O relógio na
parede atrás do balcão marcava seis da tarde. Parecia um dia interminável. Ele estava
atrasado. O relógio também, conferia ela. “Café das cinco”. Era como um ritual
de todas as sextas-feiras. Ela já havia pedido os dois cafés, como de costume. “Um
com adoçante e outro com três colheres de açúcar, por favor”. Ela conhecia bem
seus gostos, já estava habituada às suas manias.
Lembrou-se de
quando tomaram café pela primeira vez, uma casualidade. Desde então, ele nunca
havia se atrasado. Mas ela sabia que naquele dia, talvez, ele não aparecesse. O primeiro
gole dos dois era sempre simultâneo. Era como um ritual. Conversas, toques, risos. Saudade.
Sete horas e a
cadeira à sua frente continuava vazia. Finalmente havia terminado aquela tarde
quente de inverno. O barzinho começava a se encher. “Posso ocupar esta cadeira?”
– alguém perguntava – “Ela está reservada”. E os cafés esfriavam sob seu olhar
angustiado. Um olhar que parecia estar deslocado da linearidade do tempo e fixo
em um ponto perdido do passado. Ela havia aberto parênteses no tempo. Vozes,
risos, silêncios. Memórias.
Um olhar encontrou-se
com o dela naquele vazio temporal. Aquele mesmo olhar. Já fazia
um ano. “Há quanto tempo” - a mesma voz rouca. “Pois é”. “Pediu meu café”. “Pedi, como sempre”. “Obrigado. O café está frio” – tocou na xícara. “Saudade”. “Estou atrasado”. Eles haviam
se encontrado pela data, mas ninguém tocou no assunto. Ela suspirou enquanto
observava aquele andar apressado sumir no meio da multidão. Ele amargou seu
café com as lembranças e deixou aqueles parênteses abertos no tempo. Saiu sem preencher o espaço vazio da cadeira. Eram muitos vazios a serem preenchidos, na verdade. Tomou,
enfim, um gole de cada xícara. Dois cafés, goles dessincronizados. “Alguns parênteses
são mesmo difíceis de serem fechados” – pensou enquanto bebia.
Bastou o
primeiro gole para ela perceber que café frio tem gosto de solidão.