir de mim", ele me diz em tom melancólico apesar de feliz, apertando ainda mais seu corpo contra o meu e segurando minha mão como nunca havia feito. Ouço a angústia misturada ao alívio em sua voz e, enquanto me viro de frente para ele, busco encontrar o seu olhar. “Como se eu realmente pudesse”, devolvo-lhe sorrindo. Enrosco meus braços em seu pescoço e meu olhar agora está fixo no dele. Sinto que preciso eternizar esse momento e aproximo meus lábios desenhados em um meio sorriso trêmulo dos seus lábios tão bem riscados em seu rosto bonito, e o beijo ternamente. Fecho os olhos por um momento na tentativa de conter as lágrimas que eu jurava terem secado desde que ele partiu sem me dar esperanças de retorno. Mas as lágrimas me fogem aos olhos e eu choro e isso me faz sentir que estou viva. Ele voltou para me resgatar do poço de solidão que eu mesma cavei durante todo esse tempo. Sorrio e afasto meus lábios dos dele, abominando toda e qualquer lembrança amarga que as lágrimas poderiam me trazer neste instante. Não, são lágrimas de felicidade, de alívio por não ter morrido, de gratidão por ele ter me salvado de mim mesma. Sussurro um “obrigada” com a voz entrecortada e ele me aperta contra seu peito e beija-me na altura da testa. Eu, que sempre me senti perdida, naquele instante percebi que ele era o lugar onde eu tantas vezes quis estar. E desejei morar para sempre em seu abraço. 

domingo, 29 de dezembro de 2013

Se dói comigo?


Desculpe-me, antecipadamente, por ocupá-la tão tarde. Precisava falar. Precisava chorar sobre o ombro de alguém, mas as lágrimas não descem mais. Tenho a impressão de ter secado. Não sei se conseguiria traduzir o que sinto agora e seria vão ter uma crise de verborragia em mais um e-mail. E você também não vai querer me ouvir. Eu sei. É que me sinto completamente inabitável, no momento. E espero que não seja absurdo te pedir um espaço para que você me guarde por algum tempo aí dentro de você. Não consigo segurar todo esse caos sentimental agora. Você entende? Porque não consigo me compreender. Se possível, me traga uma camisa de força. Me interna em alguma clínica que cure dor de amor. Eu quero que minha alma fique nua, pela primeira vez. E eu não me importo que os vizinhos vejam. Eu quero gritar também e não vou ligar, se acabar preso. Eu quero me rasgar inteiro e sair correndo para qualquer lugar que não seja aqui dentro de mim. Mas toda vez que eu corro de mim, eu sempre acabo caindo no mesmo buraco onde a dor mora. E não há gole de cachaça barata ou cigarro vagabundo que dê jeito. Eu me afogo dentro da dor, dentro do copo, dentro dessa vida que quase não parece ser minha. Ninguém vê quem sou nem o que sinto. Eu sou uma máscara, porque ela entranhou em mim e eu não consigo mais tirar. E toda vez que consigo ser feliz, acabo sendo um feliz triste. E toda vez que eu ganho da vida, acabo ganhando triste. E toda vez que eu fico rodeado de pessoas, a máscara brilha num sorriso que não é meu e eu continuo triste. Será que acabei por me tornar uma caricatura mal feita de mim mesmo? Porque o que sou não condiz com o que as pessoas vêem. Nem com o que vejo em mim. Acho que me perdi quando amei. Levaram-me de mim e eu não consigo me encontrar em lugar nenhum dessa casa, dessa cidade, desse país, do mundo... Eu tenho me esforçado para ser parte, juro para você, mas acho que essa metade que ficou comigo é o todo que sou. E vou ter que me conformar com ela, se eu quiser ser feliz um dia. E é esse conformar que eu não consigo. Eu ando para a frente, mas meus pensamentos ficaram no passado. E toda vez que eu acho que dei um passo certo, eu percebo que caí em mais uma pegadinha da vida, onde eu acabo tropeçando nas minhas lembranças e caindo sobre a minha dor outra vez e outra vez e outra vez... Você sabe como é que se colocam pontos finais em nossas histórias? Ensina-me, um dia. A minha vida só possui vírgulas e reticências. E eu preciso expurgar alguns maus sentimentos da minha memória. E cá estou eu falando demais, querendo demais, te pedindo demais, te enchendo demais... Segura a minha dor por mim. Só um pouquinho. Só por hoje. Deixa-me morar em você? Prometo não bagunçar nada, se você prometer me guardar em ti. 

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É difícil explicar o que senti depois de ler todas essas palavras que pareciam sair do monitor e me atingir de uma forma tão pungente que me fez sentar por alguns instantes e chorar. Queria ter você aqui deitado no meu colo para que eu pudesse te ouvir e fazer carinho nos seus cabelos e enxugar suas lágrimas que a essa altura estariam misturadas com as minhas e poder lhe dizer “calma, meu querido, calma”. A verdade é que eu nunca sei o que dizer quando você me fala de você, dos seus medos, do seu não-saber-o-que-sentir, porque eu sinto o mesmo que você (ou nada sinto?), mas confesso que fico melhor por saber que não estou só. Por um momento, olho em volta e a desolação do meu quarto nessa madrugada insone e sufocante me faz querer estar em qualquer lugar que não seja eu. Eu deixo você morar em mim se me deixar ficar em você. Tudo o que tenho é a minha solidão e o desejo de ter você aqui para encaixar seus excessos nos meus vazios e, quem sabe assim, nós nos completaríamos. Talvez nós dois só precisemos mesmo de calma, talvez nós só precisemos um do outro porque não podemos viver em nós mesmos. Como fugir dessa tempestade de angústia que deságua dentro de nós? Você se sente só e eu entendo. Você não sabe o que sentir e eu sinto o mesmo. Você se afoga em mágoas e eu tento te salvar a vida, mas sinto me afogar também. Você se sente perdido e eu seguro a sua mão porque estou perdida também. Podemos seguir junto esse caminho incerto que a vida desenhou no nosso chão. Será que chegaremos a algum lugar nessa viagem que fazemos dentro de nós? Eu não sei. Mas eu posso te fazer companhia. Você não está só. Eu tenho vazios suficientes para te abrigar em mim. E se eu precisar extravasar os meus excessos, você me deixa transbordar em você.
Sobre os pontos finais, eu tenho mania de vírgulas e me calo sempre em reticências. E quantas palavras não ditas cabem nelas, eu não sei. Acho que nossa história é meio que sem fim. Continuemos a escrever, meu querido, que a escrita é a forma mais discreta de sangrar.
Desculpe se minha resposta não lhe dá o conforto de que tanto precisa nessa dor que é ser você.  Sei que poderia me derramar tanto quanto você se derramou, mas a verdade é que eu estou vazia.

