sábado, 31 de dezembro de 2011

Já vai tarde, 2011

Lembro que no começo do ano eu estava com muitas expectativas, assim como agora.

Eu não sabia como seria a vida depois de formada, depois da faculdade, depois de quatro anos de estudo. Não tinha planos, não tinha uma garantia de emprego. Tudo dependeria. Mas, logo depois, recebi uma proposta de emprego excelente para minha carreira. E topei. E fui só com a cara, porque coragem eu não tinha. É. Não foi fácil. Na faculdade eles não nos ensinam a lidar com as situações da vida de professor. Enfim, é na prática que aprendemos, certo? Certo. Super certo. Mais certo, impossível. E assim eu vivi 2011: aprendendo mais do que ensinando. Óbvio que houve momentos de desespero, de angústia (quase sempre), mas tive com quem desabafar e não me sentir uma profissional frustrada. Sim, a Mariana. Se eu suportei muitas coisas neste ano, pode crer que foi porque tive o apoio dela. Mesmo longe, estava sempre perto. Obrigada, Mari.

O importante é que adquiri muita experiência com isso tudo e, por isso, sei que lidarei melhor com algumas coisas no ano que vem. Tomara.

“E como anda o coração?”. Batendo e bombeando sangue, obrigada. Aff, a típica pergunta. No começo do ano, meu coração estava tranquilo. Massssss, eis que surgiu um certo moço na minha vida. Ai, ai. Why so perfeito, moço? Não resisti. Como sempre, uma paixão platônica. Até que ele correspondeu. Eu bem que suspeitei que estava tudo perfeito demais para ser verdade. Risos. Agora estou eu aqui, na espera de sua resposta sobre se gosta de mim ou não. Foi como se ele tivesse me feito sonhar e agora me acordou para a realidade da minha vida. Enfim. Deixe estar. Já chorei demais por causa disso, não quero mais chorar. Não quero mais pensar.

Em suma, 2011 foi isso: expectativas. Quem me conhece sabe que essa é uma das coisas que eu mais odeio na vida. Não sei lidar com expectativas, não sei lidar com a espera. Eu fico muito mal, sério. Ou seja, não me pergunte como foi 2011, por favor.

Acho que foi assim só para cumprir com minha sina dos anos ímpares. Todos foram horríveis, todos. TODOS. Não gosto de números ímpares, a título de registro.

Enfim, já vai tarde, 2011. E espero que em 2012... não, melhor não esperar nada. Sem expectativas, sem frustrações. Apenas que venha 2012. Vamos ver o que acontece. 

Na beira da estrada – partes 5, 6, 7... não importa mais

Depois de muitos dias se sentindo perdida naquela estrada em que fora abandonada, em que havia pisado em falso, em que haviam lhe tirado o chão, a menina não chorava mais. E começou a pensar em tudo o que havia caminhado até chegar ali. Aquele que soltara a sua mão não sabia dos caminhos que a menina percorrera até aquele momento. E sequer se importou em saber. E ela pensou que ele não merecia suas lágrimas.

Depois de cinco dias ali sentada, sem forças, sem ânimo para levantar e continuar, a menina olhou ao seu redor e percebeu que havia muitas mãos dispostas a levantá-la. E ela pensou que não poderia trocar tantas mãos por apenas as dele. Não podia fazer isso. Não queria fazer. Não era justo. Seria muito cruel com todos os que passavam pela estrada e lhe estendiam a mão para que ela se erguesse. E seria muito cruel consigo mesmo continuar com aquela tristeza. A menina respirou fundo e encheu os pulmões de coragem.

E a menina, com muito esforço e contando com as mãos amigas, se reergueu.

Ela pensou: “oras, se eu já fiz isso tantas vezes, sou capaz de fazer isso de novo”. Por mais que desta vez o tombo tenha sido maior. Mas ela se reergueu.

Agora ela já não contava mais os dias daquela espera. Apenas os deixava passar, sem pressa, sem preocupações.

Ela não riscava mais os dias no seu calendário da angústia.

E a menina decidiu que não pensaria mais. O tempo que resolvesse tudo. O tempo que resolvesse. 

O tempo.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Na beira da estrada — parte 4

O ar carregado dificultava a respiração da menina. Seu corpo cansado implorava por chuva. Implorava por uma renovação. A poeira que se acumulava naquela estrada deserta agredia seus olhos. Já era o quarto dia que se arrastava no calendário de angústia e espera que a menina seguia a muito custo. E riscava os dias com sangue.

