sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Flor amarela


A luz do fim de tarde invadia a sala com cuidado e coloria os vidros da janela com vários tons de laranja e vermelho. Era um lindo dia de verão, daqueles dignos de fotografias. Na janela, um olhar melancólico absorvia parte dos raios do sol poente enquanto observava as flores do jardim à sua frente.

Elas eram tão bonitas, tão unidas, tão fortes. Aos olhos da menina, as flores eram tão esplendorosas ali, no meio daquela grama seca cor-de-nada, impondo-se com todas as suas cores, com todo o seu perfume, com toda a sua beleza. Ah, como eram lindas.

Lembrou-se, então, de um menino que a chamava assim, “flor”. “Minha flor amarela”. Ah, como ela achava isso bonito... mas nunca entendeu, na verdade, por que ele a chamava assim. Seria pela beleza? O perfume? Ou por que ele se sentia como ela se sentia ao observar as flores no jardim? Será que ele a amava? Bom, fosse o que fosse, já era tarde demais. O menino já não a chamava assim. Ela já não era mais uma flor, já não lhe tinham amor.

Cansada de observar o jardim e as suas lembranças, fechou a cortina e descoloriu os vidros da janela dos raios do sol. Deitou-se no sofá, ajeitou o vestido e acomodou seus longos cabelos negros. Queria dormir um pouco, fugir dos pensamentos. Foi então que viu na mesinha ao lado da televisão um vaso bonito com uma flor igual as do jardim. Era uma linda flor. Talvez fosse até mais bonita do que as outras.  

Pôs-se, então, a olhar para aquela flor no vaso buscando a mesma força, a mesma imponência, a mesma cor, o mesmo perfume, a mesma sensação que encontrara ao observar aquelas flores do jardim, mas... nada. Era apenas uma flor na água. Por mais bonita que fosse, tudo o que estava ao seu redor tinha mais cor do que ela. Ela estava ali sozinha. Isolada. Presa a um mundo que não era o dela. Aos poucos, sua cor ia desbotando e seu amarelo já não brilhava como o das flores do jardim. Ela parecia tão triste. Pobre flor. Às vezes parecia até que chorava. E a menina sentiu pena da flor que já não era mais tão amarela. Pena.

Agora, finalmente, havia entendido por que o menino a chamava assim, “minha flor amarela”: a menina era aquela flor do vaso na mesinha ao lado da televisão. Porque ela era bonita e triste. Talvez a flor mais bonita seja sempre a mais triste, a mais sozinha. Talvez o amor não fosse amor, fosse pena. Pena. 

10 comentários:

  1. Acho que o amor e a tristeza estão sempre lado a lado. Graças a Deus (???) nem sempre de mãos dadas.
    Lindo, Dani!

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  2. E a flor no vaso não tinha mais vida =\

    Eu também já fui essa menina, e às vezes volto a ser... Mas estamos sujeitas esse risco quando decidimos ser flor.

    Obrigada pelo texto, linda mia ~<3

    Amo você

    @qualsabrina

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  3. Agora pensando que as vezes me sinto como a flor no vaso, mas já não quero.

    Lindo texto, obrigada!

    Beijos

    @KathyTeixeira

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  4. Elas são lindas, isso não é novidade. As flores variam, desde cheiro a cores. Formas e até espinhos. Até as mais alegres e mais tristes, fúnebres.

    Mas se há uma coisa que é unanimidade quando se está em questão um presente simples e tão significativo, pensamos exatamente nas flores. O motivo eu não sei dizer. Talvez um presente que seja contraste com quem receberá. Uma flor para uma flor, por que não? Deixando de fora, claro, a pieguice.

    Só que é muito mais.

    Uma flor tem um valor de carinho, um valor de cuidado, um valor de apreciação. Por mais que esteja esquecida num vaso qualquer, há sim alguém que se importa em regá-la, banhá-la em sol, em fotossíntese de paixão, se é que isso é possível.

    "Menina flor
    Não largue a tua cor
    Pode ser que algum jardineiro esteja a dispor
    Para aliviar a tua dor"

    Um grande abraço.

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  5. Flores são tão delicadas e sensíveis. Bem a cara da menina.
    Sempre haverá um dia em que nos sentiremos assim: A única flor escolhida em meio a muitas. A mais bela que foi (a)colhida e regada num vaso de amor. Há quem regue-a até murchar. Há quem ame-a até o fim. Mas também há quem a esqueça num vaso qualquer em um lugar qualquer e que logo colocará outra em seu lugar.

    É isso minha menina. As flores colhidas são uma metáfora para a vida. Quem dera as flores pudessem escolher por quem querem ser (es)colhidas. Acho que se assim fosse, elas nunca murchariam.
    Cuide-se linda minha. Você é a flor amarela, que sempre cultivarei com amor no meu jardim de amizades. Beijos <3

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  6. Dani,

    Já li alguns textos seus, e preciso eleger esse como meu favorito. Talvez porque ame tanto as flores, porque as encare como metáfora em vários setores da vida, talvez por já ter sido essa menina.

    Sutilmente lindo.

    Beijo menina flor de hortênsia

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  7. Que lindo texto!!!!

    Como várias vezes você me emociona. Me faz refletir....
    Ah doce menina, como consegue ler a alma de muitos e expressar em doces palavras?
    Quantas vezes já me senti assim "flor amarela"... mas até então não tinha me dado conta...
    Querendo um jardim pra deixar a solidão do "vaso" onde me encontro só!!!

    <3

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  8. Foi pela beleza. O menino garante.

    E quanto ao amor, talvez tenha sido só amor. Não teve chance de ser mais do que isso.

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  9. Mas que grata surpresa encontrar este blog. Simples e belo, porque toda beleza é simples. Não precisa de mais do que isso pra ser bela. Parabéns!

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