Dani Lusa

Este texto, tão doído para mim, foi escrito com o meu querido Cadu, que entende e que sente o que eu sinto. Sim, eu gosto de me doer com você.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Amar o perdido

Houve um tempo em que eu acreditava em eterno, até que eu te perdi.
Te perder foi a pior coisa que já aconteceu em toda a minha vida. Deixou meu pobre coração totalmente confuso. Esquecer você é algo impossível, mesmo eu querendo.
Sinto saudades do tempo em que te tocar era a melhor coisa do mundo, porém do nada, senti você indo embora, deixando apenas saudade.
Tudo o que vivemos juntos ficou para trás.
Todos diziam que o nosso amor não duraria. Mostramos que, mesmo com a distância, nosso amor continua firme e forte e ele é lindo, mesmo com nossos defeitos.
Tudo o que eu quero, ou melhor, que eu preciso, é você aqui.
Não consigo me conformar com o porquê de o destino ter nos separado. Um amor tão grande e bonito sendo separado num piscar de olhos.
Amar o perdido é difícil, mas preciso para continuar feliz. Amar o perdido é chorar sozinha e baixo, para que ninguém escute. Amar o perdido é simplesmente amar aquilo que foi seu e que um dia, quem sabe, ainda será. 


Por Marianna Nardello Buche, aluna e escritora querida minha. 

domingo, 15 de dezembro de 2013

Embriaguez (senti)mental

A ebriedade dessa madrugada insone invade meu quarto e tonteia meus pensamentos que se perdem e tropeçam e caem em cima de você. Por que você ainda está aqui? Já pedi que saísse, que fosse embora tão rapidamente quanto chegou na minha vida, que me deixasse em paz e só. Ao meu lado na cama apenas um espaço vazio e no lençol branco ainda estão as marcas do vinho que bebemos e depois rimos e nos abraçamos e nos amamos tão ardentemente pela última vez. Pensei que incendiaríamos.

Você deixou marcas no lençol e na minha alma.

Num ímpeto de loucura e saudade e fúria eu arranco o lençol e me aperto contra ele — ainda sinto o seu cheiro — e o jogo no canto do quarto numa tentativa de afastar de mim as lembranças que você deixou aqui e que agora me fazem perder a noção do tempo e me tiram a sobriedade. Em vão.

Sento na cama e tomo um gole de vinho que esquenta minha boca que antes guardava os beijos seus e que desce rasgando a minha garganta tão cheia de nós e os desata. Finalmente consigo chorar. A cada gole de vinho vou me desfazendo de nós e me sentindo mais livre de você. Preciso desatar a gente, nos desfazer. Não entendo mais o que sinto, não sei mais o que pensar.

Embriaguez (senti)mental.

O cheiro do álcool anestesia meus pensamentos, o vinho me embriaga e amortece a minha dor. Meu coração acelera e eu transpiro você, é como se eu estivesse te expulsando de mim pelos poros. Você escorre pela minha pele assim como suas mãos deslizavam pelo meu corpo molhado nas noites quentes de outono quando você quase me consumia e meu suor se misturava ao seu e nossas peles quase se fundiam num misto de amor e loucura e paixão.

Eu absorvi você.

Tomo mais um gole de vinho e choro mais um pouco. Tudo gira fora e dentro de mim e meus pensamentos esbarram com você e caem a todo instante. E eu caio também.

A taça que seguro agora com as duas mãos está quase vazia e eu estou quase me esvaziando de você. Preciso de um banho para me lavar de ti. A água que toca minha pele me lava e leva embora os vestígios daquilo que um dia foi o nosso amor. Eu deito e choro e durmo tendo a solidão como companhia e ela me abraça como um dia você fez.


Bebi sua saudade a noite inteira e estou com ressaca de você. Sinto vontade de vomitar o que restou de você em mim. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Dos nós que nunca foram laços

E eu que achei que você nunca tivesse saído de mim, de repente te vejo do lado de fora.

Quem foi que trancou a porta do peito meu? Você saiu e eu nem percebi, você volta e surpreende. As janelas da minha alma estão abertas, consegue pular? Vejo pelo vidro meio embaçado os seus olhos de tristeza que se prendem ao meu olhar de saudade e isso me dói, uma dor que consome cada pedaço de mim que restou de sua partida.

Você entra.

Cara a cara, eu e você. Quanto tempo você esteve lá fora, por que demorou para voltar ao abrigo que sempre foi seu? Talvez você tenha dado tempo demais a nós dois, o tempo muda as pessoas e eu mudei também. Acho que mudei mais do que deveria, acho que você voltou porque não encontrou morada melhor, porque sabia que as portas do meu existir estariam sempre abertas para você, que sempre teve as chaves do meu ser. Você me olha e finge não ver, você me toca e eu finjo não sentir, eu te sinto e finjo não estar.

Eu suspiro e quase te mato, você respira e tenta me reviver.

Estranhei os olhos em que sempre me reconheci. Afinal de contas, meu bem, foi você ou fui eu que mudei? Sua pele encosta na minha e o arrepio agora parece ser de temor por perceber que trago sepultado no peito o meu sentir. Sua boca quente toca meus lábios tão frios e eu me congelo porque foi assim que aprendi a me amortecer e não mais sentir o que me seria vital e que causaria minha morte se acaso me faltasse. Você me faltou e eu morri.

Quem foi que desatou a gente? Se é que um dia houve nós. 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Me diz

Meu bem, eu te quis.

E como eu te quis. Tentei, fiz de tudo para te fazer feliz. Desenhei meus passos junto aos seus, tracei planos que se cruzavam com os seus, tive tantos sonhos contigo mas você me acordou e isso doeu. Seu adeus me dilacerou e eu sangrei todos os dias, parecia que eu fosse morrer e não morria, eu precisava viver mas não vivia, eu queria te sentir e não podia. O que acontece com as palavras que nunca são ditas,

o que foi que eu te fiz?

E quando eu curei minhas feridas e cicatrizei suas lembranças, quando eu me refiz sem os pedaços que você levou de mim, eis que você volta e me desconstrói de novo e abre minhas cicatrizes e me faz sangrar como antes me fez e eu penso que vou morrer toda vez que você me toca, me olha, me abraça, me fala, eu quase morro,

por um triz.

Você me bagunça de um jeito que fica difícil organizar, não consigo me achar, não sei mais o que pensar. Você chega perto de mim e o seu tom me descompassa e me balança e eu tropeço nas minhas certezas que se misturam com as suas lembranças e eu caio de cara na saudade e me perco no meio da nossa confusão. E é então que eu percebo que ainda te quero, que eu sempre te quis mesmo quando eu jurei pra mim que não mais te queria, mesmo quando eu lhe disse que tudo bem, que passou, que chega, que acabou.

Te quero mais do que sempre quis.

E eu entendo que não adianta fugir porque meus caminhos são sem saída, me sinto presa a você. Quem foi que marcou no meu destino os passos seus? Não sei, moço, só quero ser feliz. E você, o que quer de mim?