Naquele dia, ela quase não chorou. Mas sentia que algo apertava ainda mais o seu coração machucado. Como doía. Ela não queria mais sentir aquela dor. Não sabia ao certo o que aquele dia reservava a ela. Mas tentou fingir que estava bem. As pessoas que a viam sentada ali na beira da estrada a olhavam com receio e preocupação. Ela não queria que vissem sua aparência abatida. Seus olhos, embora livres das lágrimas, estavam inchados. Ela estava cansada. Estava realmente cansada. Deitou-se. Abraçou-se aos joelhos. Queria adormecer. Assim estaria livre daqueles pensamentos que insistiam em atormentá-la. Estava extenuada.

Quando a menina já estava quase adormecendo, se deparou com um recado dele, trazido pelo vento. “Logo, tudo se resolverá”. Logo? Tudo? Resolver o quê? Tudo o quê? Ela não entendia. Ela não se conformava. Mas não queria mais pensar. “Logo”. Quando? E ela pensou que não suportaria esperar por mais muito tempo. Seu coração não era um brinquedo que fica à espera da criança para brincar depois de um tempo de descanso. A menina queria olhar em seus olhos outra vez e encontrar a paz que perdera dentro de seu olhar. Ela queria abraçá-lo novamente e ter de volta a proteção que havia perdido. Se sentia só. Se sentia perdida. Mas, de alguma forma, seu coração se aquietou. As migalhas de esperança que ele havia jogado no seu caminho serviram para saciar a sua fome. Para saciar a fome de sua angústia. Mas ela não queria aquelas migalhas de esperança. Aquela calma repentina a assustava. Por que as aceitou, então? A menina não quis mais pensar. Desistiu de entender.

A menina era uma colecionadora de esperanças.

E a menina deixou o vento levar seus pensamentos para longe dela. 

sábado, 24 de dezembro de 2011

Uma ressalva

Em meio àquele furacão que invadia a vida da menina e a deixava sem forças, eis que ela encontrou um motivo para sorrir. Quatro pequenos motivos, aliás:



E a menina conseguiu sorrir. Ao menos por um instante.

Na beira da estrada — parte 3

De sobressalto, despertou de um sono agitado. Ele havia visitado-a em seus sonhos. Ele estava bem, estava feliz. Disse a ela que havia resolvido as suas dúvidas e que, por fim, ficariam juntos. O sorriso dele ainda iluminava o olhar da menina. Mas foi tudo um sonho. Ela abriu os olhos, sentou-se e encarou outra vez aquela cruel realidade. Sentiu uma saudade imensa do abraço, do cheiro, da voz dele. Sentiu saudade de olhar nos olhos dele. Sentiu saudade dele. Deus do céu. Como doía aquela angústia. Como apertava seu coração. Como desejava não ter acordado naquela manhã. Como desejava jamais ter vivido aquilo tudo.

Já era o terceiro dia que se arrastava no calendário de sua angústia. Já era o terceiro dia que ele havia soltado sua mão e a abandonado à beira daquela estrada que agora revelava a existência de fantasmas assustadores que faziam a menina tremer. Tinha medo do que sentia. Tinha medo das coisas que pensava. Ela tremia de medo. Tremia de dor.

Seu corpo estava debilitado pela falta de comida. Não comia não porque não queria ou para aparentar fragilidade. Não comia porque sua garganta apertava toda vez que lembrava dele, toda vez que pensava nele. Toda vez que ouvia suas palavras ecoando em seus ouvidos e trazendo de volta aquela dor  lancinante do “eu não te amo”. Como doía lembrar disso. Ela não era uma menina frágil. Não havia necessidade de se mostrar assim agora. Sempre enfrentou de frente os desafios que a vida lhe impôs. E os venceu de cabeça erguida. Com alguns arranhões, mas venceu. Agora, estava cabisbaixa. Sequer tinha ânimo para falar. Mas a dor física não superava a dor que carregava em sua alma e em seu coração. E ela pensava nele o tempo todo. O tempo todo.

