segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Agosto


O mês mais angustiante. Agosto havia chegado, ela já sentia. Não precisava consultar o calendário para saber. A noite parecia não ter mais fim naquele dia exaustivo e arrastado. O céu enegrecido não deixava escapar um mínimo ponto de luz sequer. Reinava absoluto em toda sua imensidão. Inundava as estrelas e as encobria com um manto negro. Já não se via limites entre o céu e a terra. 

O vento seco e incessante fazia-lhe fechar os olhos. Ressecava seus lábios. Esvoaçava seus cabelos soltos. Ela não gostava de sentir aquele vento em sua pele porque ele trazia de volta lembranças outrora levadas embora. 

A lua se escondia tímida aos olhos da menina. Lá estava ela, sentada ao pé da mais alta árvore que conhecia. Encostada no tronco escuro e abraçada aos joelhos, era impossível distinguir a menina da noite. Não havia limites que separavam a noite de sua alma. E ela se sentia muito bem assim. Ela se sentia em paz.

Agosto. Ela se lembrava bem desse mês. O que havia lhe acontecido há um ano o tornaria para sempre memorável. Mas ela não gostava de lembrar. Ficava agoniada. Isso lhe tirava a paz conquistada com tanto esforço e depois de muitas lutas. Foi justamente em um agosto perdido no tempo que havia iniciado uma guerra pela paz de seu espírito. Guerra pela paz. Finalmente havia conquistado-a.

E agora estava ali, comemorando sua vitória. Mas estava, ao mesmo tempo, vencida. Toda essa batalha contra si mesma havia esgotado suas forças. Era uma vencedora derrotada. Contradições demais para sua cabeça. Estava exaurida. E aquele vento, que agora soprava gelado e mais intenso, fazia a menina tremer. Arrepiava sua pele. E ela fechava os olhos a cada rajada, abaixava a cabeça e tremia. Queria sair daquele lugar vazio. Precisava de abrigo. Mas, como proteger-se de si mesma? Onde buscaria refúgio daquela luta que travava contra seus próprios pensamentos? Quem a salvaria daquele campo de batalha que era sua alma? Ela vivia em conflito com inimigos que nem sequer podia ver. Eles estavam dentro dela. Ela era seu próprio inimigo.

Ah, menina... Tão ingênua. Pensou que havia, por fim, conquistado sua paz. Estava enganada. Tentou se enganar. Talvez até pudesse esconder seu fracasso em um “tudo bem” aos olhos e ouvidos de outrem, mas jamais poderia escondê-lo de si. De seu espírito.

Agora ela sabia que precisaria enfrentar novamente todos os pensamentos, todos os sentimentos em conflito. E precisava de descanso.

Olhou mais uma vez para aquele céu infinito e suspirou. Num gesto de desânimo, deitou-se na grama úmida. Apoiou a cabeça no braço direito levemente dobrado e repousou o esquerdo junto ao corpo. Fechou os olhos e desejou que aquele vento levasse agosto embora. Adormeceu.

E a densidão da noite envolveu a menina. 

3 comentários:

  1. Lindo.
    Eu ia escrevi um comentário tentando que pudesse descrever minhas experiências sobre esse agosto, sobre todos esses agostos que vivi.
    O escrevi, e depois apaguei, como pode ver...
    Apaguei pois não há nada mais a ser dito, nem complementado. Parabéns Daniela Panela <3

    Que venha setembro.
    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Senti a angústia que agosto lhe traz através de suas leves palavras menina minha. Talvez porque eu esteja enfrentando batalhas interiores também. Estou tentando organizar uma bagunça de pensamentos aqui dentro de mim. Será o karma de agosto? Sempre haverão conflitos dentro de nós, mas alguns nos amedrontaram mais que outros. Espero que setembro venha logo para lhe trazer bons ventos e esperança nova. Espero que tudo se renove querida minha. Espero que tudo fique bem. Cuida-te bela Dani. Beijo grande e abraço apertado. ^-^

    ResponderExcluir
  3. Uau!!! Como não se surpreender com um texto desses! Você conseguiu sintetizar num texto o que eu sinto nesse mês, que é um mês de indefinições, onde você vê os planos e projetos feitos no começo do ano, avalia como o ano tem sido, se desespera por não ter alcançado alguns desses planos (senão todos eles), estuda uma estratégia sobre como fazer ele valer a pena, evoluir, crescer. É angustiante como um mês sem férias, feriado, tempo para se colocar a cabeça e as coisas tudo no lugar. Mas ainda assim é um mês valoroso como todos os outros, um mês com altos e baixos também, um mês que nos faz lembrar que é "agosto" de Deus, ou seja, pela vontade Dele e pelas nossas escolhas e lutas é que estamos aqui, para vencê-lo, para vencermos nossos obstáculos, dificuldades, a fim de que cheguemos todos para o tão esperado "Setembro"!
    Beijos!!!

    ResponderExcluir