Me diz, meu bem, me diz.


Publicado originalmente na Confraria dos Trouxas.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Das coisas que eu queria explicar

Eu não sei como explicar, mas vou tentar. Acho que foi o seu olhar — tão bonito, tão marcante, tão forte a ponto de prender o meu. Pode ter sido o seu sorriso — tão sincero, tão bem desenhado, tão radiante a ponto de me tontear. Ou foi o seu jeito — tão tímido, tão rápido, tão desajeitado a ponto de me desajeitar também. Na verdade, foi o seu abraço — tão forte, tão bom, tão imenso que me fez perder a noção de mim. Não sei, moço, eu não sei exatamente o que me prendeu a você. Só sei que agora estou aqui, presa, imóvel — e sem pressa de sair. Deixa eu morar no seu abraço? Rabisco seu nome nas minhas incertezas, desenho seus olhos na minha saudade, vejo o seu sorriso em todos os cantos da minha calmaria. Acho que você combina com o meu caos. Será que você pode me organizar? Vejo a imagem de nós dois que vai dançando na minha mente desde que acordo até a hora de dormir, isso quando não aparece nos meus sonhos. O que isso significa? Você sabe me dizer? Será que você nos vê também? Eu não sei mais o que escrever para explicar o que sinto por você, moço, porque você me deixa confusa. Como explicar o que nem eu entendo? É tudo meio estranho desde que te conheci, não estou me reconhecendo. Não sei mais o que estou sentindo, não sei mais o que estou dizendo, não sei. Mas esteja por perto quando eu descobrir. Do amanhã? Não consigo prever. Do amor? Não sei dizer. De nós? Não sei o que vai ser. Quer fazer parte das minhas confusões? Ainda não sei que lugar você ocupa no meu espaço. Eu só quero saber o que você fará comigo quando eu estiver em você. Faça alguma coisa, moço, porque eu não sei o que fazer com você em mim. 


Texto publicado originalmente na Confraria dos Trouxas.


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Você

Vejo o céu azul
e lembro dos seus olhos
Vejo as estrelas no céu
e lembro do seu sorriso.

Vejo as rosas vermelhas
e lembro dos seus lábios
Vejo seu corpo
e lembro da mais bela escultura.

Vejo seu amor
e lembro de mim
Vejo meu amor
e lembro de você.


(Por Murilo Barth, aluno e poeta meu).

sábado, 2 de novembro de 2013

Lareira




Há algo que eu preciso lhe dizer, mas não consigo explicar. Há coisas que eu quero te contar, mas não sei que palavras usar. Vejo a imagem de nós dois que vai dançando na minha mente desde que acordo até quando eu me deito para dormir e, não satisfeita, ela ainda aparece nos meus sonhos. O que significa isso? Você sabe me dizer? Será que você nos vê também?

O inverno começou ontem e congelou em mim as lembranças de nós dois. Foi nessa época, há um ano, que vivemos o melhor do nosso amor. Aliás, era amor? Você me dizia que sim e eu concordava com um beijo, mas hoje eu já não sei dizer. Lembra de quando nos deitávamos diante da lareira e você me abraçava e me aquecia mais do que o próprio fogo? Você me queimava, me consumia, me reduzia a cinzas toda vez que me amava. E, feito fênix, eu renascia para você me matar de novo. Você era meu fusível, meu combustível, a causa da minha morte e a minha fonte de vida. Até que você sumiu. E eu senti que havia morrido definitivamente.

Foi difícil quando acordei e não te vi mais ao meu lado. Para onde você foi? Nunca consegui arrumar a bagunça que deixamos na frente da lareira. Ainda estão lá os cobertores, as taças, a garrafa vazia do vinho que nos aqueceu ainda mais, os travesseiros, minhas roupas, nossos cheiros, nosso suor. Nunca consegui arrumar a bagunça que você deixou em mim. É tudo meio estranho desde que você se foi. 

Será que eu devo lhe mostrar o que eu achei? Será que eu devo lhe contar o que eu vejo? Será que eu posso lhe dizer que você ainda me queima? Será que você foi para sempre? Ou será que está voltando? Será que eu renascerei um dia? Será que eu ainda sei ser sem você? Eu pensei que seria sua para sempre, mas acho que estava enganada. O eterno nunca nos pertenceu.

Você, que sempre me queimava, de repente me congelou. Hoje, nem mesmo a lareira é capaz de me aquecer, de acabar com o frio dessa casa, de tirar o inverno que invadiu a minha alma. Cadê você pra me acender? 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Obrigada por não ler

Ignore o que vou dizer, eu só preciso escrever. É a única forma que encontro de não sufocar com as palavras que tiram a minha paz, que bagunçam-me por dentro. Eu só preciso que elas saiam de mim e encontrem um pedaço de papel onde possam repousar — e morrer sem serem lidas. A escrita pacifica toda essa confusão que as palavras me causam. Eu escrevo para me salvar de mim.

Eu só queria lhe dizer que eu ainda penso em nós, precisava contar o que sinto, mesmo depois de tanto tempo desde que você partiu. Sei que é uma questão de se acostumar com a sua ausência, mas como se eu não consigo nem me acostumar comigo?

Foi naquela madrugada insone que você voltou a me atormentar. Fechei o livro que me contava como eram os finais felizes e desejei ter um, também. “Como esperar por finais felizes se eu nem sequer tenho começos?”, pensei e ri de mim mesma. Lembrei de quando você me falava sobre o amor, dos laços, dos nós, de nós. O silêncio deixado pela ausência da sua voz me chamando pela madrugada me deixa ainda mais só. Acho que o pior silêncio é aquele que nos faz ouvir os próprios pensamentos. Estendi a mão e liguei o rádio, que sussurrou o nosso blues preferido. Chorei. Tudo à minha volta me trazia você e eu não tinha mais como fugir. Desliguei o rádio e os pensamentos. Pedi que o silêncio tivesse compaixão de mim e me deixasse em paz, que levasse você para longe, que calasse a sua voz que ainda ecoa entre essas paredes que parecem rir de toda a minha paranoia. Chorei. Apaguei a luz e a escuridão me envolveu, assim como fez a solidão quando seus braços me deixaram.

Obrigada por não ler.  Estou bem melhor agora. 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Queimemo-nos

A ebriedade daquela madrugada me torturava a cada segundo que se passava. O silêncio que tomou meu quarto em chamas — porém tão frio  me fez imaginar a perda daquilo que jamais ostentei ter ganho, e sobretudo, a possibilidade de se tornar vitalício um amor sem sal, sem açúcar  sem nada. Perderam-se por entre as confusões mentais pelas quais eu passo diariamente todos os direitos e deveres que me foram impostos para levar uma relação estranhamente desamorosa por algum tempo.

A verdade é que eu não sei lidar.

