terça-feira, 31 de dezembro de 2013

E quem é que nunca desejou morar em um abraço?

“Obrigada por não desistir de mim", ele me diz em tom melancólico apesar de feliz, apertando ainda mais seu corpo contra o meu e segurando minha mão como nunca havia feito. Ouço a angústia misturada ao alívio em sua voz e, enquanto me viro de frente para ele, busco encontrar o seu olhar. “Como se eu realmente pudesse”, devolvo-lhe sorrindo. Enrosco meus braços em seu pescoço e meu olhar agora está fixo no dele. Sinto que preciso eternizar esse momento e aproximo meus lábios desenhados em um meio sorriso trêmulo dos seus lábios tão bem riscados em seu rosto bonito, e o beijo ternamente. Fecho os olhos por um momento na tentativa de conter as lágrimas que eu jurava terem secado desde que ele partiu sem me dar esperanças de retorno. Mas as lágrimas me fogem aos olhos e eu choro e isso me faz sentir que estou viva. Ele voltou para me resgatar do poço de solidão que eu mesma cavei durante todo esse tempo. Sorrio e afasto meus lábios dos dele, abominando toda e qualquer lembrança amarga que as lágrimas poderiam me trazer neste instante. Não, são lágrimas de felicidade, de alívio por não ter morrido, de gratidão por ele ter me salvado de mim mesma. Sussurro um “obrigada” com a voz entrecortada e ele me aperta contra seu peito e beija-me na altura da testa. Eu, que sempre me senti perdida, naquele instante percebi que ele era o lugar onde eu tantas vezes quis estar. E desejei morar para sempre em seu abraço. 

domingo, 29 de dezembro de 2013

Se dói comigo?


Desculpe-me, antecipadamente, por ocupá-la tão tarde. Precisava falar. Precisava chorar sobre o ombro de alguém, mas as lágrimas não descem mais. Tenho a impressão de ter secado. Não sei se conseguiria traduzir o que sinto agora e seria vão ter uma crise de verborragia em mais um e-mail. E você também não vai querer me ouvir. Eu sei. É que me sinto completamente inabitável, no momento. E espero que não seja absurdo te pedir um espaço para que você me guarde por algum tempo aí dentro de você. Não consigo segurar todo esse caos sentimental agora. Você entende? Porque não consigo me compreender. Se possível, me traga uma camisa de força. Me interna em alguma clínica que cure dor de amor. Eu quero que minha alma fique nua, pela primeira vez. E eu não me importo que os vizinhos vejam. Eu quero gritar também e não vou ligar, se acabar preso. Eu quero me rasgar inteiro e sair correndo para qualquer lugar que não seja aqui dentro de mim. Mas toda vez que eu corro de mim, eu sempre acabo caindo no mesmo buraco onde a dor mora. E não há gole de cachaça barata ou cigarro vagabundo que dê jeito. Eu me afogo dentro da dor, dentro do copo, dentro dessa vida que quase não parece ser minha. Ninguém vê quem sou nem o que sinto. Eu sou uma máscara, porque ela entranhou em mim e eu não consigo mais tirar. E toda vez que consigo ser feliz, acabo sendo um feliz triste. E toda vez que eu ganho da vida, acabo ganhando triste. E toda vez que eu fico rodeado de pessoas, a máscara brilha num sorriso que não é meu e eu continuo triste. Será que acabei por me tornar uma caricatura mal feita de mim mesmo? Porque o que sou não condiz com o que as pessoas vêem. Nem com o que vejo em mim. Acho que me perdi quando amei. Levaram-me de mim e eu não consigo me encontrar em lugar nenhum dessa casa, dessa cidade, desse país, do mundo... Eu tenho me esforçado para ser parte, juro para você, mas acho que essa metade que ficou comigo é o todo que sou. E vou ter que me conformar com ela, se eu quiser ser feliz um dia. E é esse conformar que eu não consigo. Eu ando para a frente, mas meus pensamentos ficaram no passado. E toda vez que eu acho que dei um passo certo, eu percebo que caí em mais uma pegadinha da vida, onde eu acabo tropeçando nas minhas lembranças e caindo sobre a minha dor outra vez e outra vez e outra vez... Você sabe como é que se colocam pontos finais em nossas histórias? Ensina-me, um dia. A minha vida só possui vírgulas e reticências. E eu preciso expurgar alguns maus sentimentos da minha memória. E cá estou eu falando demais, querendo demais, te pedindo demais, te enchendo demais... Segura a minha dor por mim. Só um pouquinho. Só por hoje. Deixa-me morar em você? Prometo não bagunçar nada, se você prometer me guardar em ti. 

