quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Parênteses

Lá estava ela outra vez, parada diante de sua vida. Sentia-se uma espectadora e não a personagem principal. Como podia permitir que outras pessoas escrevessem a sua história? A menina é quem deveria escrever a própria história e ser a protagonista de sua trama. Mas ela já não sabia como fazer isso. Talvez não soubesse escolher personagens coadjuvantes capazes de acompanhar sua história. Pode ser. Mas o que fazer se ela mesma não sabia que destino dar a si? Era como se estivesse andando na estrada e, de repente, se deparasse com uma encruzilhada. Como era difícil fazer escolhas. Pensou que talvez sempre fizera as erradas. E só ela sabia o quanto isso lhe custou. Não era fácil corrigir erros. Alguns lhe causaram danos irreparáveis. Tempo? Não. Doce ilusão pensar que o tempo cura tudo. Não cura. Não tudo. Cura quase nada.

Agora a menina precisava decidir seu destino: ou seguia pelo caminho que a levaria adiante, um caminho incerto, desafiador, porém novo. Ou voltava pelo caminho que percorrera até ali, um caminho cheio de sombras, de dúvidas.

Se escolhesse seguir adiante, precisaria arrumar a sua mala. Era preciso jogar fora algumas mágoas, dando lugar a umas peças a mais de coragem e força; deixar pelo caminho ilusões e decepções, para colocar um pouco mais de esperanças e fé; enterrar alguns amores mal resolvidos e... o que deveria colocar na mala para substituir isso? Agora havia um grande espaço na mala. A menina tinha mais coisas para jogar fora do que para colocar em sua bagagem. Talvez ela devesse deixar assim, com bastante espaço para futuras partidas. Nunca se sabe quando teremos que recomeçar. É sempre bom termos reservas de esperança e de força. Mas a menina não conseguia se livrar de algumas lembranças. Parada sob a sombra da árvore perto da encruzilhada, ela sentou. E começou a mexer na caixinha de lembranças que levava na mala. Não havia muitas lembranças recentes. Encontrou lembranças antigas. Algumas muito parecidas com as novas. Havia muitos sorrisos, carinhos, algumas falsas promessas, inúmeros abraços, milhares de palavras, inesquecíveis momentos... Ai. Doeu mexer naquela caixinha. Lembranças doem, né? Não, melhor não mexer nas lembranças ainda. Não sabia quais deveria guardar e quais deixar pelo caminho. Fechou a caixinha e a pôs na mala, ao lado das esperanças, e voltou para a encruzilhada, carregando sua mala e a cruel necessidade de fazer uma escolha.

Os raios do sol pesavam sobre a menina, o que tornava aquele momento de decisão ainda mais difícil. Ah, como ela estava confusa. Precisava seguir um dos caminhos, não poderia mais ficar ali parada. Estava vendo sua vida passar. Não conseguia mais guiá-la. Talvez mais alguns minutos e ela resolveria o que fazer. Ou quem sabe uns dias. Ou semanas? Não. O quanto antes. Estava cansada de se observar. Precisava voltar a ser a protagonista de sua vida. Precisava continuar escrevendo sua história e sair desses parênteses que havia aberto. Precisava colocar uma vírgula e dar um final feliz à sua trama. Não precisava de um coadjuvante e sim de alguém que dividisse com ela o papel principal. Precisava de alguém que a ajudasse a carregar a mala e não que a deixasse mais pesada. Mágoas pesam muito.

E a menina pensou que alguns parênteses são difíceis de serem fechados. 

6 comentários:

  1. Danni, queria comentar direitinho, mas não sei fazer isso... Adorei e me vi sendo essa menina. Tão bom ler pessoas que parecem ter experiências como as minhas, é tipo: não estou só. ^^

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  2. Dani pare de escrever sobre mim, eu não permito mais viu? rs
    Jana Butterfly

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  3. Eu acho sim que precisamos jogar algumas coisas fora para a mala não ficar tão pesada ainda mais com tantos caminhos para escolher.

    Ah, mas existem algumas lembranças e dores que precisam seguir conosco. Elas são parte importante de nós, eu acho.

    Elas nos fazem mais fortes por causa do seu peso.

    Menina, boa sorte com os novos caminhos.

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  4. Sinto que meu parênteses está ausente hà 22 anos =//////

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  5. Dani, tira dessa mala as coisas boas e deixa nela as ruins, fecha com um cadeado e ABANDONE-A naquele armário que só abre com segredos, esses que só você sabe. Aí, depois que fizer isso, segure bem firme, as coisas boas que tirou dela e vá até aquela loja que se chama ESPERANÇA, compre uma mala PEQUENA, e siga seu caminho carregando sua pequena mala com coisas boas... E se durante a caminhada você se deparar com decepções ou desilusões, lembre-se: a mala é pequena, elas não caberão ali. Só aumente o tamanho de sua mala quando encontrar em seu caminho alguém que também carrega uma mala pequena, aí vocês as juntam, e fazem uma bagagem só. :D

    Ah, e a mala que ficará no armário... Tenha uma amnésia e esqueça o segredo do armário! ;D
    Cinthia N. de Lima

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  6. Sério Dani, estou ficando viciada em seus textos. Eu leio imaginando toda história, imaginando cenas igualmente quando estamos lendo um livro.

    Lindo demais!

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