Seu desejo era de se levantar daquela estrada sombria e ir ao encontro daquele que um dia disse que ela era a menina de sua vida. Deus do céu. Ou então ele não se lembrava mais de tudo o que dissera a ela? Ou fingia que havia esquecido para não encará-la mais, para não vê-la mais? Afinal de contas, o que ele tinha? O que se passava em seu coração? Dúvidas? E quem não as tem? E então ele não sabia que o amor, esse sentimento tão banalizado, não é algo que surge de um momento para outro? Será que ele não percebia que sua decisão estava precipitada? Por que não dava a ela uma chance de lhe mostrar que poderia sim fazê-lo feliz? Por que não dava à menina uma chance de conquistá-lo por inteiro? Será que ele tinha medo? Medo? Medo de quê? Ela não tinha medo de se entregar completamente a ele. Ela o amava. Deus do céu, como ela o amava. Ela queria olhar em seus olhos, segurar em seus braços e fazer todas essas perguntas e dizer o quanto sentia a sua falta e abraçá-lo e pedir para que ele segurasse novamente a sua mão e que não a deixasse ali sozinha e curasse a ferida que causara em seu pequeno coração e preenchesse aquele vazio que sentia na alma e... Mas ela não podia fazer isso. Havia prometido naquela tarde em que ele se afastou que daria o tempo de que ele precisava. Ela só queria entender. Por quê? Por quê.  

A essa altura, ela já conseguia pensar. Chorar? Quase não chorava mais. Talvez ele não merecesse todas aquelas lágrimas. Ela não queria mais chorar em vão. Passou dois dias chorando. A propósito, mesmo que quisesse, não conseguia mais chorar. Seus olhos estavam secos e doloridos. Sua aparência, que nunca fora das melhores, agora estava numa situação desesperadora. Sorrir? Nem que tentasse. A dor em seu coração a impedia de mover os lábios até para desenhar um simples sorriso. Justamente ela, que vivia sorrindo. Ela gostava de sorrir, mas não conseguia. Ela queria sorrir de novo.

Tudo de que ela precisava era uma resposta. Apenas uma resposta. Oras, se ele não a quisesse mais, que dissesse de uma vez. A agonia da espera era o que mais maltratava a menina. Ela nunca soube lidar com esperas, com expectativas. Sofria demais com isso. Se tivesse abandonado-a ali de uma vez, sem ter jogado as migalhas da esperança, talvez ela não estivesse tão mal. Talvez ela já tivesse dado um jeito de arrancá-lo de seu coração e de seu pensamento. Mas... o que faria com tudo o que sentia por ele? Jogaria no lixo? É. Talvez fizesse a mesma coisa que ele estava fazendo com os sentimentos dela. E ela pensou que o amor é ruim. Amar tinha um gosto ruim. Amar tinha gosto de nó na garganta. Não queria mais esse sentimento que fazia tão mal a ela. Por que tinha que ser assim, por quê? Respostas. Era tudo o que ela queria. Mas não as tinha.

No fundo, não importava se ele tinha se afastado. Ela sabia que tinha dado motivos suficientes para que ele voltasse. Se não voltasse, talvez não a merecesse. Mas ela queria que ele voltasse. Ah, como ela queria ter de volta todos aqueles momentos, todas aquelas palavras, todos aqueles carinhos... Espera. Sentiu um gosto ruim na boca. Essa não. As lágrimas voltaram a transbordar de seus olhos, molhando seu rosto e seus lábios secos.

E a menina pensou que as lágrimas têm um gosto ruim. 

Nova velha dor

A menina já não sabia o que fazer para livrar seus pensamentos dele. A falta de sono só piorava a situação. Estava sem comer direito há dois dias. Sua cabeça já apresentava indícios de que não estava muito bem. 

Ela só queria não pensar.
Ela só queria não lembrar.
Ela só queria não sentir mais aquela dor.
Aquela nova e velha dor.

Não sabia se conseguiria se reerguer.
Não sabia se queria se reerguer.
Talvez se ficasse ali no chão, não haveria mais quedas.
Não haveria mais aquela velha dor.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Uma menina. Uma mala. Um abismo. Uma nuvem.

Olhou para o céu e o viu claro. Nenhuma nuvem para que ela imaginasse desenhos. Havia apenas alguns pássaros que riscavam de preto o azul celeste. Lembrou-se de quando deitava e olhava para o céu e via desenhos bobos formados pelas nuvens. Antes, tinha alguém com quem compartilhar sua imaginação, suas palavras, seus carinhos. Agora... Bem. Agora não havia mais ninguém. Apenas a menina, o céu e uma mala.

Caminhou durante horas naquela estrada no meio do nada, sob o sol daquela tarde quente de verão. Seus pés estavam cansados. Já não se suportava. Além do peso de seu corpo, carregava aquela mala cheia de mágoas, ilusões, planos inacabados e lembranças. Como pesava tudo aquilo. Ela queria se livrar daquela mala cheia de uma vez por todas.

