sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Uma nova música



Seus pés agora tocavam a parede no ponto mais alto que as pernas permitiam alcançar. Um braço estendia-se junto ao corpo, que repousava sobre a superfície fria e apática do piso. O outro braço fazia uma suave curva e pendia sobre a cabeça, denunciando o cansaço e a calma dela. Os cabelos negros e compridos desenhavam-se pelo chão do quarto, contrastando com a brancura do piso e da menina. Seu corpo quente se arrepiava ao toque frio. Oposição perfeita. Quente e frio. Assim era a menina: quente por fora, fria por dentro. Com uma das mãos, ela acompanhava o ritmo da música que embalava aquele momento de calmaria. Dedilhando seu corpo, podia sentir a melodia enquanto a música mergulhava no vazio que agora tomava conta de seus pensamentos. “Este poderia ser o fim”, diz a letra da música. “Sim. Talvez seja mesmo o fim...”— concluiu a menina — “mas para cada fim, há um recomeço”.

E ela estava certa. Afinal, a vida é feita de finais e recomeços, não é mesmo? O final de um dia, o começo de outro mais bonito, quem sabe. O final de um livro, o começo de outro mais interessante, talvez. O final de uma amizade, o começo de outra mais leal, provavelmente. O final de um amor, o começo de outro. Apenas outro. Sem expectativas de ser mais intenso, mais bonito, mais duradouro, mais fiel ou simplesmente verdadeiro. Apenas mais um amor. Correspondido, de preferência. “Este poderia ser o fim”, repetia a canção. De fato, poderia ser o fim daquele sentimento que ela julgava ser amor. Agora não estava tão certa disso. Talvez fosse melhor assim. O amor não deveria doer como estava doendo. Então ela pensou que talvez não fosse amor. Talvez não fosse.

Os olhos tranquilamente fechados abriam uma janela, através da qual podia ver a si mesma. A menina se debruçou nessa janela e ficou observando todos os finais e recomeços de sua vida passando diante de seus olhos. E ela percebeu que, embora estivesse vivendo outro fim, ela poderia recomeçar. Ela sabia recomeçar. Era forte o suficiente para fazer desse fim um novo começo. E sorriu. Suspirou extasiada e despertou daquela contemplação interior. “Este poderia ser o fim”, insistiam a menina e a canção.

Abriu os olhos e sentiu o ritmo da música diminuir. Estava chegando ao fim. Mas a menina sabia que começaria uma nova música. Viu? Finais e começos. Era sempre assim. Esse seria apenas mais um. E ela decidiu que sua divagação duraria exatamente o tempo da música. A menina se preparou para mergulhar em outro devaneio com o começo de uma nova canção. Ajeitou o cabelo, enrolando-o com o dedo, respirou fundo e fechou os olhos outra vez. 

Estava pronta para imergir em si novamente, estava pronta para uma nova música. Estava pronta para um novo começo. 


E a menina pensou que todo fim é a chance de um recomeço.


(Música: "The end" - Kings of Leon)

5 comentários:

  1. Juro que senti um vontade súbita e imensa de te dar um abraço agora, Dani. Dessa vez não vou nem fazer comentários elaborados porque fiquei sem palavras hahaha.

    Tá de parabéns, e não é só pelo texto =]

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  2. essa foi para o moço né??? coisa mais linda essa menina. Menina por fora, e mulher bem resolvida e mais linda por dentro. Sou Fã.

    Ps. moço você está bobeando rs

    Janayna Cardoso

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  3. Dani, está de parabéns pelo seu texto, isso encaixa-se não apenas para "a menina em questão", mas sim para qualquer pessoa que acabou de sair de um relacionamento, e ainda está naquela fase de tentar aceitar as coisas!
    Não sei como eu vim parar no seu blog, mas tenha certeza de que virei seu fã!

    PS. Se for um caso especial, manda esse moço ai pastar e casa comigo? rsrs

    Edilson Moura

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  4. menina, que texto lindo.

    mas acho que se não dói, não é amor.

    porque o amor dói mesmo quando é bom.

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  5. acho que a junção da música com tuas palavras soou perfeita. essa música é demais...
    pensar que todo fim é um recomeço é o que mais me conforta quando acho a vida pesada demais pra ser suportada.
    vamos em frente.
    Um beijo!

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