Hoje
está chovendo de novo aqui. Tem sido assim há mais de uma semana: faz sol de
manhã, chove à tarde. Não, não estou reclamando. Você bem sabe o quanto eu amo
a chuva. Eu já lhe disse que os dias cinzas e chuvosos sempre me pareceram mais
bonitos do que os dias de sol. Dias escuros me lembram os seus olhos. Acho que é
por isso que hoje a chuva me deixa triste, porque os seus olhos não estão mais
presos no meu olhar.
Lembra
o que me disse há um tempo, enquanto observávamos as gotas d’água caindo
pacientemente da goteira no meu quarto? Eu ainda sorrio quando me lembro, mas é
um sorriso que faz doer. O barulho da goteira não me incomodou naquele dia. Agora, mal posso ouvir essas gotas que caem como bombas nos meus ouvidos. Que barulho
insuportável! Lembra que eu pedi para que consertasse o telhado? Então. Você foi
embora e deixou esse buraco aqui. No teto e na minha alma.
Eu
nunca deveria ter guardado você com a chuva, que tola que fui! Mas eu teimei
em juntar dois amores de minha vida em um só. E agora estou aqui, sozinha, a
observar as gotas d’água que caem pacientemente da goteira no meu quarto. Que barulho
insuportável tem o seu silêncio! O que eu faço agora quando chove mas você não
está?
Cai
a chuva lá fora e aqui dentro, em mim. Molham o chão as gotas, inundo-me com o choro
sem fim. A chuva é meu pranto que te traz de volta pra minha vida. Porque eu te guardei na minha metáfora preferida.
Nunca mais verei a chuva com os mesmos olhos. Tampouco a chuva que estes mesmos olhos fazem cair enquanto leio suas linhas, suas palavras, sua alma. Sua alma traduz a minha.
ResponderExcluir(suspiro)
ResponderExcluirParei para pensar como deve ser bom ser guardado na metáfora preferida de alguém.
ResponderExcluirÉ uma coisa a se ter orgulho, se admirar, se vangloriar. Ainda mais se tratando de alguém que dê tanta ênfase em adorar aquela metáfora, em fazer questão que seja tua.
O problema é quando a outra pessoa também não a guarda para si. Quando a metáfora se transforma em areia escorrendo numa ampulheta, em água escorrendo numa mão aberta.
Essas não são merecedoras.
Mas há quem seja.
E olha só... já encontrei. Aqui, nesse mesmo texto, por trás dessas palavras. Escondida num breve sentimento de melancolia. E, sim, guardada em nossa metáfora preferida.
"Amor é fogo que arde sem se ver" — Luís de Camões
ResponderExcluir"Vi sorrir o amor que tu me destes" — Cesário Verde
"Meu coração é um balde despejado" — Fernando Pessoa
Como fazer caber em uma metáfora algo tão grande, tão lindo, tão puro?
Invejo você por conseguir colocar alguém em uma metáfora, e ainda mais por gostar tanto de ambos.
Não consigo colocar quem queria em uma metáfora, ela não cabe, ela transborda a qualquer palavra conhecida por mim.
Essa pessoa muda o significado das palavras, muda as referências, a vida, os dias... tudo.
Ela não cabe em uma metáfora, ela cabe aos poucos em uma vida, talvez...
Nem se escrita por mestres, grandes e iluminados escritores, dominadores de línguas já abandonadas, poliglotas, sábios... nada seria capaz de compactar tanta perfeição em uma palavra.
Impossível descreve-la. Talvez, a única comparação cabível no momento seja a do meu sentimento, que se resume em: Saudade
Não estou a descrever meu amor, mas estou a descrever minha admiração.
Fique bem,
Um abraço cheio de saudades.
Atenciosamente,
Luiz C.
Chuva também é minha metáfora preferida. E eu também teimei a associá-la a alguém - alguém que, como você descreveu no outro texto, eu guardei só em mim.
ResponderExcluirEsse texto me fez chorar, Dani. E isso nunca acontece.
Obrigada por isso.
Nossa! Sem palavras para explicar quão maravilhoso é esse teu texto. Mexe na nossa alma. Lindo demais!
ResponderExcluirPor isso sou sua fã.
Esperei que a pessoa e a metáfora permanecessem juntas. Mas aprendi de uma maneira dolorosa a não mas fazer isso, e seu texto lembrou-me de como este caminho pode ser longo: o deixar que se vá. O desatrelar. E mesmo assim...
ResponderExcluirAmei o texto. Com certeza, você consegue ser sútil com as palavras e manter tudo na medida, sem exageros.
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