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É difícil explicar o que senti depois de ler todas essas palavras que pareciam sair do monitor e me atingir de uma forma tão pungente que me fez sentar por alguns instantes e chorar. Queria ter você aqui deitado no meu colo para que eu pudesse te ouvir e fazer carinho nos seus cabelos e enxugar suas lágrimas que a essa altura estariam misturadas com as minhas e poder lhe dizer “calma, meu querido, calma”. A verdade é que eu nunca sei o que dizer quando você me fala de você, dos seus medos, do seu não-saber-o-que-sentir, porque eu sinto o mesmo que você (ou nada sinto?), mas confesso que fico melhor por saber que não estou só. Por um momento, olho em volta e a desolação do meu quarto nessa madrugada insone e sufocante me faz querer estar em qualquer lugar que não seja eu. Eu deixo você morar em mim se me deixar ficar em você. Tudo o que tenho é a minha solidão e o desejo de ter você aqui para encaixar seus excessos nos meus vazios e, quem sabe assim, nós nos completaríamos. Talvez nós dois só precisemos mesmo de calma, talvez nós só precisemos um do outro porque não podemos viver em nós mesmos. Como fugir dessa tempestade de angústia que deságua dentro de nós? Você se sente só e eu entendo. Você não sabe o que sentir e eu sinto o mesmo. Você se afoga em mágoas e eu tento te salvar a vida, mas sinto me afogar também. Você se sente perdido e eu seguro a sua mão porque estou perdida também. Podemos seguir junto esse caminho incerto que a vida desenhou no nosso chão. Será que chegaremos a algum lugar nessa viagem que fazemos dentro de nós? Eu não sei. Mas eu posso te fazer companhia. Você não está só. Eu tenho vazios suficientes para te abrigar em mim. E se eu precisar extravasar os meus excessos, você me deixa transbordar em você.
Sobre os pontos finais, eu tenho mania de vírgulas e me calo sempre em reticências. E quantas palavras não ditas cabem nelas, eu não sei. Acho que nossa história é meio que sem fim. Continuemos a escrever, meu querido, que a escrita é a forma mais discreta de sangrar.
Desculpe se minha resposta não lhe dá o conforto de que tanto precisa nessa dor que é ser você.  Sei que poderia me derramar tanto quanto você se derramou, mas a verdade é que eu estou vazia.

Dani Lusa

Este texto, tão doído para mim, foi escrito com o meu querido Cadu, que entende e que sente o que eu sinto. Sim, eu gosto de me doer com você.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Amar o perdido

Houve um tempo em que eu acreditava em eterno, até que eu te perdi.
Te perder foi a pior coisa que já aconteceu em toda a minha vida. Deixou meu pobre coração totalmente confuso. Esquecer você é algo impossível, mesmo eu querendo.
Sinto saudades do tempo em que te tocar era a melhor coisa do mundo, porém do nada, senti você indo embora, deixando apenas saudade.
Tudo o que vivemos juntos ficou para trás.
Todos diziam que o nosso amor não duraria. Mostramos que, mesmo com a distância, nosso amor continua firme e forte e ele é lindo, mesmo com nossos defeitos.
Tudo o que eu quero, ou melhor, que eu preciso, é você aqui.
Não consigo me conformar com o porquê de o destino ter nos separado. Um amor tão grande e bonito sendo separado num piscar de olhos.
Amar o perdido é difícil, mas preciso para continuar feliz. Amar o perdido é chorar sozinha e baixo, para que ninguém escute. Amar o perdido é simplesmente amar aquilo que foi seu e que um dia, quem sabe, ainda será. 


Por Marianna Nardello Buche, aluna e escritora querida minha. 

domingo, 15 de dezembro de 2013

Embriaguez (senti)mental

A ebriedade dessa madrugada insone invade meu quarto e tonteia meus pensamentos que se perdem e tropeçam e caem em cima de você. Por que você ainda está aqui? Já pedi que saísse, que fosse embora tão rapidamente quanto chegou na minha vida, que me deixasse em paz e só. Ao meu lado na cama apenas um espaço vazio e no lençol branco ainda estão as marcas do vinho que bebemos e depois rimos e nos abraçamos e nos amamos tão ardentemente pela última vez. Pensei que incendiaríamos.

Você deixou marcas no lençol e na minha alma.

Num ímpeto de loucura e saudade e fúria eu arranco o lençol e me aperto contra ele — ainda sinto o seu cheiro — e o jogo no canto do quarto numa tentativa de afastar de mim as lembranças que você deixou aqui e que agora me fazem perder a noção do tempo e me tiram a sobriedade. Em vão.

