Foi
um longo período sem chuva. Da última vez que choveu, ela mal pôde observar a
chuva. Nem pôde sentir suas dores se aplacarem com a água trazida do céu. E
isso já fazia tanto tempo...
Aqueles primeiros dias de dezembro não davam
nenhum indício de chuva. Eram dias longos, quentes, secos, exaustivos. Ela estava
exaurida. Cada vez que olhava para o céu, sentia-se ainda pior diante de tanta
claridade e de tanto azul. Estava tão acostumada com o cinza que seus olhos
doíam quando via um colorido.
Naquele
dia, no entanto, o céu estava diferente, estava mais bonito. Estava cinza. O vento
fresco anunciava chuva. E a trouxe. Um trovão. Um relâmpago. Uma expectativa. A
chuva. O momento mais sublime dos últimos tempos.
Sentada
à janela, apoiou o queixo com a mão e fechou os olhos. Sentiu o cheiro que
trazia de volta a sua infância. Lembrou dos banhos de chuva e do quanto se
sentia bem com isso. A chuva, que suavemente tocava o chão, trouxe a calma
tirada por tantos dias de sol. “A saudade tem cheiro de terra molhada”, pensou
ela enquanto abria lentamente os olhos.
Precisava
sair daquela sala fechada. Precisava sentir a chuva. Caminhou até a porta e
saiu. Sentiu a chuva tocar sua pele. Sentiu cada gota escorrendo pelo corpo e
levando embora toda aquela angústia, todo aquele peso, toda aquela sensação de
cansaço, todo aquele pesar. Sentia-se purificar.
E
naquela tarde caminhou sob o céu nublado e choroso, sem pressa. “Que chova aqui
dentro tanto quanto chove aqui fora”. Cheiro de terra molhada, jeito de alma
lavada. E o cinza dos seus olhos se confundiu com o cinza do céu.
Amo a chuva porque me traz exatamente essa sensação, de purificação.
ResponderExcluirSinto-me estranha, quem sabe triste, quando olho pro seu céu azul manchado de branco, tão lindo, mas que não combina comigo. :( talvez porque não combine também com "o cinza dos meus olhos".
Lindas palavras, as always!
;**
Pois é. E tem gente que diz que dia bonito é dia com sol.
ResponderExcluirAbraços.@AnonimoFamoso