domingo, 22 de janeiro de 2012

Movimentos parados

Podia sentir o vento arrepiar sua pele naquela longa tarde de domingo. O posicionamento do sol já anunciava o entardecer quando ela sentou à beira d’água.  A água fria a fez estremecer quando seus pés tocaram a superfície e, calmamente, submergiram. O vento moldava na água pequenas ondulações e as soprava gentilmente em direção à margem, abraçando e massageando as pernas da menina. Ela estava cansada da corrida que fizera até ali, percorrendo a trilha aberta entremeio às árvores perto da praia. Enquanto corria, seus olhos esquadrinhavam tudo ao redor e emolduravam aquelas cenas no olhar da menina. Ela gostava de ver o calmo agito das folhas. Tinha a enorme sensação de uma pequena paz ao observar como o vento rompia o silêncio balançando as folhas. Elas estavam sempre em movimento sem ir a lugar algum.

A combinação de seu corpo quente com a água gelada provocava uma estranha sensação que fazia a menina arquejar de vez em quando. Com uma das mãos, apoiava-se e reclinava o corpo. Com a outra, desenhava na areia figuras abstratas, como uma representação de seus pensamentos.

Revendo as cenas gravadas em seus olhos durante a corrida que fizera, a menina se viu correndo diante de sua vida enquanto observava seus movimentos parados, como os das folhas. Por mais que ela andasse, sentia-se sempre no mesmo lugar. Sentia-se presa. Sentia-se inerte naquela turbulência que a fazia correr, que a fazia fugir de si mesma. Quantas contradições, não? Paradoxos eram metáforas de sua vida.

Olhou para o céu e viu nuvens que traziam uma promessa de chuva. Sem piscar, voltou seu olhar para a água calmamente agitada e sentiu umedecer seu rosto. Talvez uma gota de chuva. Talvez uma lágrima. Quiçá fosse uma mescla das duas.

E a menina pensou que talvez fosse como uma folha, presa na grande árvore da vida: movia-se sem sair do lugar, vivendo à espera de sua queda. 

3 comentários:

  1. Dizem que quando não se sabe onde quer ir, não é possível sair do lugar.

    É.

    Ficar parado ou sair vagando em busca do que não se sabe, apenas sente.


    Acho que já aconteceu com todos.

    Que sejam firmes seus passos e que você encontre quem sabe alguns sorrisos pelo caminho desconhecido.

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  2. Essas suas meninas, essa menina, você. Confundem-me toda e fazem com que eu me envolva no próprio mundo dela, delas, seus... e esse mundo é intenso demais, eu leio cada palavra com todo o cuidado para não me perder pelo caminho e não ter mais volta. Porque poucos conseguem sobreviver a mundos complexos e verdadeiros como esse, então melhor não arriscar. Sabe Dani, dá-me um receio de entrar dentro desse seu mundinho, mesmo que seja um pouquinho, porque eu me vejo nele. Vejo aquilo que eu tento esconder de mim. E assusta. Eu não tenho conselhos para te dar, nem explicações para as suas próprias palavras. Só posso te dizer que suas palavras têm vida e que esse pode ser o seu próprio remédio. Cuide-se.

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  3. Voce escreve maravilhosamente bem. Nesse seu texto eu me identifiquei bastante. As vezes penso assim, faço assim percebendo os momentos passarem, observando tudo ao meu redor, só observando e pensando, tentando encontrar uma suluçao pra tudo que incomoda, infelizmente as vezes essa soluçao nao vem.

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