quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Cansei.


Cansei de me importar com quem não merece.
Cansei de dedicar meus pensamentos a quem sequer lembra que eu existo.
Cansei de guardar na memória momentos que não são meus.
Cansei de roubar sorrisos que não são pra mim.
Cansei de querer sempre o impossível.
Cansei de fazer tudo por quem vale nada.
Cansei de tentar agradar quem não sabe reconhecer.
Cansei de fingir que está tudo bem.
Cansei de sorrir quando na verdade desejo chorar.
Cansei de buscar em outro olhar o reflexo do meu.
Cansei de lutar em batalhas contra mim e contra você.
Cansei de sentir sempre as mesmas angústias.
Cansei de ter sempre os mesmos sentimentos repetidos.
Cansei de tentar entender.
Cansei de querer.
Cansei de insistir.
Cansei de cansar.
Cansei de desistir.

Acho que cansei de tudo.

Acho até que eu me cansei de mim.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Céu de novembro


Novembro e suas angústias, sempre foi assim. Já era fim de tarde, finalmente. Sentara-se à sombra da mangueira para fugir do sol. Descansava os pés descalços na grama fresca. Queria descansar a cabeça, também, mas não conseguia. Aquele havia sido um dos dias mais tensos dos últimos meses. Dia pesado, cansativo, sonolento. Dia anestesiado. Assim como ela se sentia. Fechou os olhos para fugir de si na tentativa de se encontrar em seus pensamentos. 

E se perdeu.

O dia angustiante sem vento aos poucos foi sendo levado pela brisa fresca da noite suave que se aproximava. O vento varria o dia, varria as nuvens, varria as folhas, varria os pensamentos. Sentiu a pele arrepiar. Abriu os olhos e ousou olhar para o alto. Seu olhar encontrou no céu melancólico o refúgio que buscava naquela fuga de si.

O cinza do céu de repente se misturou com o cinza que havia dentro dela.  Naquele instante, já não sabia mais o que era ela e o que era céu. Perdera os limites. Sentiu que de alguma forma pertencia àquela imensidão feita de cinzas. Seus olhos se perderam  na melancolia gris e seus pensamentos se aprofundaram na solidão que carregava em si. Um mergulho, um salto, uma fusão. E tudo se coloriu de cinza.

Sentiu uma breve eternidade naquele momento sublime. Ela o comemorou com lágrimas. E o céu brindou com a chuva. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Memórias mudas


No silêncio dos meus pensamentos
encontrei um arquivo de memórias
gavetas intituladas por medos
e refesteladas de histórias.

Em cada arquivo há uma parte esquecida de mim
Acho que escrevi tudo o que não tive coragem de dizer.
Mas a vida é mesmo contraditória assim:
Guardo em silêncios tudo aquilo que quero esquecer.

Sem titubear lacrei os meus arquivos,
estão interditados até segunda ordem.
Lá escondo até os meus supostos amigos
que me esqueceram nessa desordem.

Escondo, também, minhas desilusões
Amarradas aos meus desamores.
Porque tudo o que não é guardado por dois corações
São apenas lembranças dissabores.


(Escrito juntamente com Mário Lúcio - http://versosdaconsciencia.blogspot.com.br/)