sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Na beira da estrada - parte 2

A estrada parecia mais deserta do que nunca. Há dias que não chovia e o calor irritava seus olhos. Seus olhos estavam secos. 
Sem chuva, sem lágrimas.

Já era o segundo dia que ela estava sentada ali, à beira de um abismo que se abria mais a cada vez que ela pensava em seu futuro. Ela não sabia mais o que pensar, o que esperar. Se sentia impotente, inútil, fracassada, arrasada. Estava cansada. Tudo dependia dele. O destino da menina estava nas palavras dele, na decisão daquele que um dia lhe dissera que a adorava. O que aconteceu com as palavras de carinho, com as promessas de felicidade que ele lhe fizera? O quê? Impossível que haviam se perdido e se desmanchado no ar. Não. Ela não podia acreditar nisso. E se perguntava o que tinha feito de errado. O tempo todo. Mas não encontrava as respostas. Talvez porque não houvesse respostas.

Abaixou a cabeça e tentou raciocinar. Mas a fraqueza que dominava seu corpo era forte demais para permitir um raciocínio lógico. Ela precisava de ajuda. Sabia que não conseguiria se levantar sozinha daquela estrada que agora a assustava. Precisava de ajuda, mas não queria. No fundo, tudo o que desejava era ficar ali, esperando que o tempo e a dor a destruíssem, assim como haviam feito com suas esperanças. Assim como alguém havia feito com seus sentimentos. Da mesma forma como estavam suas ilusões. Tudo destruído. Sentia um vazio imenso por dentro. Talvez fosse a fome. Talvez fosse o seu coração machucado. Talvez fosse sua alma.

Naquele momento de sanidade, quando as lágrimas por fim deram uma trégua, ela pensou em tudo o que havia acontecido desde que segurara a mão dele. Lembrou-se de todas as palavras, de todos os carinhos. Lembrou-se de todos os momentos em que pensou o quanto estava feliz por ter encontrado alguém tão especial, que a fizera mudar a forma de ver o mundo. Ela tinha sorte por tê-lo encontrado. Maldita sorte. "Te adoro muito e a cada dia mais", disse ele certa vez. Risos. Isso não podia simplesmente ter esvaído de sua boca. Ela sentia que era verdadeiro. Ou pensou que fosse. Mas tinha de ser verdadeiro. Palavras não se desmancham assim no ar. Não as palavras verdadeiras. Ele não podia ter se esquecido disso. Não podia.

Na dualidade entre a tristeza e a revolta, ela encontrou força para pedir a Deus que conduzisse os pensamentos dele e o fizesse ver que estava sendo precipitado em sua decisão.

A menina não queria mais uma dor de abandono. Ela não suportaria mais essa dor. Ela só queria uma chance de mostrar que poderia sim fazê-lo feliz. Ela queria fazê-lo feliz. 
Porque a felicidade dele era a sua felicidade.

Ela queria ser a escolha e não apenas mais uma tentativa na vida de alguém.

Molhou os lábios. E percebeu que a ilusão tem gosto de lágrimas. 

3 comentários:

  1. Dani, trecho da prosa EU:jovsenil.blogspot.com

    "Preciso só de pouco, não sou exigente,
    Mas para você é muito,
    E talvez tenha razão,
    O mundo tem padrões e deve ser sensato,
    Exceto quando o coração aperta,
    Assume-se o risco e o errado vira o certo,
    O problema não existe e a solução vem antes.
    Não é tão complicado, é simples,
    Que de mim não depende totalmente,
    É amar e ser amado..."
    **
    Não ter os sentimentos na mesma frequencia faz-nos incapazes, mas com a experiência aprimoramos a nossa capacidade de amar.
    Fica de boa que vc é linda e jovem

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  2. Me vi nestas palavras...

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  3. "Ela queria ser a escolha e não apenas mais uma tentativa na vida de alguém."

    Eu ainda vou ler um livro seu DaniLinda (:

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