terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Dos nós que nunca foram laços

E eu que achei que você nunca tivesse saído de mim, de repente te vejo do lado de fora.

Quem foi que trancou a porta do peito meu? Você saiu e eu nem percebi, você volta e surpreende. As janelas da minha alma estão abertas, consegue pular? Vejo pelo vidro meio embaçado os seus olhos de tristeza que se prendem ao meu olhar de saudade e isso me dói, uma dor que consome cada pedaço de mim que restou de sua partida.

Você entra.

Cara a cara, eu e você. Quanto tempo você esteve lá fora, por que demorou para voltar ao abrigo que sempre foi seu? Talvez você tenha dado tempo demais a nós dois, o tempo muda as pessoas e eu mudei também. Acho que mudei mais do que deveria, acho que você voltou porque não encontrou morada melhor, porque sabia que as portas do meu existir estariam sempre abertas para você, que sempre teve as chaves do meu ser. Você me olha e finge não ver, você me toca e eu finjo não sentir, eu te sinto e finjo não estar.

Eu suspiro e quase te mato, você respira e tenta me reviver.

Estranhei os olhos em que sempre me reconheci. Afinal de contas, meu bem, foi você ou fui eu que mudei? Sua pele encosta na minha e o arrepio agora parece ser de temor por perceber que trago sepultado no peito o meu sentir. Sua boca quente toca meus lábios tão frios e eu me congelo porque foi assim que aprendi a me amortecer e não mais sentir o que me seria vital e que causaria minha morte se acaso me faltasse. Você me faltou e eu morri.

Quem foi que desatou a gente? Se é que um dia houve nós. 

7 comentários:

  1. "Você me olha e finge não ver, você me toca e eu finjo não sentir, eu te sinto e finjo não estar": Que frase!
    Eu sei como é estranho, e louco, e tanta coisa, meu deus. Mas, às vezes, melhor do que muito sentimento. A gente nunca sabe.

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  2. PQP! Que texto magnífico!!

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  3. Perdi a conta de quantas vezes li esse texto. Tão belo, Dani. Tão profundo, tão triste e. Tão. Belo.

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  4. Que texto maravilhoso! Além de tudo sinestésico. Fantástico!

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