Era
impossível olhar nos olhos da menina. Difícil encontrar um olhar tão perdido.
Triste encarar a escuridão de olhos que antes brilhavam tanto. Doía vê-los
banhados em lágrimas de um choro contido. Lágrimas que se incorporaram a eles,
tantas as vezes que foram impedidas de escorrer. Elas precisavam sair. Estavam
sufocando a alma da menina. Acho que afogaram seu coração. Sentia-o tão frio,
triste, apertado, tão sombrio. E isso a amedrontava. Já não era como antes. Já não
sentia como antes. E isso se refletia em seu olhar.
Um
olhar tão vazio quanto seus sentimentos.
Um
olhar tão perdido quanto ela.
— Seja amena, menina. Tenha calma. Tenha paz,
pequena, que as tuas dores serão amenizadas. Seja suave, menina. Encontra-te em
teu olhar. Não te percas em teus sentimentos. Encontra-te em ti. Resgata-te. Cura-te!
Que as dores passam. Ah, sim, elas passam. Seja doce, menina. Não deixes que a
amargura de tuas mágoas cheguem ao teu coração. Abranda-te. Ameniza-te, pois
tuas dores serão aplacadas. Aquieta o teu coração e adormece. Esquece. Recomece. Pois tuas quedas serão
amortecidas por tuas esperanças. E a luz de um novo dia lhe dará o brilho de
que necessitas para encarar-te em teus olhos novamente. Deixes que te encontrem,
também, em teu olhar. Teus olhos são o espelho de tua alma. E as lágrimas
impedem que te vejam como realmente és. E sei que és doce, menina. Sei que és
amena, menina. Sei que és tudo, menina, mas não permitas que te transformes em
nada. Tira esse nada de ti. Seja leve, menina. E seja menina, menina.