terça-feira, 27 de novembro de 2012

Céu de novembro


Novembro e suas angústias, sempre foi assim. Já era fim de tarde, finalmente. Sentara-se à sombra da mangueira para fugir do sol. Descansava os pés descalços na grama fresca. Queria descansar a cabeça, também, mas não conseguia. Aquele havia sido um dos dias mais tensos dos últimos meses. Dia pesado, cansativo, sonolento. Dia anestesiado. Assim como ela se sentia. Fechou os olhos para fugir de si na tentativa de se encontrar em seus pensamentos. 

E se perdeu.

O dia angustiante sem vento aos poucos foi sendo levado pela brisa fresca da noite suave que se aproximava. O vento varria o dia, varria as nuvens, varria as folhas, varria os pensamentos. Sentiu a pele arrepiar. Abriu os olhos e ousou olhar para o alto. Seu olhar encontrou no céu melancólico o refúgio que buscava naquela fuga de si.

O cinza do céu de repente se misturou com o cinza que havia dentro dela.  Naquele instante, já não sabia mais o que era ela e o que era céu. Perdera os limites. Sentiu que de alguma forma pertencia àquela imensidão feita de cinzas. Seus olhos se perderam  na melancolia gris e seus pensamentos se aprofundaram na solidão que carregava em si. Um mergulho, um salto, uma fusão. E tudo se coloriu de cinza.

Sentiu uma breve eternidade naquele momento sublime. Ela o comemorou com lágrimas. E o céu brindou com a chuva. 

4 comentários:

  1. Quero um dia poder comprar seus livros! hahahaha
    Exatamente como foi meu dia ontem e como me senti.
    Preciso de férias da vida!

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    1. Ah, quem me dera escrever um livro... Acho que as palavras ajudam a aliviar o que sufoca.
      Somos, de alguma forma, gêmeas. Eu acho.
      Preciso de férias da vida e de mim!

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  2. Há dias em que tudo está cinza. O interior e o exterior ficam nublados. Os olhos precipitam-se em água. O coração anuvia-se em dor. É sufocante ficar presa em pensamentos. E é mais sufocante ainda não sentir a alma se renovar com o toque da água da chuva. Ainda bem que choveu aí menina. Aqui está uma sequidão. Tanto lá fora, quanto aqui dentro (de mim). Beijos <3

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  3. Um dia estava chovendo muito quando eu voltava para casa. O céu desde de manhã cinza, sem nenhum sinal de brilho ou quaisquer cores. E foi assim por mais longos dois dias. Dias fúnebres. Enfurnado em casa, brigando contra meus pensamentos e alimentando vagarosamente minhas paranoias. Procurando dentro mim uma razão para ser mais do mundo, ser mais de si, ser um trecho bem escrito nessas linhas tortas dessa imensa folha de ofício branca que é a vida. De fato não encontrei. Mas me questionei. Assim como sempre faço.

    No 3º dia o cinza cessou. Deu lugar a um sol escaldante - e até mesmo quando é irritantemente forte ainda sim é belo. As pessoas pareciam mais felizes, as folhas pareciam mais verdes e os bancos da praça mais cheios. Tudo muito vivo, cheio de uma alegria contagiante. Talvez aquelas pessoas tivessem encontrado o seu sol. Assim como eu supostamente também o teria encontrado. Espero que essa menina também o faça, também o encontre.

    Mas olhe bem, não é o sol que lhe queime, é o sol que te expurga desse cinza. Não combina com ela.

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