Andava a esmo. Observava tudo ao seu redor. E se perguntava como havia chegado até aquele ponto. Nunca havia se sentido daquele jeito. Pensou em todas as escolhas que fizera até ali. E não aguentou mais segurar a mala. Parou sob a sombra de uma árvore, soltou a mala pesada e se sentou sobre ela. Com o vento soprando forte e quente, se encostou no tronco liso daquela árvore e abriu a mala.

Como num filme em flash back, tirou tudo o que havia na mala e olhou como se fosse a primeira vez que estava vendo seu passado. Quanta coisa havia guardado. Pensou que não deveria ter guardado tantas coisas. O peso da mala a fez tropeçar e cair várias vezes durante o caminho.

A menina percebeu que aquelas recordações estavam molhadas. Lágrimas? Mas o tempo já deveria tê-las secado. Não entendeu. De repente, sentiu que algo molhava seu rosto. Lágrimas? Não. Seus olhos ardiam, estavam secos. Já não conseguia chorar.

Era chuva. Chuva? Sim, chuva! Há dias esperava por isso. Olhou para o céu e viu uma pequena nuvem escura. De onde ela tinha vindo, se até então o céu estava limpo? Não entendeu, mas gostou de sentir os pingos gelados caindo sobre seu rosto e aliviando o calor e o peso que sentia.

Caminhou até a estrada, para fora da proteção que a árvore lhe oferecia. Virou o rosto para cima, com os olhos fechados. Abriu os braços, como se implorasse por uma purificação. E se deixou molhar inteiramente. Ela precisava de um banho de chuva para se sentir revigorada. Sentia, pela primeira vez em dias, que estava viva. Era como se a água que caía do céu estivesse curando o seu coração magoado, preenchendo a sua alma vazia. Pela primeira vez em dias, sentia seu coração leve, livre de toda dor. Queria que chovesse para sempre. Desejava eternizar aquele instante.

De repente, um raio de sol a fez emergir daquele mergulho de euforia e libertação. E ela abriu os olhos. Seu corpo quente se arrepiava ao tocar suas roupas molhadas. A nuvem havia se dissipado depois de despejar toda a água que carregava para a menina. 

Sim. Tudo aquilo tinha sido para ela. Aquele momento era dela. Ela sabia. Só não sabia por que a chuva a fascinava tanto, não sabia por que se sentia tão bem só de olhar a água caindo do céu num ritmo suave e constante. Não sabia de nada. Apenas gostava daquela sensação. A chuva lhe fazia bem.

Lembrou-se da mala e de tudo o que havia tirado dela. Não queria mais olhar todas aquelas coisas que a machucavam, que a faziam sentir aquela dor. A dor do fracasso e da ilusão e do medo e das expectativas e das falhas e da mentira e da espera e da desesperança. Chega. Não suportava mais aquela dor. Estava se sentindo sufocada.

Num gesto misto de raiva e euforia, juntou todas as mágoas, as ilusões, os planos inacabados e as lembranças e enfiou tudo na mala. Reuniu as forças que lhe restavam e a arrastou. Caminhou, desta vez, com certeza de seus passos. Sabia para onde estava indo. De alguma forma, ela sabia.

De repente, parou. Seus pés hesitaram. Seus olhos incrédulos lhe mostraram um abismo imenso. A vertigem a fez vacilar por um instante. E ela se lembrou daquele abismo. Sim. Já estivera ali antes. Da última vez, ela recuou porque alguém havia lhe puxado pela mão. Mas, desta vez, não havia ninguém ali por perto para puxá-la. E ela sabia disso. E isso a amedrontava.

Ergueu a mala e a apertou com todas as forças que ainda guardava. Sentiu as dores antigas subirem por seus dedos e passarem por suas mãos. Já estavam percorrendo seu braço e, antes que chegassem ao seu coração, largou a mala. Fez um passo à frente. E ela caiu.

Um breve silêncio havia se instaurado desde o momento da queda até o impacto sobre as pedras. E houve silêncio novamente.

Finalmente, a menina havia se livrado daquela mala cheia de dores.


E a menina se sentiu mais leve para fazer o seu caminho de volta, independentemente se haveria alguém para imaginar desenhos nas nuvens com ela outra vez.

