sábado, 28 de abril de 2012

Ameno



Era impossível olhar nos olhos da menina. Difícil encontrar um olhar tão perdido. Triste encarar a escuridão de olhos que antes brilhavam tanto. Doía vê-los banhados em lágrimas de um choro contido. Lágrimas que se incorporaram a eles, tantas as vezes que foram impedidas de escorrer. Elas precisavam sair. Estavam sufocando a alma da menina. Acho que afogaram seu coração. Sentia-o tão frio, triste, apertado, tão sombrio. E isso a amedrontava. Já não era como antes. Já não sentia como antes. E isso se refletia em seu olhar.

Um olhar tão vazio quanto seus sentimentos.

Um olhar tão perdido quanto ela.


— Seja amena, menina. Tenha calma. Tenha paz, pequena, que as tuas dores serão amenizadas. Seja suave, menina. Encontra-te em teu olhar. Não te percas em teus sentimentos. Encontra-te em ti. Resgata-te. Cura-te! Que as dores passam. Ah, sim, elas passam. Seja doce, menina. Não deixes que a amargura de tuas mágoas cheguem ao teu coração. Abranda-te. Ameniza-te, pois tuas dores serão aplacadas. Aquieta o teu coração e adormece. Esquece. Recomece. Pois tuas quedas serão amortecidas por tuas esperanças. E a luz de um novo dia lhe dará o brilho de que necessitas para encarar-te em teus olhos novamente. Deixes que te encontrem, também, em teu olhar. Teus olhos são o espelho de tua alma. E as lágrimas impedem que te vejam como realmente és. E sei que és doce, menina. Sei que és amena, menina. Sei que és tudo, menina, mas não permitas que te transformes em nada. Tira esse nada de ti. Seja leve, menina. E seja menina, menina.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Em cada anoitecer

Aquela tarde caía como uma folha desprendida do topo da árvore, que fica à mercê do vento e se destina à queda. Rodopiando no ar, de um lado para o outro. Lentamente. Serenamente. Nada pode interromper seu percurso. Nada cessa seu cair. Exceto o chão. Ali pararia para sempre. Mesmo que esse sempre fosse o tempo suficiente para se decompor. Assim era o dia, que só parava de cair com a chegada da noite.

O céu escurecia aos poucos. O silêncio instaurado era quase sepulcral, invadido apenas pelo balançar dos galhos da árvore.  Um dia sufocante. Quente. Exaustivo. Clima pesado. Um dia arrastado, que a arrastava consigo.

As réstias do sol encontravam um rosto perdido na penumbra do quarto. Os dedos entrelaçados num aperto de mão meio solto, meio apertado. Debruçada na janela, a menina observava o sol já agonizante em seu leito de morte. Uma breve morte, aliás. Todos os dias eram assim. O sol nascia, o dia se arrastava, o entardecer sepultava o sol e a noite absorvia o dia na plenitude de sua escuridão. Todos os dias. Todos.

Ela se lembrou do “até algum dia” que lhe disseram. As palavras ecoaram na lembrança da menina. Fechou os olhos e abaixou a cabeça. Ah, algum dia... Quando? Em breve, talvez. Nunca, quem sabe. E ela pensou que a cada algum dia que se passava, sua esperança morria um pouco. E mais um pouco. E mais um pouco. E mais um pouco... Até restar nada. Isso a deixava feliz, aliviada. Uma esperança que agoniza é mais dolorosa do que uma esperança que morre de vez.

Levantou a cabeça e olhou fixamente para o horizonte. O céu, em todo o seu esplendor azul manchado de laranja, lentamente era tingido pela imensidão da noite. O rosto da menina, agora no escuro, carregava um sorriso de alívio. Os olhos apertados deixaram escapar uma lágrima. Sinal de luto pela morte do sol, de pesar pela morte da esperança. Mas um sinal de alegria pela libertação de sua alma.

A menina pensou que aquele ritual de nascer e morrer todos os dias era o mais sublime e perfeito que já vira. No fundo, com ela acontecia o mesmo.

Talvez ela fosse como o sol, que precisa nascer e morrer todos os dias.

Em cada amanhecer, uma esperança que nasce. Em cada fim de tarde, uma ilusão perdida. Em cada anoitecer, a chance de um renascimento.

E a menina foi engolida pela escuridão do quarto inerte e vazio. Outra vez.  

sexta-feira, 6 de abril de 2012

“Você é tão eu, cara”

Sabe quando você pensa ser a única pessoa a estar passando por determinada situação ou a se sentir mal por algo aparentemente bobo? Então. Por um bom tempo eu me senti assim. E nunca havia me sentido à vontade para conversar com alguém sobre minhas angústias, minhas frustrações, minhas expectativas e sobre meus medos. Na verdade, muitas coisas eu sequer admitia existirem. Mas aí conheci alguém que, além de gostar de duas das minhas bandas preferidas (e ter um excelente gosto musical, diga-se de passagem), compartilhava minhas angústias, frustrações, expectativas e até meus medos. E a personalidade, então? Gostamos das mesmas coisas e não gostamos das mesmas coisas, também. O que a irrita, irrita a mim. O que a agrada, agrada a mim, também. Eu diria até que ela é minha gêmea de personalidade. Segundo ela, fomos gêmeas em outra vida. E eu acredito, viu, porque nunca encontrei ninguém que se parecesse tanto comigo. E ainda dividimos o amor por gatos. Pode isso?

Hoje, dia 06 de abril, é aniversário dela (somos do mesmo signo, inclusive) e eu gostaria de lhe desejar tudo de melhor que possa haver nessa vida.

E quero, também, agradecer-lhe. Agradecer pelas conversas, rindo ou chorando; pelas sempre excelentes dicas de músicas; pelos momentos de riso e de medo compartilhados (o maluco da pipoca doce, por exemplo); pelo apoio e conforto num momento em que achei que fosse morrer de dor e pesar; pelos tantos desejos de “força e luz nessa semana” em tantos domingos à noite; e agradeço, sobretudo, pela sua amizade. Obrigada. Obrigada por me fazer sentir melhor, independentemente de como eu esteja. E saiba que eu estarei sempre aqui, mesmo um pouco distante. Mas a gente sempre dá um jeitinho nessa distância, certo? Certo.

Obrigada por ser tão eu, cara.

Feliz aniversário, Mariana Alves!

Ops.