segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Na beira da estrada — parte 4

O ar carregado dificultava a respiração da menina. Seu corpo cansado implorava por chuva. Implorava por uma renovação. A poeira que se acumulava naquela estrada deserta agredia seus olhos. Já era o quarto dia que se arrastava no calendário de angústia e espera que a menina seguia a muito custo. E riscava os dias com sangue.

Naquele dia, ela quase não chorou. Mas sentia que algo apertava ainda mais o seu coração machucado. Como doía. Ela não queria mais sentir aquela dor. Não sabia ao certo o que aquele dia reservava a ela. Mas tentou fingir que estava bem. As pessoas que a viam sentada ali na beira da estrada a olhavam com receio e preocupação. Ela não queria que vissem sua aparência abatida. Seus olhos, embora livres das lágrimas, estavam inchados. Ela estava cansada. Estava realmente cansada. Deitou-se. Abraçou-se aos joelhos. Queria adormecer. Assim estaria livre daqueles pensamentos que insistiam em atormentá-la. Estava extenuada.

Quando a menina já estava quase adormecendo, se deparou com um recado dele, trazido pelo vento. “Logo, tudo se resolverá”. Logo? Tudo? Resolver o quê? Tudo o quê? Ela não entendia. Ela não se conformava. Mas não queria mais pensar. “Logo”. Quando? E ela pensou que não suportaria esperar por mais muito tempo. Seu coração não era um brinquedo que fica à espera da criança para brincar depois de um tempo de descanso. A menina queria olhar em seus olhos outra vez e encontrar a paz que perdera dentro de seu olhar. Ela queria abraçá-lo novamente e ter de volta a proteção que havia perdido. Se sentia só. Se sentia perdida. Mas, de alguma forma, seu coração se aquietou. As migalhas de esperança que ele havia jogado no seu caminho serviram para saciar a sua fome. Para saciar a fome de sua angústia. Mas ela não queria aquelas migalhas de esperança. Aquela calma repentina a assustava. Por que as aceitou, então? A menina não quis mais pensar. Desistiu de entender.

A menina era uma colecionadora de esperanças.

E a menina deixou o vento levar seus pensamentos para longe dela. 

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