quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Um grito silencioso

Ainda podia sentir as palavras martelando seu coração. Desejava que aquilo tudo tivesse sido apenas um de seus pesadelos. Antes fosse. Agora já não chorava. Mas não porque não queria. Muito pelo contrário. Já não havia mais lágrimas para chorar. Ainda podia ouvir os passos dele se afastando de sua vida. Tinha medo de que não voltasse.

De repente, ela se viu outra vez perdida naquela imensa estrada chamada Vida. Da última vez que se sentira assim, alguém havia soltado sua mão durante o caminho. Na queda, ela se machucou um pouco. Não estava acostumada a sentir aquela dor. Doeu muito. E ela não queria mais sentir. Ergueu a cabeça, tirou um pouco do pó que repousava sobre sua roupa e secou as lágrimas. Num súbito impulso de coragem, levantou. Sabia que teria forças para continuar sua caminhada sozinha. Talvez aquela mão que a conduzia não fosse a mais forte, não fosse a mais carinhosa, a mais amiga. E resolveu que não daria mais a mão a ninguém que pudesse fazer isso com ela outra vez. Não queria mais a dor do abandono, a dor da rejeição. Decidiu que caminharia sozinha até encontrar alguém especial, que segurasse sua mão de um modo doce, carinhoso e confiável.

Depois de muitos passos naquela estrada longa e cheia de curvas, ela avistou alguém. Parecia ser diferente de todas as pessoas que encontrara até ali. Parecia especial. Especial. Sim, era essa a palavra. Ao se aproximar, temeu não ser vista por ele. De fato, não a viu. Passou de novo a sua frente. Depois de um tempo, ele a viu. E ela sentiu que aquela seria a mão que não a soltaria. Soube desde o início que aquele era o alguém que não a deixaria cair naquela estrada outra vez. E se apaixonou por ele. E ele por ela. Ao menos, era o que parecia. Mas ela não queria estar enganada. Não deixaria seu coração enganá-la outra vez. Não queria mais aquela dor terrível.

E deram-se as mãos.

Antes, ela se sentia sem rumo. Andava a esmo pelos caminhos que surgiam a sua frente. E estava bem andando daquele jeito. Mas se sentiu melhor quando segurou na sua mão. Ao que tudo indicava, ele estava na mesma situação. E pareciam bem andando juntos. De mãos dadas.  De repente, eles pararam. Ela aproximou os lábios de seu ouvido e disse, com a voz hesitante:

— Não me solte, por favor.

Fez-se um minuto de silêncio até que ela se afastou, para olhar em seus olhos. O gesto que ele fez com a cabeça apenas confirmava o que seus lábios diziam:

— Eu não vou abrir mão de você. Não vou.

As palavras dele serviam como o chão para ela. Ela confiou. Ela acreditou. Ela queria que fosse assim.

E continuaram a caminhar. Sem vacilos. Sem tropeços.

Quando a estrada parecia ter um rumo certo, definido, eis que o golpe das palavras dele a arremessaram ao chão outra vez.

— Preciso de um tempo para pensar.

As palavras tiraram a expressão do rosto dela, ecoaram em seus ouvidos incrédulos e lhe atingiram em cheio no coração. Doeu. Ela não esperava por isso. Tentava entender. Queria se culpar. Mas ele disse que não seria o fim do caminho. Não importava. Ela amou na proporção errada. Amou mais do que ele a amava. Aliás, ele não a amava. E ela pensando que ele nunca havia dito “eu te amo” porque era especial. Ingênua. Boba.

Enquanto ela tentava pensar, organizar seus pensamentos, ele a puxou para perto de si e a abraçou. Ela não queria seu abraço porque era um abraço de despedida. Deus do céu. Não sabia quando o veria de novo. Não sabia se seus caminhos se cruzariam outra vez. Não sabia se ele iria querer caminhar ao seu lado, de mãos dadas. Com a voz espremida no choro, ela disse baixinho:

— Não faça isso comigo... Não solte a minha mão. Você prometeu...

Estavam frente a frente. Um último olhar. As mãos que antes apertavam, agora a soltavam dedo a dedo, até não restar nenhum contato. Ele a soltou. Ele a soltou! E a menina caiu. Desolada. Desesperada. Confusa. E sentiu que as lágrimas inundavam seu rosto inexpressivo. Ele não a levantou. Caminhou. Enquanto ela ouvia seus passos se afastando, viu que ele olhou para trás. Ficou com esperança de que voltasse e a erguesse dali e segurasse sua mão novamente e caminhasse com ela. Mas nada disso aconteceu.

Ele já estava longe quando ela, numa última tentativa de se levantar, soltou um grito. Um grito tão silencioso que fez doer a sua alma. Doeu muito. E ela não sabia se teria forças para se levantar outra vez. Ela não sabia se queria se levantar outra vez. Ele retirou as palavras que antes eram seu chão: “não vou soltar a sua mão”. Mas soltou.


E ficou perdida novamente naquela estrada. Sem fé. Sem rumo. Sem perspectivas. Sem uma mão para segurar. Apenas ela, suas lágrimas e a dor do abandono. No meio da estrada, apenas teve forças para sentar, abraçar-se aos joelhos e chorar. E chorou. Chorou de soluçar. Chorou até que não houvesse mais lágrimas. Chorou até adormecer. 

Se desse sorte, não acordaria mais para a dor.

7 comentários:

  1. Ain, Dani... chega a doer em mim também, pq eu sei o que é isso... ~abraça forte~

    ResponderExcluir
  2. Lá vem eu ser repetitivo e dizer mais uma vez que achei seu texto belíssimo. Alias, repetitivo num bom jeito, sabe?

    Pois bem, eu adoro a maneira como você escreve, Dani. Você é rasa, simples e objetiva. Não adicionei a sinceridade, porque esta é onipresente e brilhosa.

    Confesso que li esse texto imaginando cenas, cenários, te personificando junto ao drama e até coloquei uma dose de trilhas sonoras e efeitos de ambiente - uma coisa mais fria, mais como uma congelação da alma.

    Me identifiquei com certa parte da história por já ter vivido algo próximo disso. Acho que foi por isso que favoritei esse texto no meu browser e também favoritei na vida. Apenas isso.

    Enfim, quem sou eu para dar conselhos e muito menos servir de livro de auto-ajuda em um comentário no blog, mas desejo-lhe forças. Esse tal de amor, quando quer, passa como um tornado em nossas emoções mesmo. E como todo tornado, ele passa, destrói, tira tudo do lugar, mas passa e dá brechas para construir tudo de novo de uma boa maneira.

    ResponderExcluir
  3. Dani, confesso que conseguiu me tirar algumas lágrimas com esse texto. Lindo demais, sou sua fã.

    ResponderExcluir
  4. Talvez sirva como um modo de expressar os sentimentos, e você o faz tão bem, que chega a doer em mim.
    Que tudo isso passe e eu sei que irá passar, e que isso sirva para você como uma força para se levantar e seguir em frete!
    Dani, você escreve muito bem, meus parabéns!

    ResponderExcluir
  5. Dizer que você escreve bem não é nenhuma novidade. O que me encanta em você Dani, é a sua capacidade de transportar os sentimentos para o papel (ou world, como preferir rs'). Ao ler seus textos entro no seu mundo e sinto o que você sente. Impossível não se comover. Impossível não sentir o que você sente. Encontrei na escrita a minha liberdade, o meu porto, meu ponto de paz. Você conseguiu mais que isso, você conseguiu fazer da escrita o seu refúgio transformou-a em arte, a SUA arte.
    Reverências a você Dani e uma salva de palmas. ;*

    ResponderExcluir