Sento na cama e tomo um gole de vinho que esquenta minha boca que antes guardava os beijos seus e que desce rasgando a minha garganta tão cheia de nós e os desata. Finalmente consigo chorar. A cada gole de vinho vou me desfazendo de nós e me sentindo mais livre de você. Preciso desatar a gente, nos desfazer. Não entendo mais o que sinto, não sei mais o que pensar.

Embriaguez (senti)mental.

O cheiro do álcool anestesia meus pensamentos, o vinho me embriaga e amortece a minha dor. Meu coração acelera e eu transpiro você, é como se eu estivesse te expulsando de mim pelos poros. Você escorre pela minha pele assim como suas mãos deslizavam pelo meu corpo molhado nas noites quentes de outono quando você quase me consumia e meu suor se misturava ao seu e nossas peles quase se fundiam num misto de amor e loucura e paixão.

Eu absorvi você.

Tomo mais um gole de vinho e choro mais um pouco. Tudo gira fora e dentro de mim e meus pensamentos esbarram com você e caem a todo instante. E eu caio também.

A taça que seguro agora com as duas mãos está quase vazia e eu estou quase me esvaziando de você. Preciso de um banho para me lavar de ti. A água que toca minha pele me lava e leva embora os vestígios daquilo que um dia foi o nosso amor. Eu deito e choro e durmo tendo a solidão como companhia e ela me abraça como um dia você fez.


Bebi sua saudade a noite inteira e estou com ressaca de você. Sinto vontade de vomitar o que restou de você em mim. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Dos nós que nunca foram laços

E eu que achei que você nunca tivesse saído de mim, de repente te vejo do lado de fora.

Quem foi que trancou a porta do peito meu? Você saiu e eu nem percebi, você volta e surpreende. As janelas da minha alma estão abertas, consegue pular? Vejo pelo vidro meio embaçado os seus olhos de tristeza que se prendem ao meu olhar de saudade e isso me dói, uma dor que consome cada pedaço de mim que restou de sua partida.

Você entra.

Cara a cara, eu e você. Quanto tempo você esteve lá fora, por que demorou para voltar ao abrigo que sempre foi seu? Talvez você tenha dado tempo demais a nós dois, o tempo muda as pessoas e eu mudei também. Acho que mudei mais do que deveria, acho que você voltou porque não encontrou morada melhor, porque sabia que as portas do meu existir estariam sempre abertas para você, que sempre teve as chaves do meu ser. Você me olha e finge não ver, você me toca e eu finjo não sentir, eu te sinto e finjo não estar.

Eu suspiro e quase te mato, você respira e tenta me reviver.

Estranhei os olhos em que sempre me reconheci. Afinal de contas, meu bem, foi você ou fui eu que mudei? Sua pele encosta na minha e o arrepio agora parece ser de temor por perceber que trago sepultado no peito o meu sentir. Sua boca quente toca meus lábios tão frios e eu me congelo porque foi assim que aprendi a me amortecer e não mais sentir o que me seria vital e que causaria minha morte se acaso me faltasse. Você me faltou e eu morri.

Quem foi que desatou a gente? Se é que um dia houve nós. 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Me diz

Meu bem, eu te quis.

E como eu te quis. Tentei, fiz de tudo para te fazer feliz. Desenhei meus passos junto aos seus, tracei planos que se cruzavam com os seus, tive tantos sonhos contigo mas você me acordou e isso doeu. Seu adeus me dilacerou e eu sangrei todos os dias, parecia que eu fosse morrer e não morria, eu precisava viver mas não vivia, eu queria te sentir e não podia. O que acontece com as palavras que nunca são ditas,

o que foi que eu te fiz?

E quando eu curei minhas feridas e cicatrizei suas lembranças, quando eu me refiz sem os pedaços que você levou de mim, eis que você volta e me desconstrói de novo e abre minhas cicatrizes e me faz sangrar como antes me fez e eu penso que vou morrer toda vez que você me toca, me olha, me abraça, me fala, eu quase morro,

por um triz.

Você me bagunça de um jeito que fica difícil organizar, não consigo me achar, não sei mais o que pensar. Você chega perto de mim e o seu tom me descompassa e me balança e eu tropeço nas minhas certezas que se misturam com as suas lembranças e eu caio de cara na saudade e me perco no meio da nossa confusão. E é então que eu percebo que ainda te quero, que eu sempre te quis mesmo quando eu jurei pra mim que não mais te queria, mesmo quando eu lhe disse que tudo bem, que passou, que chega, que acabou.

Te quero mais do que sempre quis.

E eu entendo que não adianta fugir porque meus caminhos são sem saída, me sinto presa a você. Quem foi que marcou no meu destino os passos seus? Não sei, moço, só quero ser feliz. E você, o que quer de mim?

Me diz, meu bem, me diz.


Publicado originalmente na Confraria dos Trouxas.