Neste instante, ela viu outra nuvem se formando.
E choveu de novo sobre a menina.


“A minha alma nem me lembro mais em que esquina se perdeu
ou em que mundo se enfiou.
Mas eu não tenho pressa...
Já não tenho pressa...
Eu não tenho pressa...
Não tenho pressa.”


Na beira da estrada - parte 2

A estrada parecia mais deserta do que nunca. Há dias que não chovia e o calor irritava seus olhos. Seus olhos estavam secos. 
Sem chuva, sem lágrimas.

Já era o segundo dia que ela estava sentada ali, à beira de um abismo que se abria mais a cada vez que ela pensava em seu futuro. Ela não sabia mais o que pensar, o que esperar. Se sentia impotente, inútil, fracassada, arrasada. Estava cansada. Tudo dependia dele. O destino da menina estava nas palavras dele, na decisão daquele que um dia lhe dissera que a adorava. O que aconteceu com as palavras de carinho, com as promessas de felicidade que ele lhe fizera? O quê? Impossível que haviam se perdido e se desmanchado no ar. Não. Ela não podia acreditar nisso. E se perguntava o que tinha feito de errado. O tempo todo. Mas não encontrava as respostas. Talvez porque não houvesse respostas.

Abaixou a cabeça e tentou raciocinar. Mas a fraqueza que dominava seu corpo era forte demais para permitir um raciocínio lógico. Ela precisava de ajuda. Sabia que não conseguiria se levantar sozinha daquela estrada que agora a assustava. Precisava de ajuda, mas não queria. No fundo, tudo o que desejava era ficar ali, esperando que o tempo e a dor a destruíssem, assim como haviam feito com suas esperanças. Assim como alguém havia feito com seus sentimentos. Da mesma forma como estavam suas ilusões. Tudo destruído. Sentia um vazio imenso por dentro. Talvez fosse a fome. Talvez fosse o seu coração machucado. Talvez fosse sua alma.

Naquele momento de sanidade, quando as lágrimas por fim deram uma trégua, ela pensou em tudo o que havia acontecido desde que segurara a mão dele. Lembrou-se de todas as palavras, de todos os carinhos. Lembrou-se de todos os momentos em que pensou o quanto estava feliz por ter encontrado alguém tão especial, que a fizera mudar a forma de ver o mundo. Ela tinha sorte por tê-lo encontrado. Maldita sorte. "Te adoro muito e a cada dia mais", disse ele certa vez. Risos. Isso não podia simplesmente ter esvaído de sua boca. Ela sentia que era verdadeiro. Ou pensou que fosse. Mas tinha de ser verdadeiro. Palavras não se desmancham assim no ar. Não as palavras verdadeiras. Ele não podia ter se esquecido disso. Não podia.

Na dualidade entre a tristeza e a revolta, ela encontrou força para pedir a Deus que conduzisse os pensamentos dele e o fizesse ver que estava sendo precipitado em sua decisão.

A menina não queria mais uma dor de abandono. Ela não suportaria mais essa dor. Ela só queria uma chance de mostrar que poderia sim fazê-lo feliz. Ela queria fazê-lo feliz. 
Porque a felicidade dele era a sua felicidade.

Ela queria ser a escolha e não apenas mais uma tentativa na vida de alguém.

Molhou os lábios. E percebeu que a ilusão tem gosto de lágrimas. 

Mãos que soltam, mãos que seguram firme

Acredito que todos nós temos aquela pessoa que sempre estará ao nosso lado para nos dar a mão, seja para pular de alegria, seja para apertar e dar força em momentos de tristeza, seja para nos erguer quando estamos caídos. Pois é. Eu tenho muitas pessoas assim. Muitas mãos dispostas a me segurar, enquanto outras me soltam.

Primeiramente e indiscutivelmente, as primeiras mãos que sempre aparecem para me segurar são as dos meus pais. Hoje mesmo, quando fiquei mal e estava prestes a cair (literalmente), as quatro mãos deles foram ao meu encontro e me seguraram. As mesmas mãos que comemoraram comigo cada conquista em minha vida. Um beijo em cada uma delas.

Mas, quando não me sinto confortável o suficiente sendo amparada por estas mãos, tenho as dos meus amigos. Sei que não tenho muitos, mas todos os que tenho são verdadeiros. Eu sinto isso. Hoje, minhas melhores amigas são as que estão longe. São aquelas que conquistei ao longo de quatro anos de faculdade. Dentre todas as mãos que se estendem pra mim em todos os momentos, quero falar sobre uma em especial.