As palavras que por puro impulso escorrem por entre meus dedos sempre serviram como meu ponto de fuga. Quem nunca fugiu zigue-zagueando as vírgulas e se despediu a cada parágrafo? Foram inúmeras as vezes em que falei dos meus amores com uma pitada de ódio, até porque a própria vida tem seus momentos de escuridão. Embriaguez mental.

Enche-se o copo com dois litros de alma gelada e tomam-se os corpos com o líquido mais quente que existe. Sua frieza quase me congelava, seu fogo sempre me consumia. E o quarto continua em chamas — mas gelado sem você.

Bebi sua saudade, tomei nossas lembranças, quase me afoguei no vômito daquilo que um dia foi o nosso amor. Embriaguei-me de você outra vez. Tudo em volta gira e me traz você, tudo o que tenho é o que você não levou quando se afastou de mim deixando-me apenas com a esperança de que um dia voltaria. Tem noção do quão ridículo me senti vestindo-me apenas com esperanças? Você desnudou meus sentimentos e me despiu de todo e qualquer amor próprio. Agora, tudo o que desejo é que esse fogo me consuma junto com as lembranças de tudo o que um dia foi nosso, de tudo o que ainda me prende a nós.


(Texto escrito com Guilherme Latorres (@inaptidao) que sabe dar às palavras um ar de encantamento).

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Do que já não posso mais lembrar

Hoje eu me lembrei do que já deveria ter esquecido. Acordei de sobressalto e chamei pelo seu nome, mas meu grito ecoou no silêncio da casa vazia e me fez sufocar o desejo de ouvir a sua voz. Mas, sabe, acho até que já me acostumei com a sua ausência. A saudade é que insiste em chamar por você, em querer você aqui, em querer tê-lo na nossa cama. Eu já nem lembro mais do seu sorriso lindo, da cor dos seus olhos castanhos, do jeito como você me olhava e me dizia coisas bonitas de amor, de como você apertava meu queixo e me olhava e me beijava tão lentamente. Eu me esqueci de tudo isso. Eu nem me lembro mais.

Pedi para não ir, você não me ouviu. Disse para ficar, você não respondeu. Perguntei-lhe o que seria de nós, mas com um beijo você calou a minha voz. E o nosso amor emudeceu. E eu lhe disse que silenciar também é dizer. Você virou as costas e saiu da nossa casa, da nossa história, da minha vida. Você saiu e fechou a porta, mas esqueceu de levar algumas fotografias, algumas lembranças, um pouco de todo esse amor que ficou aqui em mim. Mas eu só percebi depois, meu bem, que o amor que eu lhe reservei não foi o bastante para nós dois. Agora, todas essas coisas que você não quis me fazem companhia.

Já que a solidão é tudo o que me resta, eu quero ficar inteiramente só. Eu já me acostumei a esquecer, já me acostumei comigo mesma e ninguém mais. Por isso, precisei me desfazer dos seus retratos que enfeitavam os vãos da estante, que guardavam meus olhares, que causavam meus sorrisos. Recolhi todos eles e os coloquei na caixa junto aos planos que eu havia feito para nós dois. Peguei tudo o que era nosso e escondi de mim mesma. Eu preciso esquecer o que as lembranças insistem em me mostrar. Quanto tempo faz?

Tudo que vai, precisa ir de vez. Tudo que fica, precisa ir também. Tudo de ti e tudo de mim, nada mais de nós. De mim, você teve tudo. Em mim, de ti restou nada. O problema, meu bem, é que ser nada também é ser alguma coisa.

Tudo que fica, deixa vontade. Tudo que vai, deixa saudade. Mas as minhas vontades desistiram de você e a minha saudade quase não te sente mais. 


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Infinito

Não, eu não sabia o quanto você gosta de me ver dormir... Que bonito isso de ser a definição de paz de alguém. Você é minha calma e meu caos, sabia? Sinto-me seguro e perturbado ao seu lado, tudo ao mesmo tempo. Acho que esse não-saber-ao-certo-o-que-sentir é amor.

Desculpe-me se te assustei hoje pela manhã, eu tive um pesadelo. Por um instante, tudo parecia perdido, até que eu encontrei o seu olhar. Eu não sei exatamente o que sonhei, só sei que acordei com medo. Muito medo. Medo do meu passado que me assombra, do meu presente instável, do meu futuro duvidoso. Sim, meu amor, não há como delimitar o tempo, eu sei. Mas eu me preocupo. Hoje, estamos aqui. Mas, e amanhã? E depois? Não se sabe. Você conhece bem as minhas manias, já está habituada às minhas paranoias, entende meus medos. Eu não consigo simplesmente me deixar levar.

— Eu seguro a sua mão.

Segure a minha mão e me abraça? Me abraça e me aceita, do jeito que eu sou. Me abraça e deixa eu ficar em você, porque eu já não caibo em mim. Ah, meu amor, deixa eu morar no seu abraço? Seu abraço me dá a segurança que preciso para seguir por esses caminhos que a vida vai desenhando no nosso chão. No seu abraço eu me sinto mais forte, maior, eu me sinto infinito. Você também sente isso, eu sei. E as nossas imensidões se encontram e se delimitam pelo contorno dos nossos corpos envoltos num abraço apertado. Sim, meu amor, somos atemporais. Não importa onde, não importa quando, nós dois existiremos porque estamos um dentro do outro, presos em um abraço. Me abraça forte, que minhas fraquezas não resistirão. Me abraça lentamente, que minha pressa se vai. Me abraça delicadamente, que minha pele se encontra com a sua. Me abraça intensamente, que meus olhos buscam sentido nos seus. Me abraça, me aceita, me abraça e não me solta mais, porque eu quero me sentir infinito sempre com você.

(Resposta a "Atemporal")

Atemporal

Já lhe disse o quanto gosto de me sentar à beira da cama e velar o seu sono? Eu amo observar seus olhos fechados, seu rosto sereno, sua respiração compassada num ritmo lento e tranquilo. Adoro passar a mão de leve em seus cabelos, no seu rosto, tocar seus lábios. Seu sono é sempre tão calmo, tão bonito de se olhar. Ver você dormir é a minha definição de paz.

Mas, hoje, você acordou de sobressalto e me encarou apreensivo. Pela primeira vez em todas essas noites de vigília, você me pareceu assustado, com medo. Vi nos seus olhos sempre tão calmos o caos instaurado. O que quebrou a sua paz? Parece que você se perdeu dentro de si. Segurei firme suas mãos e tentei te trazer de volta, mas você tinha olhos de saudade. Para onde você foi? Você se perdeu no passado, no presente, no futuro. Onde estamos agora? O problema é querer delimitar o tempo, como se isso fosse possível. O tempo é enquanto, é quando, é sempre, é nunca. Ah, meu amor, não se preocupe com o tempo. O infinito não depende só de ser, depende também de estar. Enquanto estivermos um dentro do outro, seremos infinitos. E nós somos atemporais, meu bem.

