sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Infinito

Não, eu não sabia o quanto você gosta de me ver dormir... Que bonito isso de ser a definição de paz de alguém. Você é minha calma e meu caos, sabia? Sinto-me seguro e perturbado ao seu lado, tudo ao mesmo tempo. Acho que esse não-saber-ao-certo-o-que-sentir é amor.

Desculpe-me se te assustei hoje pela manhã, eu tive um pesadelo. Por um instante, tudo parecia perdido, até que eu encontrei o seu olhar. Eu não sei exatamente o que sonhei, só sei que acordei com medo. Muito medo. Medo do meu passado que me assombra, do meu presente instável, do meu futuro duvidoso. Sim, meu amor, não há como delimitar o tempo, eu sei. Mas eu me preocupo. Hoje, estamos aqui. Mas, e amanhã? E depois? Não se sabe. Você conhece bem as minhas manias, já está habituada às minhas paranoias, entende meus medos. Eu não consigo simplesmente me deixar levar.

— Eu seguro a sua mão.

Segure a minha mão e me abraça? Me abraça e me aceita, do jeito que eu sou. Me abraça e deixa eu ficar em você, porque eu já não caibo em mim. Ah, meu amor, deixa eu morar no seu abraço? Seu abraço me dá a segurança que preciso para seguir por esses caminhos que a vida vai desenhando no nosso chão. No seu abraço eu me sinto mais forte, maior, eu me sinto infinito. Você também sente isso, eu sei. E as nossas imensidões se encontram e se delimitam pelo contorno dos nossos corpos envoltos num abraço apertado. Sim, meu amor, somos atemporais. Não importa onde, não importa quando, nós dois existiremos porque estamos um dentro do outro, presos em um abraço. Me abraça forte, que minhas fraquezas não resistirão. Me abraça lentamente, que minha pressa se vai. Me abraça delicadamente, que minha pele se encontra com a sua. Me abraça intensamente, que meus olhos buscam sentido nos seus. Me abraça, me aceita, me abraça e não me solta mais, porque eu quero me sentir infinito sempre com você.

(Resposta a "Atemporal")

Atemporal

Já lhe disse o quanto gosto de me sentar à beira da cama e velar o seu sono? Eu amo observar seus olhos fechados, seu rosto sereno, sua respiração compassada num ritmo lento e tranquilo. Adoro passar a mão de leve em seus cabelos, no seu rosto, tocar seus lábios. Seu sono é sempre tão calmo, tão bonito de se olhar. Ver você dormir é a minha definição de paz.

Mas, hoje, você acordou de sobressalto e me encarou apreensivo. Pela primeira vez em todas essas noites de vigília, você me pareceu assustado, com medo. Vi nos seus olhos sempre tão calmos o caos instaurado. O que quebrou a sua paz? Parece que você se perdeu dentro de si. Segurei firme suas mãos e tentei te trazer de volta, mas você tinha olhos de saudade. Para onde você foi? Você se perdeu no passado, no presente, no futuro. Onde estamos agora? O problema é querer delimitar o tempo, como se isso fosse possível. O tempo é enquanto, é quando, é sempre, é nunca. Ah, meu amor, não se preocupe com o tempo. O infinito não depende só de ser, depende também de estar. Enquanto estivermos um dentro do outro, seremos infinitos. E nós somos atemporais, meu bem.

Foi então que você me abraçou forte e chorou, por mais que tentasse evitar as lágrimas.  Por um instante, você sentiu que éramos infinitos e eu pensei que fôssemos um só. Não há tempo que nos defina, não há espaço que nos separe. E eu chorei com você. Não sei lidar com essas tristezas repentinas que batem, machucam, fazem chorar. Ah, meu amor...

Calma, está tudo bem agora. Deite-se. Eu vou me deitar ao seu lado e te abraçar até você dormir. Segurarei sua mão quando você acordar. Não tenha medo. Eu estou aqui, eu sempre estive, eu sempre estarei. Vamos dormir e sonhar, meu amor, porque os sonhos também nos fazem infinitos.