A
ebriedade daquela madrugada me torturava a cada segundo que se passava. O
silêncio que tomou meu quarto em chamas — porém tão frio — me fez imaginar a
perda daquilo que jamais ostentei ter ganho, e sobretudo, a possibilidade de se
tornar vitalício um amor sem sal, sem açúcar — sem nada. Perderam-se por entre
as confusões mentais pelas quais eu passo diariamente todos os direitos e
deveres que me foram impostos para levar uma relação estranhamente desamorosa
por algum tempo.
A
verdade é que eu não sei lidar.
As
palavras que por puro impulso escorrem por entre meus dedos sempre serviram
como meu ponto de fuga. Quem nunca fugiu zigue-zagueando as vírgulas e se
despediu a cada parágrafo? Foram inúmeras as vezes em que falei dos meus amores
com uma pitada de ódio, até porque a própria vida tem seus momentos de
escuridão. Embriaguez mental.
Enche-se
o copo com dois litros de alma gelada e tomam-se os corpos com o líquido mais
quente que existe. Sua frieza quase me congelava, seu fogo sempre me consumia. E
o quarto continua em chamas — mas gelado sem você.
Bebi sua
saudade, tomei nossas lembranças, quase me afoguei no vômito daquilo que um dia
foi o nosso amor. Embriaguei-me de você outra vez. Tudo em volta gira e me traz você,
tudo o que tenho é o que você não levou quando se afastou de mim deixando-me
apenas com a esperança de que um dia voltaria. Tem noção do quão ridículo me
senti vestindo-me apenas com esperanças? Você desnudou meus sentimentos e me
despiu de todo e qualquer amor próprio. Agora, tudo o que desejo é que esse
fogo me consuma junto com as lembranças de tudo o que um dia foi nosso, de tudo
o que ainda me prende a nós.
(Texto escrito com Guilherme Latorres (@inaptidao) que sabe dar às palavras um ar de encantamento).
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