O
papel em branco à sua frente, o copo de café esfriando ao seu lado, as ideias
se criando e crescendo e se perdendo em sua mente. Não conseguia pensar nem
escrever nem ler nem ser. Faltavam-lhe as palavras, as dela e as dele.
Naquela
manhã escura e clara e fria e quente e confusa de outono, já havia provado todos os sentimentos possíveis. Na verdade, nem sabia
mais o que sentir. O céu estava escuro e claro ao mesmo tempo, prometia chuva
embora mostrasse um sol radiante. “Que clima esquizofrênico”, lembrou-se dele
falando e sorriu. O céu parecia sorrir mesmo querendo chorar. E ela também.
Olhou
para o relógio pendurado na parede meio branca, meio cinza, meio
não-sei-que-cor e o encarou fixamente por alguns instantes. “Podemos fazer o
tempo parar, sabia?”. Ah, sim. Ele tinha esse poder de paralisar o tempo. Pelo menos,
o tempo dela. Mas agora o tempo corria e ela corria contra ele. Quanto correr,
quanto cansar, quanto tentar fazer o tempo voltar atrás. Uma corrida que estava
deixando-a exausta, perdida. Mas ela não desistiria, não até alcançar o que
queria.
Lembrou-se
que precisava escrever, que precisava correr, que precisava alcançar. Escrever
era a única forma de chegar até ele, mas nem isso ela conseguia mais. Talvez ele
não quisesse mais suas palavras, talvez. Ela precisava escrever para aliviar o
que sentia, porque só sabia se esvaziar assim. E ela estava cheia de vazios. Esvaziar
os vazios, veja que contraditório. Ela precisava escrever, mas lhe faltavam
palavras, as dela e as dele. Sobretudo as dele. Principalmente as dele. Só as
dele.
O papel rabiscado com o nome dele à sua frente,
o copo de café intocado e frio ao seu lado, as ideias se criando e crescendo e
se perdendo em sua mente. Talvez não coubesse mais nada no papel já que ele
ocupava um espaço tão imenso. No papel e em seus pensamentos.
Um
gole de café frio a fez entender que em alguns espaços só cabem vazios.
Um espaço tão imenso e tão vazio, era assim que ela se sentia. E continuou rabiscando.
Um gole num café frio vale mais que mil vivências.
ResponderExcluirLindo, texto. O de sempre.
Bjs, Dani.
Tão imenso e tão vazio, mas as lembranças te fazem companhia.
ResponderExcluirBeijos, minha menina.
♥
Às vezes as lembranças são tantas que acabamos naufragando em meio delas. Nos afogamos com as lembranças e elas que antes preenchiam apenas nosso coração e nossa mente, acabam penetrando nosso pulmão e todo o nosso corpo. Transbordamos vazios, porque a ausência daquele alguém é sempre maior que qualquer preenchimento. As palavras nos faltam, o sentido se perde e conquistamos como companhia apenas a solidão munida de uma caixinha cheia tristezas e saudade. Escrevemos para aliviar mesmo que esse alívio, algumas vezes, seja apenas ilusório.
ResponderExcluirBeijo Dani, que essa ausência se torne companhia novamente, e que fiquemos bem em breve. ♥
As lembranças fazem o sentido que a atualidade não tem?
ResponderExcluirSerá por isso que nada é passível de coerência, que tudo oferece todas as emoções, cores e sensações juntas, sem uma denominação única?
Parece que sim. A sua história em clima londrina - ainda que com o sol - parece ser o elixir que essa tarde precisa. Leio enquanto procuro um final feliz para as letras da escritora, mas não encontro.
Afinal, é assim que você desejou conquistar seus leitores.
Estamos cheios de vazios, e por vezes essa é a melhor das opções.
ResponderExcluirTexto muito bonito.
Ai Dani, lá vem tu mais uma vez me descrevendo. hehehe
ResponderExcluirEu me vi nesse texto! ♥
ResponderExcluirParabéns.