Foi então que você me abraçou forte e chorou, por mais que tentasse evitar as lágrimas.  Por um instante, você sentiu que éramos infinitos e eu pensei que fôssemos um só. Não há tempo que nos defina, não há espaço que nos separe. E eu chorei com você. Não sei lidar com essas tristezas repentinas que batem, machucam, fazem chorar. Ah, meu amor...

Calma, está tudo bem agora. Deite-se. Eu vou me deitar ao seu lado e te abraçar até você dormir. Segurarei sua mão quando você acordar. Não tenha medo. Eu estou aqui, eu sempre estive, eu sempre estarei. Vamos dormir e sonhar, meu amor, porque os sonhos também nos fazem infinitos.



segunda-feira, 29 de julho de 2013

No espelho

Vi pelo espelho do canto do meu quarto quando você foi embora. Não tive coragem de te olhar de frente. Você me deu as costas também, lembra? Doeu ver você se virando e saindo pela porta da frente e deixando para trás nossos planos, nossos sonhos, eu.

Eu vi pelo espelho quando você se afastou de mim. Por um momento, vi o seu rosto junto ao meu novamente. Lembra de quando eu me olhava no espelho e você se aproximava e me abraçava e me dizia o quanto eu estava linda e como nossos olhos sorriam e como nossos lábios se tocavam e do quanto nos amávamos? Mas, dessa vez, apesar de nossos rostos estarem dividindo o mesmo espelho, você estava distante de mim. Você tinha olhos de adeus, meus olhos eram de saudade. Seus lábios não foram capazes de dizer o que eu tanto queria ouvir. Nosso amor emudeceu e agora a saudade fala mais alto.  O seu “adeus” ainda ecoa na casa meio vazia, o seu silêncio ainda ecoa nos meus ouvidos, você ainda ecoa dentro de mim. Você foi embora, mas nunca saiu daqui. 

Você disse adeus como se os seus lábios nunca tivessem ficado presos nos meus. 
Você me olhou como se nossos olhos nunca tivessem ficado presos no mesmo olhar. 
Você se afastou como se nossos corpos nunca tivessem ficado presos no mesmo suor. 
Você me deixou como se nunca tivesse desejado ficar comigo.

Vi, mesmo sem olhar, você indo embora. Senti, mesmo sem tocar, seu rosto pela última vez.  Disse, mesmo sem falar, “adeus”.

Encostei-me na parede quando você fechou a porta, não suportei tanto pesar. Olhei-me de perto no espelho e uma lágrima tocou sua superfície, aprisionando nele as lembranças de nós dois. 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sonho

Sabe, eu poderia acordar antes de você só para te ver despertar abrindo os olhos devagar e bocejar despreocupadamente, todas as manhãs. Queria poder aproximar você de mim e acarinhar o seu rosto para desejar que o seu dia fosse tão lindo quanto o seu sorriso ao acordar. Seu sorriso combinaria muito bem com a primeira réstia que entra pela janela do meu quarto sem cortina. Acho até que o seu sorriso iluminaria muito mais do que os raios de sol. Você seria a minha aurora.

Sabe, eu poderia passar horas e horas apenas te olhando. Gosto da ideia de me deitar ao seu lado na cama, apoiar meu queixo com as mãos e te olhar como se isso pudesse mantê-lo sempre ao alcance dos meus olhos. Eu retrataria o seu rosto como se fosse um pôr-do-sol que meus olhos não cansam de admirar. Você seria o meu entardecer.

Sabe, eu poderia passar a mão nos seus cabelos até você adormecer, todas as noites. Penso que deitar você no meu colo, bagunçar os seus cabelos sempre já tão bagunçados e observar seus olhos se fechando devagar seria minha nova definição de paz. Eu não dormiria só para poder te ver por mais tempo. Você seria a minha insônia.

Sabe, eu poderia fazer de todos esses momentos nossas pequenas eternidades. Eu poderia transformar você em uma fotografia. Poderia te guardar na letra de uma canção. Poderia te ver em todos os lugares para onde eu olhasse. Eu queria poder te prender no meu olhar, na minh'alma.

Mas, sabe, eu não posso.

Porque eu sonho todas as noites com alguém que eu nem sequer conheço e acordo todas as manhãs procurando por alguém que não existe. 

sábado, 20 de julho de 2013

Perdida

De repente, eu me vi aqui nesse lugar, sozinha. Não sei como cheguei nem como vou sair. Estou perdida. É um lugar triste, vazio, estranho, sombrio. Um lugar abandonado, esquecido, perdido. Não vejo saída alguma, socorro, eu não consigo me encontrar aqui! Há retratos antigos meus pendurados nas paredes, mas nenhum deles se parece comigo, nenhum deles mostra como eu realmente sou. Essa que vejo não sou eu. Por que eu não me veem como realmente sou? Será que mais alguém pode ver isso que eu vejo, a verdade? Será que alguém consegue entender que eu não sou assim como nessas fotografias tão antigas e tão cheias de truques que escondem tantas imperfeições? Deus do céu, será que alguém pode me ajudar a entender o que está acontecendo aqui? Eu ouço vozes que dizem que esse lugar é alegre, cheio, lindo, iluminado. Estão loucas! Elas dizem que sim, que há muita luz e muita beleza aqui, mas — Deus do céu! — elas sabem o que dizem? As pessoas estão lá fora, como podem dizer que esse lugar é lindo? Talvez a fachada seja bonita. As paredes são pintadas, eu vi. Parecem que tentam esconder algo feio, disfarçam imperfeições, impedem de ver a verdade. É tudo fachada, não acreditem no que os seus olhos veem. Ouçam: esse é o pior lugar em que já estive. Acho que estou presa, é tudo tão confuso aqui dentro, não entendo coisa alguma, não sei o que sentir, não sei o que pensar, não sei o que fazer, socorro. Acho que vou enlouquecer.

Não aguento mais ficar presa aqui dentro. De mim.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Das cartas envelhecidas

Tijuana, Baja California, 30 de maio de 1989.

