sábado, 24 de dezembro de 2011

Na beira da estrada — parte 3

De sobressalto, despertou de um sono agitado. Ele havia visitado-a em seus sonhos. Ele estava bem, estava feliz. Disse a ela que havia resolvido as suas dúvidas e que, por fim, ficariam juntos. O sorriso dele ainda iluminava o olhar da menina. Mas foi tudo um sonho. Ela abriu os olhos, sentou-se e encarou outra vez aquela cruel realidade. Sentiu uma saudade imensa do abraço, do cheiro, da voz dele. Sentiu saudade de olhar nos olhos dele. Sentiu saudade dele. Deus do céu. Como doía aquela angústia. Como apertava seu coração. Como desejava não ter acordado naquela manhã. Como desejava jamais ter vivido aquilo tudo.

Já era o terceiro dia que se arrastava no calendário de sua angústia. Já era o terceiro dia que ele havia soltado sua mão e a abandonado à beira daquela estrada que agora revelava a existência de fantasmas assustadores que faziam a menina tremer. Tinha medo do que sentia. Tinha medo das coisas que pensava. Ela tremia de medo. Tremia de dor.

Seu corpo estava debilitado pela falta de comida. Não comia não porque não queria ou para aparentar fragilidade. Não comia porque sua garganta apertava toda vez que lembrava dele, toda vez que pensava nele. Toda vez que ouvia suas palavras ecoando em seus ouvidos e trazendo de volta aquela dor  lancinante do “eu não te amo”. Como doía lembrar disso. Ela não era uma menina frágil. Não havia necessidade de se mostrar assim agora. Sempre enfrentou de frente os desafios que a vida lhe impôs. E os venceu de cabeça erguida. Com alguns arranhões, mas venceu. Agora, estava cabisbaixa. Sequer tinha ânimo para falar. Mas a dor física não superava a dor que carregava em sua alma e em seu coração. E ela pensava nele o tempo todo. O tempo todo.

Seu desejo era de se levantar daquela estrada sombria e ir ao encontro daquele que um dia disse que ela era a menina de sua vida. Deus do céu. Ou então ele não se lembrava mais de tudo o que dissera a ela? Ou fingia que havia esquecido para não encará-la mais, para não vê-la mais? Afinal de contas, o que ele tinha? O que se passava em seu coração? Dúvidas? E quem não as tem? E então ele não sabia que o amor, esse sentimento tão banalizado, não é algo que surge de um momento para outro? Será que ele não percebia que sua decisão estava precipitada? Por que não dava a ela uma chance de lhe mostrar que poderia sim fazê-lo feliz? Por que não dava à menina uma chance de conquistá-lo por inteiro? Será que ele tinha medo? Medo? Medo de quê? Ela não tinha medo de se entregar completamente a ele. Ela o amava. Deus do céu, como ela o amava. Ela queria olhar em seus olhos, segurar em seus braços e fazer todas essas perguntas e dizer o quanto sentia a sua falta e abraçá-lo e pedir para que ele segurasse novamente a sua mão e que não a deixasse ali sozinha e curasse a ferida que causara em seu pequeno coração e preenchesse aquele vazio que sentia na alma e... Mas ela não podia fazer isso. Havia prometido naquela tarde em que ele se afastou que daria o tempo de que ele precisava. Ela só queria entender. Por quê? Por quê.  

A essa altura, ela já conseguia pensar. Chorar? Quase não chorava mais. Talvez ele não merecesse todas aquelas lágrimas. Ela não queria mais chorar em vão. Passou dois dias chorando. A propósito, mesmo que quisesse, não conseguia mais chorar. Seus olhos estavam secos e doloridos. Sua aparência, que nunca fora das melhores, agora estava numa situação desesperadora. Sorrir? Nem que tentasse. A dor em seu coração a impedia de mover os lábios até para desenhar um simples sorriso. Justamente ela, que vivia sorrindo. Ela gostava de sorrir, mas não conseguia. Ela queria sorrir de novo.

Tudo de que ela precisava era uma resposta. Apenas uma resposta. Oras, se ele não a quisesse mais, que dissesse de uma vez. A agonia da espera era o que mais maltratava a menina. Ela nunca soube lidar com esperas, com expectativas. Sofria demais com isso. Se tivesse abandonado-a ali de uma vez, sem ter jogado as migalhas da esperança, talvez ela não estivesse tão mal. Talvez ela já tivesse dado um jeito de arrancá-lo de seu coração e de seu pensamento. Mas... o que faria com tudo o que sentia por ele? Jogaria no lixo? É. Talvez fizesse a mesma coisa que ele estava fazendo com os sentimentos dela. E ela pensou que o amor é ruim. Amar tinha um gosto ruim. Amar tinha gosto de nó na garganta. Não queria mais esse sentimento que fazia tão mal a ela. Por que tinha que ser assim, por quê? Respostas. Era tudo o que ela queria. Mas não as tinha.

No fundo, não importava se ele tinha se afastado. Ela sabia que tinha dado motivos suficientes para que ele voltasse. Se não voltasse, talvez não a merecesse. Mas ela queria que ele voltasse. Ah, como ela queria ter de volta todos aqueles momentos, todas aquelas palavras, todos aqueles carinhos... Espera. Sentiu um gosto ruim na boca. Essa não. As lágrimas voltaram a transbordar de seus olhos, molhando seu rosto e seus lábios secos.

E a menina pensou que as lágrimas têm um gosto ruim. 

Um comentário:

  1. Dei afeto e carinho, como retribuição procuraste um outro ninho, em desalinho ficou meu coração, meu peito agora é só paixão...
    Tamanha desilusão me deste ó flor, me enganei redondamente pensando em te fazer o bem eu me apaixonei foi meu mal...
    E agora, uma enorme paixão me devora, a alegria partiu foi embora não sei viver sem teu amor, sozinho curto a minha dor
    Música pra menina Dani,
    Coração em Desalinho

    ResponderExcluir