Hoje eu me
lembrei do que já deveria ter esquecido. Acordei de sobressalto e chamei pelo
seu nome, mas meu grito ecoou no silêncio da casa vazia e me fez sufocar o
desejo de ouvir a sua voz. Mas, sabe, acho até que já me acostumei com a sua
ausência. A saudade é que insiste em chamar por você, em querer você aqui, em
querer tê-lo na nossa cama. Eu já nem lembro mais do seu sorriso lindo, da cor
dos seus olhos castanhos, do jeito como você me olhava e me dizia coisas
bonitas de amor, de como você apertava meu queixo e me olhava e me beijava tão
lentamente. Eu me esqueci de tudo isso. Eu nem me lembro mais.
Pedi para não
ir, você não me ouviu. Disse para ficar, você não respondeu. Perguntei-lhe o
que seria de nós, mas com um beijo você calou a minha voz. E o nosso amor
emudeceu. E eu lhe disse que silenciar também é dizer. Você virou as costas e
saiu da nossa casa, da nossa história, da minha vida. Você saiu e fechou a
porta, mas esqueceu de levar algumas fotografias, algumas lembranças, um pouco
de todo esse amor que ficou aqui em mim. Mas eu só percebi depois, meu bem, que
o amor que eu lhe reservei não foi o bastante para nós dois. Agora, todas essas
coisas que você não quis me fazem companhia.
Já que a solidão
é tudo o que me resta, eu quero ficar inteiramente só. Eu já me acostumei a
esquecer, já me acostumei comigo mesma e ninguém mais. Por isso, precisei me
desfazer dos seus retratos que enfeitavam os vãos da estante, que guardavam
meus olhares, que causavam meus sorrisos. Recolhi todos eles e os coloquei na
caixa junto aos planos que eu havia feito para nós dois. Peguei tudo o que era
nosso e escondi de mim mesma. Eu preciso esquecer o que as lembranças insistem
em me mostrar. Quanto tempo faz?
Tudo que vai,
precisa ir de vez. Tudo que fica, precisa ir também. Tudo de ti e tudo de
mim, nada mais de nós. De mim, você teve tudo. Em mim, de ti restou nada. O
problema, meu bem, é que ser nada também é ser alguma coisa.
Tudo que fica,
deixa vontade. Tudo que vai, deixa saudade. Mas as minhas vontades desistiram
de você e a minha saudade quase não te sente mais.
Lindo demais.
ResponderExcluirLindo texto Dani... sempre leio seus textos, pois eles transmitem em mim a paz que talvez você não sinta... sou fã dos seus textos sempre tão lindos dignos de um belo livro...
ResponderExcluirExcelente texto, Dani. Parabéns!!
ResponderExcluirPuta merda gata, parabéns pelo talento. Lindíssimo texto e escrita, sucesso.
ResponderExcluirNossa....lindo! Incrível como muitas vezes estamos sós...porém com sentimentos e sensações tão próximas à muitos de nós. Me vi em suas palavras há alguns anos atrás.
ResponderExcluirParabéns, lindo texto! Me identifiquei demais
ResponderExcluirE incrivel como voce toca cada um que le esses textos, nao me canso de ler eles, sao maravilhosos, e descreve cada momento, cada dor, cada sentinento vivido. Obrigada pelas suas palavras, que me fazem um bem danado.
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