sábado, 25 de fevereiro de 2012

Entre nós

Entre nós? 

Entre nós, a imensidão de um olhar perdido no nada.
Entre nós, o eco dos meus gritos no silêncio.
Entre nós, o vão de um abraço não preenchido.
Entre nós, o vazio nos lábios de um beijo não dado.
Entre nós, palavras não ditas. Palavras mal ditas. Suas palavras malditas.
Entre nós, segredos guardados. Retidos no silêncio. Adormecidos.
Entre nós, os sonhos perdidos. Desvanecidos.  
Entre nós, os sentimentos expostos e quebrados. Magoados.
Entre nós, sorrisos desfeitos. Imperfeitos.
Entre nós, ilusões espalhadas ao vento com palavras falsas. Dispersas. 
Entre nós, expectativas quebradas. Despedaçadas. Dilaceradas.
Entre nós, foi tudo.
Mas restou nada.

Entre nós, muitos nós.
Entre nós, nenhum de nós.
Entre nós, nós desfeitos.
Nós...
                                    Desfeitos. 


Entre nós, duas linhas paralelas.


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Só ele

Eu poderia buscar consolo e compreensão nos braços de outro alguém. Eu poderia querer a companhia de outro para preencher o vazio que ficou em mim. Eu poderia abraçar um outro alguém e chorar em seu ombro, enquanto que, num gesto de carinho, ele secaria minhas lágrimas. Eu poderia ter outro, qualquer outro. Mas sinto que ninguém mais é capaz de me compreender, capaz de me consolar. Sinto que apenas ele me confortaria em seus braços e me ofereceria seus ouvidos para que eu desabafasse meus medos, minhas dores, minhas mágoas, minhas angústias, meus sonhos. Eu poderia ter qualquer outro, mas quero só ele.

Porque ninguém jamais me fez tão bem quanto ele, o tempo. 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Conjugando verbos da vida

Aula 1 – Verbo “amar”

Existem verbos que são difíceis de serem conjugados. Muitos deles apresentam irregularidades complexas. “Amar”, por exemplo, é um verbo muito irregular. Há quem o conjugue perfeitamente bem, esquecendo-se, no entanto, da primeira pessoa do plural. “Eu amo”, “tu amas”, "ele ama", “vós amais” e “eles amam” (observe que “nós” não foi incluso na conjugação). Outros, ao que parece, faltaram às aulas de Português e sequer sabem conjugar este verbo tão essencial à vida. 

Há aqueles sujeitos que se esquecem das regras de concordância verbal, de acordo com as quais a conjugação “amamos” adequa-se apenas ao sujeito “nós”, jamais concordando com “eu”. “Nós nos amamos” e não “eu nos amamos”, certo? A aplicação correta desta regra de concordância evita erros ortográfico-amorosos e contribui para a fluência na leitura da estória da vida.

Há, ainda, sujeitos que conjugam “amar” como Verbo Intransitivo, sem apresentar um complemento, e ocultando o sujeito da oração. Gramaticalmente, está correto dizer “Amo”. Neste caso, o sujeito oculto pode ser facilmente identificado pela conjugação verbal - eu. No entanto, falta um complemento ao verbo: não se sabe quem é amado. Mas, convenhamos: muitas vezes é melhor que amar seja Verbo Intransitivo, para evitar erros de interpretação do enunciado e não cair nas armadilhas da Língua Portuguesa. 
Nem nas armadilhas do coração. 

É preciso aprender as regras da sintaxe para que nenhum dos sujeitos fique sem conjugação e sofra por causa de um substantivo abstrato. 



quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Meus olhos no espelho

Meus olhos no espelho me fazem mergulhar em mim. 
Impossível mantê-los abertos diante de tudo o que vejo. 
Ou de tudo o que não consigo ver.
E não adianta desviar o olhar. 
Eles permanecem ali, encarando-me no mais profundo de mim. 
E eu me perco entremeio a tantos eus.
E me canso. 
E fecho os olhos para não me ver mais. 
Fecho os olhos para não me encarar. 
Pena ter de abri-los e me encarar outra vez. E outra vez.
E outra vez. E outra vez. E outra vez. E outra vez. E outra vez. 
E outra vez.
A última vez.

Flores
Olhei até ficar cansado de ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado as flores que estão no canteiro
Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo o que eu vejo

A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores tem cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes

Flores...
Flores...

As flores de plástico não morrem
(Titãs)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Cheia de ausências

Perdoe-me se tenho andando meio ausente. Desculpe-me se isso magoa. Magoa a mim, também. Mas não posso evitar. É necessário me ausentar. A ausência é meu retiro. É o esconderijo dos meus medos, das minhas angústias, da minha falta de fé. É onde me escondo de tudo, de nada. É onde me escondo de mim.

Ando meio ausente da vida, dos sonhos, dos pensamentos. Ausente de mim.
Ando tão cheia de ausências.

