O
silêncio que se instaurara nela era perturbador. Ninguém sabia ao certo como
ela se sentia. Ela não sabia como se sentia. Era tudo tão estranho. Ela estava
fria. Por dentro e por fora. Seus sentimentos... Que sentimentos? Ela não
conseguia gostar. Ela não sabia ao certo o que sentia. Mas sabia que aquilo não
era bom. Logo ela, que sempre se apegava tão facilmente às pessoas... Como pôde
ficar assim, tão insensível?
Pobre
menina. Pobre de seu coração. Talvez fosse melhor assim, aquietá-lo,
preservá-lo, impermeabilizá-lo. Deixá-lo insensível à insensibilidade de
algumas pessoas. Pelo menos por enquanto. Por enquanto, quanto? Por enquanto...
—
Menina, minha menina. Senta-te. Mais perto. Quero olhar em teus olhos. Sentes dor,
eu sei. Machucaram teu coração. Feriram teus sentimentos. Atingiram tua alma. Sentes
dor, eu sei. Uma dor pungente. Mas não a demonstras. Ah, menina. Minha doce
menina. Por que te afliges tanto assim? Já te disse que as dores passam. Sim,
elas passam. Estás confusa, eu sei. Tranquiliza-te. Entrega tua alma ao tempo. Deixes
que ele a cure. Deixes que ele cuide, também, de teu coração. Disseste-me
outrora que ficarias bem. Onde perdeste o brilho de teu olhar? Não chores,
pequena. Aquieta-te. Ameniza-te. Seja compassiva. Seja afável contigo. E deixes
que eu cuido de ti, minha menina.
—
Ameniza-me. Abranda-me. Cuida-me. Não consigo sozinha, não tenho forças. Sim,
estou confusa. Sim, eu sinto dor. Preciso chorar... Suaviza-me! Absorva-me e
sinta minha dor. Acalenta-me. Restaura-me. Liberta-me! Ajuda-me, ajuda-me... Dá-me
colo. E me deixa chorar. Cuida-me. Cuida-me. Cuida-me...
—
Psssssshhhhh adormece, menina. Adormece... E esquece.
Ela
teve tudo de que precisava: um abraço. E adormeceu.