Olá.
Finalmente, posso lhe escrever sem que as lágrimas caiam de meu rosto e borrem a tinta no papel a cada palavra que sai da ponta desta caneta que tão tremidamente se prende à minha mão.
Eu quis escrever antes, acredite. Mas eu não pude, entenda. Doía demais pensar em você, lembrar de nós. Foi preciso desatar os laços, nos desfazer. Eu desfiz nós e isso me doeu. Doeu em você também? Ainda dói um pouco, confesso. Mas acho que eu já me acostumei a essa dor, sabe? Ou a dor se acostumou comigo e agora não me faz mais chorar, não sei. Acho que a dor me amorteceu um pouco. Às vezes, parecia que haviam me arrancado o coração e, mesmo assim, eu continuei vivendo. Foram dias estranhos, dias parecidos comigo. Tenho a sensação de que não dormi durante todos esses meses. Mas, mesmo assim, eu acordei.
Hoje eu acordei e vi o sol dessa manhã não-mais-tão cinza de primavera. As estações do ano são muito estranhas aqui, sabe. Demorei a me habituar a esse clima, sobretudo a toda essa mudança. Eu gostava mais do mês de maio quando era outono. Aqui é tudo ao contrário, às vezes fico meio perdida. Sobretudo ao cair da tarde ou nos dias chuvosos. Mas a gente se acostuma, né? A gente precisa se acostumar com as horas que passam, com os dias que se arrastam, com as estações que mudam, com as chuvas que não caem, com o tempo que é sempre tão paradoxal. No fim, a gente acaba se acostumando com as ausências, também. A vida é, na verdade, um eterno acostumar-se.
De uns dias para cá, eu tenho sentido menos. Hoje, de novo, acordei te amando menos e me amando mais. A dor que havia me amortecido está passando aos poucos, estou voltando a me sentir. Somos velhas conhecidas, a dor e eu. Talvez seja por isso que eu consigo lidar com ela.
Primeiro, eu senti muito. Depois, eu senti falta. Agora, eu sinto mais nada.
Se você me perguntar como eu estou, sinceramente eu não saberei dizer se estou bem ou mal. É bem provável que eu diga apenas que as coisas estão indo. Porque é isso que as coisas fazem na vida, elas vão. Elas precisam ir. Eu estou indo, também.
Espero que você sinta a minha falta tanto quanto eu não sinto a sua.
Cuide-se sempre.

Alguém. 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Tão imenso, tão vazio

O papel em branco à sua frente, o copo de café esfriando ao seu lado, as ideias se criando e crescendo e se perdendo em sua mente. Não conseguia pensar nem escrever nem ler nem ser. Faltavam-lhe as palavras, as dela e as dele.

Naquela manhã escura e clara e fria e quente e confusa de outono, já havia provado todos os sentimentos possíveis. Na verdade, nem sabia mais o que sentir. O céu estava escuro e claro ao mesmo tempo, prometia chuva embora mostrasse um sol radiante. “Que clima esquizofrênico”, lembrou-se dele falando e sorriu. O céu parecia sorrir mesmo querendo chorar. E ela também.

Olhou para o relógio pendurado na parede meio branca, meio cinza, meio não-sei-que-cor e o encarou fixamente por alguns instantes. “Podemos fazer o tempo parar, sabia?”. Ah, sim. Ele tinha esse poder de paralisar o tempo. Pelo menos, o tempo dela. Mas agora o tempo corria e ela corria contra ele. Quanto correr, quanto cansar, quanto tentar fazer o tempo voltar atrás. Uma corrida que estava deixando-a exausta, perdida. Mas ela não desistiria, não até alcançar o que queria.

Lembrou-se que precisava escrever, que precisava correr, que precisava alcançar. Escrever era a única forma de chegar até ele, mas nem isso ela conseguia mais. Talvez ele não quisesse mais suas palavras, talvez. Ela precisava escrever para aliviar o que sentia, porque só sabia se esvaziar assim. E ela estava cheia de vazios. Esvaziar os vazios, veja que contraditório. Ela precisava escrever, mas lhe faltavam palavras, as dela e as dele. Sobretudo as dele. Principalmente as dele. Só as dele.

O papel rabiscado com o nome dele à sua frente, o copo de café intocado e frio ao seu lado, as ideias se criando e crescendo e se perdendo em sua mente. Talvez não coubesse mais nada no papel já que ele ocupava um espaço tão imenso. No papel e em seus pensamentos.

Um gole de café frio a fez entender que em alguns espaços só cabem vazios. 

Um espaço tão imenso e tão vazio, era assim que ela se sentia. E continuou rabiscando. 

terça-feira, 28 de maio de 2013

Ainda

Em tantas ausências
Te tenho presente
Em tantas faltas
Te vejo completo
Em tantas saudades
Te guardo em lembranças
E mesmo tão longe
Te sinto perto.



sexta-feira, 22 de março de 2013

Sozinha no escuro


Ao contrário do que muitos pensam, a solidão não é ruim. É algo que devemos ter às vezes, para poder pensar. A solidão também tem sua cor. É um tom de cinza escuro, mas ela não é má.

Você pode pensar estar sozinho, no momento em que todos estão contigo. Pode pensar estar cheio de amigos, quando na verdade está sozinho. Se a solidão lhe fizer mal, é porque você a deixa fazer. Ela sempre sabe quando chegar. Mas, às vezes, não quer ir embora.

Quando estiver só, pense. Crie. Leia. Escreva. Coma. E, o mais importante, respire fundo.

A solidão pode te levar à morte. Ambas são amigas. A morte pede a solidão, ela faz qualquer coisa para tê-la. E vice-versa. A maior diferença entre elas são as cores. A morte ama cores. A solidão as abomina. 



(Autoria de Sarah Ditz, minha aluna que sempre me enche de orgulho). 

domingo, 10 de março de 2013

Linhas paralelas

(Inspirado em "Parallel lines" - Kings Of Convenience)



Parece até que foi ontem que estávamos sentados à sombra da figueira olhando para o nada e fazendo planos para nós, lembra? Eu me lembro, e me lembro bem.

Se eu fechar os olhos, ainda consigo sentir sua mão apertando a minha mão enquanto você me beijava os lábios. Ainda consigo sentir o seu cheiro que sempre ficava impregnado em mim, na minha alma. Ainda posso ouvir sua respiração ficando ofegante quando eu lhe beijava o rosto e passava a mão nos seus cabelos sempre tão desajeitados. Você ficava tão bonito com os cabelos desajeitados, sabia? Ainda me vejo nos seus olhos castanhos, sempre tão atentos aos meus sorrisos. Eles capturavam tudo em mim, eles me prenderam a você. Ainda lembro do seu sorriso tímido quando eu falava ao seu ouvido que “o seu colo é o melhor lugar do mundo”. E isso tudo ainda faz minha pele arrepiar. Eu queria tanto morar em você, eu ainda te tenho tanto em mim.

Traçamos nossos planos com linhas tênues que conduzem o tempo. Eu queria um futuro, mas você me deixou no passado. As linhas se romperam e nos perdemos. E agora, o que faço com a lembrança do seu olhar? O que faço com você em mim? Jogo fora os planos que fizemos para nós? 

