A
luz do fim de tarde invadia a sala com cuidado e coloria os vidros da janela
com vários tons de laranja e vermelho. Era um lindo dia de verão, daqueles
dignos de fotografias. Na janela, um olhar melancólico absorvia parte dos raios
do sol poente enquanto observava as flores do jardim à sua frente.
Elas
eram tão bonitas, tão unidas, tão fortes. Aos olhos da menina, as flores eram tão
esplendorosas ali, no meio daquela grama seca cor-de-nada, impondo-se com todas
as suas cores, com todo o seu perfume, com toda a sua beleza. Ah, como eram
lindas.
Lembrou-se,
então, de um menino que a chamava assim, “flor”. “Minha flor amarela”. Ah, como
ela achava isso bonito... mas nunca entendeu, na verdade, por que ele a chamava
assim. Seria pela beleza? O perfume? Ou por que ele se sentia como ela se
sentia ao observar as flores no jardim? Será que ele a amava? Bom, fosse o que
fosse, já era tarde demais. O menino já não a chamava assim. Ela já não era
mais uma flor, já não lhe tinham amor.
Cansada
de observar o jardim e as suas lembranças, fechou a cortina e descoloriu os
vidros da janela dos raios do sol. Deitou-se no sofá, ajeitou o vestido e
acomodou seus longos cabelos negros. Queria dormir um pouco, fugir dos pensamentos.
Foi então que viu na mesinha ao lado da televisão um vaso bonito com uma flor
igual as do jardim. Era uma linda flor. Talvez fosse até mais bonita do que as
outras.
Pôs-se,
então, a olhar para aquela flor no vaso buscando a mesma força, a mesma
imponência, a mesma cor, o mesmo perfume, a mesma sensação que encontrara ao
observar aquelas flores do jardim, mas... nada. Era apenas uma flor na água. Por
mais bonita que fosse, tudo o que estava ao seu redor tinha mais cor do que
ela. Ela estava ali sozinha. Isolada. Presa a um mundo que não era o dela. Aos poucos,
sua cor ia desbotando e seu amarelo já não brilhava como o das flores do
jardim. Ela parecia tão triste. Pobre flor. Às vezes parecia até que chorava. E
a menina sentiu pena da flor que já não era mais tão amarela. Pena.
Agora,
finalmente, havia entendido por que o menino a chamava assim, “minha flor
amarela”: a menina era aquela flor do vaso na mesinha ao lado da televisão. Porque
ela era bonita e triste. Talvez a flor mais bonita seja sempre a mais triste, a
mais sozinha. Talvez o amor não fosse amor, fosse pena. Pena.
Acho que o amor e a tristeza estão sempre lado a lado. Graças a Deus (???) nem sempre de mãos dadas.
ResponderExcluirLindo, Dani!
E a flor no vaso não tinha mais vida =\
ResponderExcluirEu também já fui essa menina, e às vezes volto a ser... Mas estamos sujeitas esse risco quando decidimos ser flor.
Obrigada pelo texto, linda mia ~<3
Amo você
@qualsabrina
Agora pensando que as vezes me sinto como a flor no vaso, mas já não quero.
ResponderExcluirLindo texto, obrigada!
Beijos
@KathyTeixeira
Elas são lindas, isso não é novidade. As flores variam, desde cheiro a cores. Formas e até espinhos. Até as mais alegres e mais tristes, fúnebres.
ResponderExcluirMas se há uma coisa que é unanimidade quando se está em questão um presente simples e tão significativo, pensamos exatamente nas flores. O motivo eu não sei dizer. Talvez um presente que seja contraste com quem receberá. Uma flor para uma flor, por que não? Deixando de fora, claro, a pieguice.
Só que é muito mais.
Uma flor tem um valor de carinho, um valor de cuidado, um valor de apreciação. Por mais que esteja esquecida num vaso qualquer, há sim alguém que se importa em regá-la, banhá-la em sol, em fotossíntese de paixão, se é que isso é possível.
"Menina flor
Não largue a tua cor
Pode ser que algum jardineiro esteja a dispor
Para aliviar a tua dor"
Um grande abraço.
Flores são tão delicadas e sensíveis. Bem a cara da menina.
ResponderExcluirSempre haverá um dia em que nos sentiremos assim: A única flor escolhida em meio a muitas. A mais bela que foi (a)colhida e regada num vaso de amor. Há quem regue-a até murchar. Há quem ame-a até o fim. Mas também há quem a esqueça num vaso qualquer em um lugar qualquer e que logo colocará outra em seu lugar.
É isso minha menina. As flores colhidas são uma metáfora para a vida. Quem dera as flores pudessem escolher por quem querem ser (es)colhidas. Acho que se assim fosse, elas nunca murchariam.
Cuide-se linda minha. Você é a flor amarela, que sempre cultivarei com amor no meu jardim de amizades. Beijos <3
Dani,
ResponderExcluirJá li alguns textos seus, e preciso eleger esse como meu favorito. Talvez porque ame tanto as flores, porque as encare como metáfora em vários setores da vida, talvez por já ter sido essa menina.
Sutilmente lindo.
Beijo menina flor de hortênsia
Que lindo texto!!!!
ResponderExcluirComo várias vezes você me emociona. Me faz refletir....
Ah doce menina, como consegue ler a alma de muitos e expressar em doces palavras?
Quantas vezes já me senti assim "flor amarela"... mas até então não tinha me dado conta...
Querendo um jardim pra deixar a solidão do "vaso" onde me encontro só!!!
<3
Foi pela beleza. O menino garante.
ResponderExcluirE quanto ao amor, talvez tenha sido só amor. Não teve chance de ser mais do que isso.
Danni Meusa!
ResponderExcluirMas que grata surpresa encontrar este blog. Simples e belo, porque toda beleza é simples. Não precisa de mais do que isso pra ser bela. Parabéns!
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