Independentemente da distância, sei que posso contar com ela em todos os momentos. Quando estou feliz, ela me estende a mão e me cumprimenta e comemora comigo. Quando estou desanimada, ela me estende a mão, a aperta e me dá forças para continuar. Quando estou triste, caída, perdida, ela me estende a mão, me abraça e me acalma. Quando não há palavras para consolar ou animar, ela apenas segura minha mão. E isso já me basta para saber que posso contar com ela, seja quando for, seja para o que for.

E pensar que durante três anos mal conversamos ou nos cumprimentamos na faculdade. Sorte a minha compartilhar de seu gosto musical para iniciar o que hoje é uma de minhas amizades mais importantes. “Nossa, você também gosta da Pitty?” “Siiiim” “E de Linkin Park?” “Siiiim” “Nossa, cara, eu amo muito”. Não foi bem esse o diálogo, mas foi essa a situação.

Às vezes, nem preciso explicar direito o que estou sentindo porque ela já completa o que eu iria dizer e diz que entende. E eu sei que ela entende, de verdade.

“Mariana, você é muito eu, cara.” 
Acho que essa frase resume o que tentei dizer aqui.

Obrigada, Mari, por sempre me estender a mão e estar comigo quando preciso. E saiba que estarei sempre aqui quando precisar. E quando não precisar, também ~risos. 

Mesmo distante, você é a que mais está presente na minha vida. 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Na beira da estrada – parte 1

Fazia muito calor naquela manhã. Com o corpo banhado numa mistura de lágrimas e suor, ela despertou. Infelizmente. Abriu os olhos, temendo ver a realidade bem ali na sua frente, temendo se deparar com o que mais parecia um pesadelo. Não, não estava sonhando. Tudo aquilo acontecera de fato. Pensou e lembrou-se de tudo. Por que tinha que acordar? Por que seu desejo de não acordar para aquela dor não havia se realizado? Por quê? Por quê. 

Não tinha as respostas.

Olhou em volta e não viu nada além daquela triste e sombria estrada em que fora abandonada. Em que lhe soltaram a mão. Abaixou a cabeça, numa tentativa de entender, mais uma vez, o que havia acontecido. Ainda estava tonta pelo baque que as palavras dele lhe causaram. O impacto foi muito grande. A cabeça estava pesada. O ar estava pesado, como num daqueles dias quentes que ameaçam chuva. Mas ela sabia que a chuva era, na verdade, seu pranto.

Havia se passado apenas um dia. Para ela, eram meses. Perdera a noção do tempo. Não se alimentava. Não chorava mais. Já não tinha mais lágrimas. Seu corpo e sua alma sucumbiam sob tanta dor e pesar. Desejava ficar ali sentada até que o tempo a consumisse. Até que o tempo consumisse sua dor e, somente assim, restaurasse a paz em sua alma. Por dentro, ela gritava. Gritava até perder a voz. Gritava para acordar para a vida, para despertar do estado de dormência em que se encontrava desde que os olhos dele se perderam de seu olhar. Mas ninguém a ouvia.

Foi apenas o primeiro dia de angústia. O primeiro dia de expectativas. O primeiro dia de muitos dias assim. E o fim desses dias era tudo o que ela temia.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Um grito silencioso

Ainda podia sentir as palavras martelando seu coração. Desejava que aquilo tudo tivesse sido apenas um de seus pesadelos. Antes fosse. Agora já não chorava. Mas não porque não queria. Muito pelo contrário. Já não havia mais lágrimas para chorar. Ainda podia ouvir os passos dele se afastando de sua vida. Tinha medo de que não voltasse.

De repente, ela se viu outra vez perdida naquela imensa estrada chamada Vida. Da última vez que se sentira assim, alguém havia soltado sua mão durante o caminho. Na queda, ela se machucou um pouco. Não estava acostumada a sentir aquela dor. Doeu muito. E ela não queria mais sentir. Ergueu a cabeça, tirou um pouco do pó que repousava sobre sua roupa e secou as lágrimas. Num súbito impulso de coragem, levantou. Sabia que teria forças para continuar sua caminhada sozinha. Talvez aquela mão que a conduzia não fosse a mais forte, não fosse a mais carinhosa, a mais amiga. E resolveu que não daria mais a mão a ninguém que pudesse fazer isso com ela outra vez. Não queria mais a dor do abandono, a dor da rejeição. Decidiu que caminharia sozinha até encontrar alguém especial, que segurasse sua mão de um modo doce, carinhoso e confiável.

