O relógio na
parede atrás do balcão marcava seis da tarde. Parecia um dia interminável. Ele estava
atrasado. O relógio também, conferia ela. “Café das cinco”. Era como um ritual
de todas as sextas-feiras. Ela já havia pedido os dois cafés, como de costume. “Um
com adoçante e outro com três colheres de açúcar, por favor”. Ela conhecia bem
seus gostos, já estava habituada às suas manias.
Lembrou-se de
quando tomaram café pela primeira vez, uma casualidade. Desde então, ele nunca
havia se atrasado. Mas ela sabia que naquele dia, talvez, ele não aparecesse. O primeiro
gole dos dois era sempre simultâneo. Era como um ritual. Conversas, toques, risos. Saudade.
Sete horas e a
cadeira à sua frente continuava vazia. Finalmente havia terminado aquela tarde
quente de inverno. O barzinho começava a se encher. “Posso ocupar esta cadeira?”
– alguém perguntava – “Ela está reservada”. E os cafés esfriavam sob seu olhar
angustiado. Um olhar que parecia estar deslocado da linearidade do tempo e fixo
em um ponto perdido do passado. Ela havia aberto parênteses no tempo. Vozes,
risos, silêncios. Memórias.
Um olhar encontrou-se
com o dela naquele vazio temporal. Aquele mesmo olhar. Já fazia
um ano. “Há quanto tempo” - a mesma voz rouca. “Pois é”. “Pediu meu café”. “Pedi, como sempre”. “Obrigado. O café está frio” – tocou na xícara. “Saudade”. “Estou atrasado”. Eles haviam
se encontrado pela data, mas ninguém tocou no assunto. Ela suspirou enquanto
observava aquele andar apressado sumir no meio da multidão. Ele amargou seu
café com as lembranças e deixou aqueles parênteses abertos no tempo. Saiu sem preencher o espaço vazio da cadeira. Eram muitos vazios a serem preenchidos, na verdade. Tomou,
enfim, um gole de cada xícara. Dois cafés, goles dessincronizados. “Alguns parênteses
são mesmo difíceis de serem fechados” – pensou enquanto bebia.
Bastou o
primeiro gole para ela perceber que café frio tem gosto de solidão.
Menina Daniela, que lindeza é essa? O texto é de uma simplicidade tão encantandora, consigo ver todas as cenas, sentir a solidão e o café frio.
ResponderExcluirParabéns, lindo, lindo, lindo. (=
@morganapinto_a
Eu dividiria o café com essa moça e ao final diria:
ResponderExcluir- Não serão apenas dois.
E preencheria alguns vazios.
ExcluirCafé frio, a grande metáfora pra vida.
ResponderExcluiraiai
Gosto deste jogo de palabras entre sentidos e emoções. O som da solidão escarrado no meio a multidão. O sabor da solidão em uma xícara de café frio... A máxima do "antes só do que mal acompanhado" se encaixaria aqui? Quem sabe? Ou, quem se importa?
ResponderExcluirTalvez da próxima vez ela coloque uma pelota de sorvete no meio do café pra dar uma adocicada na vida, para realizar a descoberta de que a solidão pode ter um sabor doce algumas vezes... Ou, se esta for uma pessoa vingativa, poderia rolar uma batalha de colheres de café com outrém, o que culminaria com um, ou dois olhos perfurados.
Falei um monte de merda só pra dizer que, ao contrário do café frio, seu texto foi gostoso de ser degustado.
Uma história contada com tanto sentimento, que fica difícil não se emocionar. Volto aqui toda hora para ler esse texto, tão cheio de verdade.
ResponderExcluirUm beijo e um abraço carinhoso, menina Danni.
Doce menina...
~<3
Ah solidão!
ResponderExcluirEstar só é diferente de SER só. Mas eu entendo essa solidão. Foi a mesma solidão que eu passei anos tentando preencher de todas as formas. Uma busca em vão.
Se eu soubesse que eu passaria tanto tempo tentando fechar os parênteses abertos naquele tempo, eu os teria deletado para recomeçar. E quanto ao café frio, além de gosto de solidão, ele tem cheiro de melancolia. Esse cheiro sempre te visita não é mesmo querida menina?
Li esse texto duas vezes (pelo celular) e mais duas antes de comentar. Cada vez que eu leio é sempre como se fosse a primeira. Eu amei Dani. Amei cada vírgula. Texto leve, lindo e melancólico do jeitinho que eu gosto. =)
Beijo linda minha. Cuide-se ;*
Meu deus, como isso me despertou lembranças e saudades, estou a anos atrasado para meu café, é que eu preciso voltar, realmente me trouxe atona história antiga de romance meu, também me lembrou bastante a história de Lily Braun que inspirou canção a Edu Lobo e Chico Buarque.
ResponderExcluirQue linda essa solidão.
ResponderExcluirA solidão é sua maior companheira e cumplice.
acostume-se a ela e ela desacostumará de você, somente em algunsa casos.
Adorei o texto Dani.
bjins,
Poynt.
Amei o texto, lindo o blog :)
ResponderExcluirhttp://anabeacaramba.blogspot.com.br/
Simplesmente lindo esse texto, Dani!! Claro que assim como todos os outros.
ResponderExcluirSeu modo de escrever, nos leva a tal cena, nós sentimos os detalhes e presenciamos os fatos. Parabéns :D
ResponderExcluirMais tarde de uma passadinha em Muchas Coisas; vida e cotidiano.
http://muchascoisas.blogspot.com.br/
Que frase de impacto, "Bastou o primeiro gole para ela perceber que café frio tem gosto de Solidão" parabéns pelo conto
ResponderExcluirTão cheio de verdade. Tão repleto de saudade... e solidão.
ResponderExcluirLindoo >.< Adorei...
ResponderExcluirMenina Dani, parabéns pelo texto!!!
ResponderExcluirEu sempre leio seus textos e tweets, e gosto muito deles. Mas nunca tinha me manifestado antes. Então, pela primeira vez, parabéns! Mas não só por este texto, por todos! Nunca nos abandone no sítio twitter!!!
lindo
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