Tijuana, Baja California, 30 de maio de
1989.
Olá.
Finalmente, posso lhe escrever sem que
as lágrimas caiam de meu rosto e borrem a tinta no papel a cada palavra que sai
da ponta desta caneta que tão tremidamente se prende à minha mão.
Eu quis escrever antes, acredite. Mas
eu não pude, entenda. Doía demais pensar em você, lembrar de nós. Foi preciso
desatar os laços, nos desfazer. Eu desfiz nós e isso me doeu. Doeu em você
também? Ainda dói um pouco, confesso. Mas acho que eu já me acostumei a essa
dor, sabe? Ou a dor se acostumou comigo e agora não me faz mais chorar, não
sei. Acho que a dor me amorteceu um pouco. Às vezes, parecia que haviam me
arrancado o coração e, mesmo assim, eu continuei vivendo. Foram dias estranhos,
dias parecidos comigo. Tenho a sensação de que não dormi durante todos esses
meses. Mas, mesmo assim, eu acordei.
Hoje eu acordei e vi o sol dessa manhã
não-mais-tão cinza de primavera. As estações do ano são muito estranhas aqui,
sabe. Demorei a me habituar a esse clima, sobretudo a toda essa mudança. Eu
gostava mais do mês de maio quando era outono. Aqui é tudo ao contrário, às
vezes fico meio perdida. Sobretudo ao cair da tarde ou nos dias chuvosos. Mas a
gente se acostuma, né? A gente precisa se acostumar com as horas que passam,
com os dias que se arrastam, com as estações que mudam, com as chuvas que não
caem, com o tempo que é sempre tão paradoxal. No fim, a gente acaba se
acostumando com as ausências, também. A vida é, na verdade, um eterno
acostumar-se.
De uns dias para cá, eu tenho sentido
menos. Hoje, de novo, acordei te amando menos e me amando mais. A dor que havia
me amortecido está passando aos poucos, estou voltando a me sentir. Somos
velhas conhecidas, a dor e eu. Talvez seja por isso que eu consigo lidar com ela.
Primeiro, eu senti muito. Depois, eu
senti falta. Agora, eu sinto mais nada.
Se você me perguntar como eu estou,
sinceramente eu não saberei dizer se estou bem ou mal. É bem provável que eu
diga apenas que as coisas estão indo. Porque é isso que as coisas fazem na
vida, elas vão. Elas precisam ir. Eu estou indo, também.
Espero que você sinta a minha falta
tanto quanto eu não sinto a sua.
Cuide-se sempre.
Alguém.
Lindo texto!
ResponderExcluirLindo mesmo!!
ResponderExcluirQue texto lindo.
ResponderExcluirperfeito
ResponderExcluirDemais!
ResponderExcluirAmeeei *o*
ResponderExcluirNão há o que dizer diante de palavras tão bem alinhadas.
ResponderExcluirGostei muito da sua escrita!
Perfeito o seu texto *-*
ResponderExcluirMe define. Lindo texto!!
ResponderExcluirLindo.
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