Depois de muitos passos naquela estrada longa e cheia de curvas, ela avistou alguém. Parecia ser diferente de todas as pessoas que encontrara até ali. Parecia especial. Especial. Sim, era essa a palavra. Ao se aproximar, temeu não ser vista por ele. De fato, não a viu. Passou de novo a sua frente. Depois de um tempo, ele a viu. E ela sentiu que aquela seria a mão que não a soltaria. Soube desde o início que aquele era o alguém que não a deixaria cair naquela estrada outra vez. E se apaixonou por ele. E ele por ela. Ao menos, era o que parecia. Mas ela não queria estar enganada. Não deixaria seu coração enganá-la outra vez. Não queria mais aquela dor terrível.

E deram-se as mãos.

Antes, ela se sentia sem rumo. Andava a esmo pelos caminhos que surgiam a sua frente. E estava bem andando daquele jeito. Mas se sentiu melhor quando segurou na sua mão. Ao que tudo indicava, ele estava na mesma situação. E pareciam bem andando juntos. De mãos dadas.  De repente, eles pararam. Ela aproximou os lábios de seu ouvido e disse, com a voz hesitante:

— Não me solte, por favor.

Fez-se um minuto de silêncio até que ela se afastou, para olhar em seus olhos. O gesto que ele fez com a cabeça apenas confirmava o que seus lábios diziam:

— Eu não vou abrir mão de você. Não vou.

As palavras dele serviam como o chão para ela. Ela confiou. Ela acreditou. Ela queria que fosse assim.

E continuaram a caminhar. Sem vacilos. Sem tropeços.

Quando a estrada parecia ter um rumo certo, definido, eis que o golpe das palavras dele a arremessaram ao chão outra vez.

— Preciso de um tempo para pensar.

As palavras tiraram a expressão do rosto dela, ecoaram em seus ouvidos incrédulos e lhe atingiram em cheio no coração. Doeu. Ela não esperava por isso. Tentava entender. Queria se culpar. Mas ele disse que não seria o fim do caminho. Não importava. Ela amou na proporção errada. Amou mais do que ele a amava. Aliás, ele não a amava. E ela pensando que ele nunca havia dito “eu te amo” porque era especial. Ingênua. Boba.

Enquanto ela tentava pensar, organizar seus pensamentos, ele a puxou para perto de si e a abraçou. Ela não queria seu abraço porque era um abraço de despedida. Deus do céu. Não sabia quando o veria de novo. Não sabia se seus caminhos se cruzariam outra vez. Não sabia se ele iria querer caminhar ao seu lado, de mãos dadas. Com a voz espremida no choro, ela disse baixinho:

— Não faça isso comigo... Não solte a minha mão. Você prometeu...

Estavam frente a frente. Um último olhar. As mãos que antes apertavam, agora a soltavam dedo a dedo, até não restar nenhum contato. Ele a soltou. Ele a soltou! E a menina caiu. Desolada. Desesperada. Confusa. E sentiu que as lágrimas inundavam seu rosto inexpressivo. Ele não a levantou. Caminhou. Enquanto ela ouvia seus passos se afastando, viu que ele olhou para trás. Ficou com esperança de que voltasse e a erguesse dali e segurasse sua mão novamente e caminhasse com ela. Mas nada disso aconteceu.

Ele já estava longe quando ela, numa última tentativa de se levantar, soltou um grito. Um grito tão silencioso que fez doer a sua alma. Doeu muito. E ela não sabia se teria forças para se levantar outra vez. Ela não sabia se queria se levantar outra vez. Ele retirou as palavras que antes eram seu chão: “não vou soltar a sua mão”. Mas soltou.


E ficou perdida novamente naquela estrada. Sem fé. Sem rumo. Sem perspectivas. Sem uma mão para segurar. Apenas ela, suas lágrimas e a dor do abandono. No meio da estrada, apenas teve forças para sentar, abraçar-se aos joelhos e chorar. E chorou. Chorou de soluçar. Chorou até que não houvesse mais lágrimas. Chorou até adormecer. 

Se desse sorte, não acordaria mais para a dor.

Meio termo

E lá estava ela novamente diante de sua falta de controle. Falta de controle sobre seus sentimentos. Sobre seus impulsos. Sobre sua vida.