Não se preocupe se me afasto, se me escondo em minha ausência. Pode ter certeza de que voltarei. Mais forte ou mais frágil. Com coragem ou com medo. Inteira ou não. De qualquer forma, voltarei a ser tudo aquilo que já fui um dia. Acredite nisso. E me faça acreditar, por favor.

Peço que me deixe perdida em minha ausência, não tente me tirar de meu refúgio. Enquanto vago tendo a solidão como amiga, preencho-me e me encontro. Não, não queira me fazer companhia. Aqui não é um bom lugar. É sombrio. É assustador. Confesso que sinto medo. Além disso, não há lugar para ninguém além de mim. 


Meu coração está cheio de ausência.

O vazio ocupa um espaço imenso.

E minha vida está cheia de vazios.



“Cause I'm broken when I'm lonesome…”

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Reencontro

Confesso que não esperava te reencontrar tão cedo. Fico feliz que tenha voltado. Você é a única pessoa que sempre esteve presente em minha vida. Quando todos somem, você é a única que me faz companhia. Lembra de todos os momentos que compartilhamos? Você sempre tão gentil comigo. Sempre me consolando nos momentos mais difíceis. Quantas lágrimas minhas você já enxugou? Quantas vezes você me abraçou em minha tristeza? Quantos gritos de silêncio meus você já ouviu e abafou? Impossível calcular. Você preencheu muitas lacunas em minha vida e agora, repentinamente, você reaparece com esse sorriso triste e com esse seu jeito tão afável. Gosto do seu abraço. Gosto de me encolher em teus braços e chorar. Gosto de sentir que sempre posso contar contigo. 

Obrigada por estar sempre comigo e por me acolher em teu abraço, Solidão. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Uma dose de indiferença

O calor daquela noite de janeiro e as batidas de seu coração compassadas pela angústia estavam sufocando a menina. Sentia o pulsar acelerado trancando sua garganta. Podia ver sua blusa desenhada ao corpo marcada pelo suor. Suas mãos não encontravam uma posição confortável para descansar. Deitada de lado, a menina se virava de bruços, com as mãos espalmando o colchão. De bruços, com o rosto de lado no travesseiro encharcado de tristeza e agonia, a menina se virava de novo e deitava com os olhos vidrados no teto e com as mãos estendidas ao longo do corpo. Já deveria estar dormindo, ela sabia. Não queria acordar com os olhos inchados. Não queria que ele a visse abatida no dia seguinte. Não queria que ele soubesse de sua tristeza. Sim, ela o encontraria no dia seguinte. Infelizmente. Ela não queria reencontrá-lo mais em sua vida. Ele não merecia sequer um pensamento seu.

A música triste e baixa no quarto acentuava a solidão e era o alimento perfeito para sua divagação em busca de nada. Num gesto inanimado e arrebatado de fúria, desligou o rádio. Quem sabe assim, cessando a música, seus pensamentos cessariam também. Perdidos no silêncio que se instaurara, seus olhos se fecharam. E a menina adormeceu.

A menina estava se sentindo mais serena. Apesar da demora e do mal-estar antes de dormir, ela havia dormido bem. Sabia que estava prestes a encontrá-lo. E temia por isso. Tinha medo do que poderia sentir ao revê-lo. O moço. O tão amado e odiado moço. Ela o odiava por amá-lo tanto. Mas não queria sentir mais nada por ele. Nada.

O sorriso dele penetrou como uma lança nos olhos da menina, atingindo-lhe em cheio no coração. Ele parecia bem. Parecia feliz. Ela esboçou um sorriso e o cumprimentou. A menina, paralisada e com o coração fugindo-lhe pela boca, desviou o olhar do olhar dele. Doía olhar para aqueles olhos mentirosos.

Ele se aproximou, abraçou a menina e lhe deu um beijo no rosto. Encostou a boca em seu ouvido e disse que agora estava tudo bem. Ficariam juntos novamente. Mal podia acreditar no que estava ouvindo. Ela suspirou e sorriu.

E, então, a menina acordou. Olhou para os lados e viu que tudo fora apenas um sonho. Um pesadelo, quiçá. O sorriso se desfez, dando lugar à inexpressividade em seu rosto. Levantou-se da cama, tomou um banho para tirar as marcas da longa e difícil noite e foi ao encontro dele. Dessa vez, de verdade. Por incrível que pareça, tudo aconteceu como no sonho. Exceto pela última parte. Em vez de se aproximar da menina, ele ficou parado, enquanto ela tentava amenizar a dor que sentia em seu coração e o tratava com a mesma indiferença e com um falso sorriso desenhado em seus lábios tristes. Usou o sorriso como uma máscara da dor que sentia. E, novamente, ele deu as costas à menina. Mas, dessa vez, ela não cairia. Não, mesmo. E ela deu as costas a ele, também. Estavam, de novo, tão perto e tão longe ao mesmo tempo. E seria melhor assim.

Doses diárias de indiferença curariam a menina daquela dor que sentia em seu coração.