quarta-feira, 29 de maio de 2013

Tão imenso, tão vazio

O papel em branco à sua frente, o copo de café esfriando ao seu lado, as ideias se criando e crescendo e se perdendo em sua mente. Não conseguia pensar nem escrever nem ler nem ser. Faltavam-lhe as palavras, as dela e as dele.

Naquela manhã escura e clara e fria e quente e confusa de outono, já havia provado todos os sentimentos possíveis. Na verdade, nem sabia mais o que sentir. O céu estava escuro e claro ao mesmo tempo, prometia chuva embora mostrasse um sol radiante. “Que clima esquizofrênico”, lembrou-se dele falando e sorriu. O céu parecia sorrir mesmo querendo chorar. E ela também.

Olhou para o relógio pendurado na parede meio branca, meio cinza, meio não-sei-que-cor e o encarou fixamente por alguns instantes. “Podemos fazer o tempo parar, sabia?”. Ah, sim. Ele tinha esse poder de paralisar o tempo. Pelo menos, o tempo dela. Mas agora o tempo corria e ela corria contra ele. Quanto correr, quanto cansar, quanto tentar fazer o tempo voltar atrás. Uma corrida que estava deixando-a exausta, perdida. Mas ela não desistiria, não até alcançar o que queria.

Lembrou-se que precisava escrever, que precisava correr, que precisava alcançar. Escrever era a única forma de chegar até ele, mas nem isso ela conseguia mais. Talvez ele não quisesse mais suas palavras, talvez. Ela precisava escrever para aliviar o que sentia, porque só sabia se esvaziar assim. E ela estava cheia de vazios. Esvaziar os vazios, veja que contraditório. Ela precisava escrever, mas lhe faltavam palavras, as dela e as dele. Sobretudo as dele. Principalmente as dele. Só as dele.

O papel rabiscado com o nome dele à sua frente, o copo de café intocado e frio ao seu lado, as ideias se criando e crescendo e se perdendo em sua mente. Talvez não coubesse mais nada no papel já que ele ocupava um espaço tão imenso. No papel e em seus pensamentos.

Um gole de café frio a fez entender que em alguns espaços só cabem vazios. 

Um espaço tão imenso e tão vazio, era assim que ela se sentia. E continuou rabiscando. 

7 comentários:

  1. Um gole num café frio vale mais que mil vivências.

    Lindo, texto. O de sempre.
    Bjs, Dani.

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  2. Tão imenso e tão vazio, mas as lembranças te fazem companhia.

    Beijos, minha menina.

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  3. Às vezes as lembranças são tantas que acabamos naufragando em meio delas. Nos afogamos com as lembranças e elas que antes preenchiam apenas nosso coração e nossa mente, acabam penetrando nosso pulmão e todo o nosso corpo. Transbordamos vazios, porque a ausência daquele alguém é sempre maior que qualquer preenchimento. As palavras nos faltam, o sentido se perde e conquistamos como companhia apenas a solidão munida de uma caixinha cheia tristezas e saudade. Escrevemos para aliviar mesmo que esse alívio, algumas vezes, seja apenas ilusório.
    Beijo Dani, que essa ausência se torne companhia novamente, e que fiquemos bem em breve. ♥

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  4. As lembranças fazem o sentido que a atualidade não tem?
    Será por isso que nada é passível de coerência, que tudo oferece todas as emoções, cores e sensações juntas, sem uma denominação única?

    Parece que sim. A sua história em clima londrina - ainda que com o sol - parece ser o elixir que essa tarde precisa. Leio enquanto procuro um final feliz para as letras da escritora, mas não encontro.
    Afinal, é assim que você desejou conquistar seus leitores.

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  5. Estamos cheios de vazios, e por vezes essa é a melhor das opções.

    Texto muito bonito.

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  6. Ai Dani, lá vem tu mais uma vez me descrevendo. hehehe

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