Acho que nossos destinos foram traçados com linhas paralelas que nunca se amarrarão em nós.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Opostos


Eu quis ser tudo pra você, mas você preferiu ser nada pra mim.
Eu disse que você me bastava, mas não fui o suficiente pra você.
Eu sempre soube, você jamais quis saber.
Eu sempre te senti tanto, mas por mim você sentiu nada.
Eu quis viver um sonho, mas você me acordou.
Eu lhe dei paz, mas você tirou a minha.
Eu quis viver pra você, mas agora você morreu pra mim. 
E que descanse em paz na minha memória. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Minha metáfora preferida


Hoje está chovendo de novo aqui. Tem sido assim há mais de uma semana: faz sol de manhã, chove à tarde. Não, não estou reclamando. Você bem sabe o quanto eu amo a chuva. Eu já lhe disse que os dias cinzas e chuvosos sempre me pareceram mais bonitos do que os dias de sol. Dias escuros me lembram os seus olhos. Acho que é por isso que hoje a chuva me deixa triste, porque os seus olhos não estão mais presos no meu olhar.

Lembra o que me disse há um tempo, enquanto observávamos as gotas d’água caindo pacientemente da goteira no meu quarto? Eu ainda sorrio quando me lembro, mas é um sorriso que faz doer. O barulho da goteira não me incomodou naquele dia. Agora, mal posso ouvir essas gotas que caem como bombas nos meus ouvidos. Que barulho insuportável! Lembra que eu pedi para que consertasse o telhado? Então. Você foi embora e deixou esse buraco aqui. No teto e na minha alma.

Eu nunca deveria ter guardado você com a chuva, que tola que fui! Mas eu teimei em juntar dois amores de minha vida em um só. E agora estou aqui, sozinha, a observar as gotas d’água que caem pacientemente da goteira no meu quarto. Que barulho insuportável tem o seu silêncio! O que eu faço agora quando chove mas você não está?

Cai a chuva lá fora e aqui dentro, em mim. Molham o chão as gotas, inundo-me com o choro sem fim. A chuva é meu pranto que te traz de volta pra minha vida. Porque eu te guardei na minha metáfora preferida. 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

De mim


Das minhas vontades, você é a mais urgente.
Das minhas incertezas, você é a preferida.
Dos meus desejos, você é o mais latente.
Das minhas fraquezas, você é a mais forte.
Das minhas saudades, você é a que mais dói. 
Das minhas loucuras, você é a que mais faz enlouquecer.
Dos meus medos, você é o mais seguro.
Dos meus devaneios, você é a cura.
Dos meus sonhos, você é o mais real.
Das minhas músicas, você é a melodia mais bonita.
Das minhas palavras, você é a inspiração.
Das minhas esperas, você é urgência. 
De mim, você é a melhor parte.
De tudo, sem você é nada. 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Santa Maria


Hoje eu acordei com a sensação de que nem sequer dormi. Desde cedo, as notícias da tragédia continuam se atualizando e o pesar aumentando. É uma segunda-feira de sol, um dia bonito que não combina com esse sentimento estranho. Que domingo mais pesaroso, mais lamentável, mais doloroso.

Ontem eu fui tantas pessoas, tive tantos sentimentos... Coloquei-me no lugar daquele jovem que, de repente, viu a alegria se transformando em terror e sentiu os seus sonhos sendo sufocados pela fumaça. Pensei na aflição de um pai que espera acordado na cama o filho chegar da balada, torcendo para que chegue são e salvo, mas que, de repente, recebe a notícia de que seu filho nunca mais vai voltar. Senti meu coração apertar ao pensar na mãe que incansavelmente ligava para o seu filho naquela manhã angustiada de domingo, sem saber que o celular tocava a sua música preferida sobre um corpo agora  silencioso. Tentei imaginar o desespero das tantas pessoas cuja missão de vida é salvar vidas, mas que não conseguiram salvar todas as que estavam lá. Vi minha mão tremendo ao imaginar as mãos de quem percorreu com o dedo indicador a lista de mortos desejando não encontrar um nome conhecido. Senti-me desolada pensando nas famílias e nos amigos de quem saiu para dançar naquela noite de sábado e que agora tentam entender o que aconteceu, porque a pessoa não mais voltou. Tampouco voltará. 

Que nó na garganta, que dó no coração. Sonhos sufocados pela fumaça, vidas perdidas na névoa, esperanças destruídas pelas chamas. Como dói pensar, como dói esse pesar.

Que os corações sejam confortados. Que a tristeza seja aos poucos amenizada. A tristeza deles, a nossa, a de todos que choram nesse dia tão choroso. Minhas condolências, Santa Maria. 

domingo, 27 de janeiro de 2013

Sobre a amizade


Desejo que você acorde sempre sorrindo, mesmo com lágrimas descendo sobre o seu rosto.
Desejo que você durma sempre agradecendo, mesmo que não tenha notado o que agradecer.
Desejo que você sinta a brisa leve de uma manhã de domingo, sem se preocupar com a segunda-feira que está para chegar.
Desejo que você se orgulhe de sua grandeza, mesmo quando o mundo parece dizer o contrário.
Desejo que você valorize as oportunidades, mesmo quando elas parecem ser tão pequenas.
Desejo que você cante: de alegria, de amor, de felicidade, mesmo quando lhe faltar voz.
Desejo que você trabalhe sempre com respeito, mesmo quando os outros não valorizam o que você faz.
Desejo que você expresse sua raiva, mesmo quando não há ninguém para lhe ouvir.
Desejo que você ame intensamente, ame perdidamente, ame até a última gota, mesmo quando o mundo lhe disser que o amor não existe.
E por fim, se lhe faltar algo, chame os amigos.
Porque tudo eu posso desejar, mas apenas uma coisa posso garantir: amigos nunca lhe faltarão!
Sim, eu sempre estarei aqui.

Texto de Júlia Kauane, uma menina tão querida e doce quanto suas palavras. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

E dentre tantos olhares que me cercam,
                                           eu só queria ficar presa no teu...

...mas, em vez de me prender, os teus olhos vivem me perdendo.
                       
      Os mesmos olhos em que me vi e me prendi.
                                                                          E me perdi.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Um texto que doesse


Eu queria escrever um texto que fizesse o leitor sentir o que eu sinto.

Eu queria escrever um texto tão triste e tão pesaroso que fizesse o leitor suspirar e derramar uma lágrima sobre o ponto final. Um texto tão melancólico que fizesse o leitor sentir uma tristeza tão profunda ao ponto de dizer “mas que texto mais triste” e chorar de dar dó.

Eu queria escrever um texto tão lastimoso que buscasse na emoção do leitor as suas mais tristes lembranças e as jogasse para fora dos olhos entremeio a lágrimas que inundassem o papel e borrassem a parte já lida do texto. Um texto tão pungente que atingisse em cheio a alma do leitor e o fizesse sentir um vazio tão grande no peito que ele diria “mas que texto mais triste” e desejaria interromper a leitura para me abraçar.

Eu queria que o leitor chamasse quem estivesse ao seu lado para ler o texto também e dissesse “olha que texto mais triste” e a pessoa lesse e sentisse e chorasse e concordasse dizendo entre soluços “mas é mesmo um texto muito triste”.