Não sabia lidar com expectativas. Não sabia lidar com sua impulsividade. Não sabia lidar com nada. No fundo, ela tinha certeza de que a causa disso tudo era uma só: a intensidade com que vivia e sentia as coisas.

Nunca soube encontrar um meio termo. Se gostava, amava demais. Se não gostava, odiava. Ou era muito ou era pouco. Nunca o “mais ou menos”. Nunca. Sempre foi assim. Com tudo. Com todos. Era tudo muito extremo. Era tudo muito intenso.

Dessa vez, ela sabia que poderia pôr tudo a perder só porque não conseguia controlar seus sentimentos. Não conseguia controlar a força com que sentia. Era como se andasse em câmera lenta no meio de um furacão. Extremos. Simples palavras foram capazes de desencadear um turbilhão de pensamentos, um tornado de emoções.

Agora, tudo lhe vinha à mente. Todas as suas palavras. Todos os seus gestos. E ela tentava pescar, de relance, algo que pudesse ter gerado tudo isso. Um erro. Uma falha. Mas nada parecia coerente. Ela não era coerente.

Podia sentir as batidas do coração sufocando-lhe. Era como se segurasse seu coração e estremecesse a cada batida. As batidas eram fortes. Intensas. Assim como ela sentia tudo.

A única coisa que podia fazer era esperar (mas, como?). E escrever em terceira pessoa para tentar aliviar sua angústia. 

E fez uma pausa na escrita para levar as mãos ao rosto e enxugar as lágrimas que agora embaralhavam sua visão. 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Lágrima de verão

Há dias que não chovia. Pelas suas contas, a última vez que chovera foi também a última vez que ela havia chorado. As gotas d’água eram como suas lágrimas. Enquanto a chuva lavava o ar e as coisas da terra, as lágrimas lavavam sua alma. Agora, o calor a sufocava. A ausência da chuva e das lágrimas a privavam da limpeza de que tanto precisava. Ela precisava de água. Ela queria uma chuva em sua alma.

Naquela tarde de dezembro, deitada na rede sob as árvores, sentia os raros sopros de vento tocarem seu rosto. Enquanto o vento beijava seu rosto e espalhava seus longos cabelos pretos, embalava a rede e conduzia seu corpo em um suave movimento capaz de adormecer qualquer corpo cansado. De vez em quando, ela permitia que o vento invadisse seus pensamentos e trouxesse de algum lugar perdido em suas memórias aquelas sensações que agora lhe eram estranhas. Muito do que vivera até ali foi aprisionado no tempo de suas lembranças. Mas não porque ela quisesse que fosse assim. Simplesmente foi.

O embalo da rede e o toque do vento deixavam seu corpo à mercê do acaso. Suas pálpebras estavam pesadas. Suas mãos, que antes seguravam o livro, estavam desfalecidas e agora se moldavam ao seu corpo. Seus cabelos, bagunçados pelo vento, se espalhavam em sua face e lhe causavam pequenos arrepios. Conduzida pelo ritmo suave da rede, adormeceu. O vento invasor de pensamentos, de repente, cessou. E uma onda de lembranças lhe invadiu a mente em forma de sonhos.

Foram os vinte minutos mais pacíficos e, ao mesmo tempo, mais conflituosos que vivera nos últimos meses.

Os olhos fechados deixaram escapar uma lágrima, que molhou seus lábios. O gosto salgado na boca a trouxe de volta do sono profundo e dos sonhos feitos de memórias. De sobressalto, seu corpo que antes moldava a rede, agora estava trêmulo. Ela não queria ter dormido. Toda vez era essa agonia. Ela não queria aquelas lembranças. Ela não queria sonhar. Mas teve o que precisava, mesmo que escassa: uma lágrima. Pôde, mesmo que por um instante, lavar sua alma. Soube que, mesmo que involuntariamente, conseguiu o que há muito precisava.

Uma lágrima. Uma pequena chuva de verão. Uma lágrima de verão.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sem palavras

E quando a falta de concentração e domínio das palavras superam minha vontade de escrever?
A cabeça não controla mais os pensamentos. Está difícil organizá-los.
Então, deixo que as músicas falem por mim.

Hoje, estou no contexto desta música:


Apenas isso.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Em branco

A página em branco. A necessidade de escrever. A ausência de ideias. A falta de paciência. O desânimo. O choro. Palavras soltas, incoerentes. Eu. 

Talvez a incoerência seja a coisa mais coerente em mim. 

Incoerentemente coerente.