Vi
pelo espelho do canto do meu quarto quando você foi embora. Não tive coragem de
te olhar de frente. Você me deu as costas também, lembra? Doeu ver você se
virando e saindo pela porta da frente e deixando para trás nossos planos,
nossos sonhos, eu.
Eu
vi pelo espelho quando você se afastou de mim. Por um momento, vi o seu rosto
junto ao meu novamente. Lembra de quando eu me olhava no espelho e você se
aproximava e me abraçava e me dizia o quanto eu estava linda e como nossos
olhos sorriam e como nossos lábios se tocavam e do quanto nos amávamos? Mas,
dessa vez, apesar de nossos rostos estarem dividindo o mesmo espelho, você
estava distante de mim. Você tinha olhos de adeus, meus olhos eram de saudade.
Seus lábios não foram capazes de dizer o que eu tanto queria ouvir. Nosso amor
emudeceu e agora a saudade fala mais alto. O seu
“adeus” ainda ecoa na casa meio vazia, o seu silêncio ainda ecoa nos meus
ouvidos, você ainda ecoa dentro de mim. Você foi embora, mas nunca saiu daqui.
Você
disse adeus como se os seus lábios nunca tivessem ficado presos nos meus.
Você
me olhou como se nossos olhos nunca tivessem ficado presos no mesmo olhar.
Você
se afastou como se nossos corpos nunca tivessem ficado presos no mesmo suor.
Você
me deixou como se nunca tivesse desejado ficar comigo.
Vi,
mesmo sem olhar, você indo embora. Senti, mesmo sem tocar, seu rosto pela
última vez. Disse, mesmo sem falar, “adeus”.
Encostei-me
na parede quando você fechou a porta, não suportei tanto pesar. Olhei-me de
perto no espelho e uma lágrima tocou sua superfície, aprisionando nele as lembranças
de nós dois.