Eu queria que o leitor ficasse pensativo e com os olhos marejados ao ler o meu texto e pensasse “mas que texto mais triste e lindo de tão triste”. Um texto que doesse. Eu queria que minhas palavras ficassem gravadas na memória e na alma do leitor e que o fizessem chorar ao lembrá-las.

Eu só queria escrever para fazer o leitor sentir o que eu sinto, porque eu escrevo para não sufocar.  O problema é que às vezes eu sinto o que é intransponível em palavras. 

sábado, 19 de janeiro de 2013

Eu nunca


Eu nunca pulei carnaval.  Eu nunca fui a uma festa à fantasia. Eu nunca dancei como vocês dançam. Mas eu sempre sorri, embora não estivesse sempre feliz. Eu sempre me vesti de ilusões, sempre me cobri de fantasias. Ou será que eu sempre me escondi?

Eu sempre quis mudar. Eu sempre quis ser diferente. Eu sempre quis não-ser. Mas, mesmo assim, eu sempre tentei. Mesmo assim, eu sempre fui eu mesma. Eu nunca mudei. Sou uma mistura daquilo que eu sempre quis ser com o que nunca deveria ter sido. E o tempo me afasta cada vez mais de quem eu queria ser. Será que um dia eu voltarei a mim?

Nunca
e sempre me prendem a esse paradoxo que sou. E eu odeio amar paradoxos.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Flor amarela


A luz do fim de tarde invadia a sala com cuidado e coloria os vidros da janela com vários tons de laranja e vermelho. Era um lindo dia de verão, daqueles dignos de fotografias. Na janela, um olhar melancólico absorvia parte dos raios do sol poente enquanto observava as flores do jardim à sua frente.

Elas eram tão bonitas, tão unidas, tão fortes. Aos olhos da menina, as flores eram tão esplendorosas ali, no meio daquela grama seca cor-de-nada, impondo-se com todas as suas cores, com todo o seu perfume, com toda a sua beleza. Ah, como eram lindas.

Lembrou-se, então, de um menino que a chamava assim, “flor”. “Minha flor amarela”. Ah, como ela achava isso bonito... mas nunca entendeu, na verdade, por que ele a chamava assim. Seria pela beleza? O perfume? Ou por que ele se sentia como ela se sentia ao observar as flores no jardim? Será que ele a amava? Bom, fosse o que fosse, já era tarde demais. O menino já não a chamava assim. Ela já não era mais uma flor, já não lhe tinham amor.

Cansada de observar o jardim e as suas lembranças, fechou a cortina e descoloriu os vidros da janela dos raios do sol. Deitou-se no sofá, ajeitou o vestido e acomodou seus longos cabelos negros. Queria dormir um pouco, fugir dos pensamentos. Foi então que viu na mesinha ao lado da televisão um vaso bonito com uma flor igual as do jardim. Era uma linda flor. Talvez fosse até mais bonita do que as outras.  

Pôs-se, então, a olhar para aquela flor no vaso buscando a mesma força, a mesma imponência, a mesma cor, o mesmo perfume, a mesma sensação que encontrara ao observar aquelas flores do jardim, mas... nada. Era apenas uma flor na água. Por mais bonita que fosse, tudo o que estava ao seu redor tinha mais cor do que ela. Ela estava ali sozinha. Isolada. Presa a um mundo que não era o dela. Aos poucos, sua cor ia desbotando e seu amarelo já não brilhava como o das flores do jardim. Ela parecia tão triste. Pobre flor. Às vezes parecia até que chorava. E a menina sentiu pena da flor que já não era mais tão amarela. Pena.

Agora, finalmente, havia entendido por que o menino a chamava assim, “minha flor amarela”: a menina era aquela flor do vaso na mesinha ao lado da televisão. Porque ela era bonita e triste. Talvez a flor mais bonita seja sempre a mais triste, a mais sozinha. Talvez o amor não fosse amor, fosse pena. Pena. 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Olhar de saudade


Acordara antes que o despertador tocasse naquela manhã preguiçosa de domingo. Não havia dormido muito bem, sentia-se inquieta. Sentou-se na cama e ouviu o barulho da chuva. Vestiu o roupão branco de cetim e caminhou até a janela aberta. Queria sentir a chuva. O vento frio fazia sua pele arrepiar e bagunçava — ainda mais — os seus cabelos. Passou as mãos na cabeça e se virou para o espelho, não queria se sentir feia — por fora.

Encarou o espelho e encontrou-se perdida na própria imagem. Ao alto, viu seus cabelos soltos, porém sem vida. Na testa, as marcas do tempo e do estresse haviam se tornado mais visíveis nos últimos tempos. Procurou em seus lábios lembranças de sorrisos outrora sempre presentes. Buscou neles resquícios de palavras doces agora tão escassas, mas sentiu apenas um gosto amargo. “Seria esse o gosto do arrependimento?”, pensou enquanto contornava a boca com os dedos frios. Ergueu os olhos e se procurou no fundo do seu olhar. Abaixou a mão e suspirou. Encarou-se receosamente e acompanhou o caminho que uma lágrima traçava em seu rosto, até que ela se evanesceu. Seu olhar era de cicatrizes. E elas ainda doíam. Afastou-se do espelho e sentou na cadeira perto da janela. As lágrimas caíam pelo seu rosto como a chuva caía lá fora. Poderia ficar horas ali sentada, observando a chuva e se distraindo com o barulho que ela fazia ao tocar as folhas da pitangueira. A água compunha uma sinfonia calma que a afastava de seus mais sombrios pensamentos. Ah, aquelas cicatrizes... Foi horrível sentir de novo aquelas dores. Mas, cicatrizes não deveriam doer. Por que doíam, então? Por que o gosto deixado pelas palavras dantes doces era tão amargo? Por que tudo tão estranho, tudo tão errado? 

Seu olhar era de saudade.

Fechou os olhos e mergulhou em si. Desistiu de entender, desistiu de controlar aqueles pensamentos. Deixou que as dores viessem à tona e abrissem de vez aquelas cicatrizes em seu olhar. Sentiu suas lembranças se amargarem pelo tempo e chorou. Chorou de soluçar. Chorou mais do que chorava o céu naquela manhã de domingo. Chorou até enfraquecer. Chorava, mas não sabia ao certo o porquê.

Com esforço, levantou-se e se apoiou na janela do quarto vazio. Envolveu-se com os braços na tentativa de encontrar algum alento, alguma segurança. Mas ela só tinha a si. Tinha também os seus pensamentos, aliás. Mas tinha medo de ficar a sós com eles. Não queria mais ficar. Não queria mais sentir. Não queria mais ser.

Olhou fixamente para o céu e — embebida em pranto e agarrada à solidão ­— jogou-se na cama e caiu naquele abismo que havia dentro de si. A chuva vigiaria seu sono enquanto ambos durassem. Quisera ela que chovesse para sempre.